domingo, 9 de junho de 2013

IN - Sight

Insight é um termo psicanalítico pouco preciso, que significa um momento em que as coisas ficam claras e amplas. O que parecia obscuro fica por algum tempo nítido e a sensação é de alívio e clareza. Em tradução livre, Insight pode tanto ser uma Visão Interna como uma Introvisão. Pode parecer que trata-se da mesma coisa, mas não é o caso. Uma Visão Interna é a percepção de um funcionamento, uma dor, uma lembrança que estava lá, escondida sob o manto de nossas certezas: a moça que se julgava uma injustiçada, que faz tudo certo para construir a relação e é sistematicamente abandonada pelos candidatos a Príncipe Encantado. Um belo dia, meio da sessão, momento despretensioso, percebe em seu comportamento o software psíquico de sua mãe, num programa que eu chamaria de “Os Homens Não Prestam”. Tudo o que ela faz de bom, todo amor e toda dedicação terminam sempre na constatação, mais uma vez, de que “Os homens são assim, mesmo”. Cientificamente ela acumula evidências que comprovam a sua tese, e não faltam, nunca, evidências para nossas certezas neuróticas. Um Insight pode mostrar, com clareza, o quanto que esse software Inconsciente contribui para um padrão negativo de sentimentos com os Quase Príncipes. Isso contribui para a péssima seleção de candidatos e para repelir inconscientemente quem se aproxima.
Um Insight que seja uma Visão Interna vai permitir a percepção dessa animosidade inconsciente que afasta, num passe de mágica, todos os pretendentes. Uma boa psicoterapia é composta de uma longa coleção de micro visões para construir uma imagem mais ampla e completa de si e de suas instâncias neuróticas. Mas há um longo caminho para se chegar na Introvisão.
Acabei de ler em um pequeno manual de Alquimia uma ideia que de um jeito ou outro é muito repisada nos posts desse blog: o homem moderno, com a Psique ancorada no Ego, vive uma sensação quase permanente de insegurança. Essa insegurança se manifesta com um apego compulsivo às coisas relacionadas à Matéria: ter dinheiro, ter saúde, beleza, longevidade, essas coisas que somos os únicos bichos de Reino Animal que sabemos que vai acabar, se desvanecer, não importa aonde chegar a tecnologia. O domínio da matéria e da vida tem sido o grande babado de nossa civilização herdeira do Dr Frankenstein, obra de Mary Shelley que anteviu a busca desesperada em domar a Técnica e a Morte. Nossos laboratórios de Biologia Molecular, a Nanotecnologia, a busca do Bóson de Higss, todos esses bilhões de dólares investidos são no sentido de compreender e manipular a matéria e a energia que, desde Einstein, sabemos que são a mesma coisa. O Homem Moderno pensa que pode domar a Morte e Velhice, outra fonte permanente de angústia. Não pode, mas vai continuar tentando. Ao contrário da Introvisão, a procura é de uma Visão do que está fora, uma Exovisão. Logo teremos os pequenos óculos de Realidade Aumentada para enxergarmos cada vez mais o que está fora, muitas vezes em detrimento do que está dentro.
Um Insight que se torne uma Introvisão é a percepção do outro a partir de nosso mundo interno. Como seria construir um óculos de Introvisão? Para a moça que não cansa de constatar que os homens modernos são egoístas, covardes e meio deficientes de Testosterona, quem sabe ela poderia ter uma visão profunda das suas próprias deficiências, o que é melhor que depositá-las no Outro. Talvez essa Introvisão permitisse alguma compaixão, pelo homem egoísta e pela mulher carente. Introvisão é visão de si e do outro, com a mesma compaixão. Não adianta morrer de entender a demanda do Outro sem cuidar muito, muito bem, de nossas próprias demandas. Não é fácil juntar essa dupla, tão pósmoderna, de opostos. Isso demanda tempo, limpeza interna e entendimento, todas coisas meio fora de moda nesses tempos apressados. Queremos amores expressos, fortunas instantâneas e alívio imediato das dores que continuam a doer, não importa quantos aplicativos de busca da felicidade existam em nossos smartphones.

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