domingo, 23 de junho de 2013

Flash Mob

Nas longas horas que ficamos no trânsito aqui de São Paulo temos a oportunidade de ouvir muito rádio. Muita coisa ruim e muita coisa boa, se soubermos garimpar. Outro dia ouvi uma coisa boa, uma entrevista de Frei Beto na CBN. Entre outras coisas, ele lembrou que na década de 70, quando ele viveu seu sonho de juventude, havia uma farta oferta de drogas e uma juventude ávida em consumi-la, mas a Utopia libertava sua geração de se afundar, como hoje, no consumo regular e alienante de todo tipo de droga. Onde falta a Utopia, sobra o desespero. Querer salvar o Mundo, o Amor ou a conta bancária pode dar um sentido, um vetor para o sujeito diante do Devir. Falar em utopia hoje é resvalar no desespero, no vazio e na descrença pura e simples diante de tudo o que está aí. Quem leu o meu último post deve achar que estou muito feliz e esperançado com todas essas manifestações de rua que atravessam o país e, espero, devem perder força nessa semana. A minha leitura mais azeda do movimento é que se trata de um gigantesco Flash Mob. Flash Mob, para quem não sabe, são intervenções de grupos organizados nas Redes Sociais que produzem uma dança, uma cena, um pequeno joke urbano por alguns segundos, para depois cada um retomar a sua rotina no ciclo eterno de Nascer-Viver-Consumir-Morrer que vivemos no dia a dia. O Flash Mob pode reunir um grupo de fãs do Pica Pau para reproduzirem uma cena famosa desse desenho. Pode ser uma intervenção dessas, meio Sem Noção e meio Nonsense, que produz uma micro intervenção de uma tribo na paisagem urbana para depois, quase que imediatamente, retomar seu anonimato.
As passeatas como um Flash Mob gigante é a canalização de um sentimento coletivo de impotência e angústia diante dos descalabros e pataquadas que não cansam de serem produzidas por Executivo, Legislativo e Judiciário, não necessariamente nessa ordem. Uma republiqueta com Psique feudal e oito milhões de quilômetros quadrados de disputas por fronteiras, mamatas e propinas. As pessoas tomaram as ruas para mostrarem que sabem gritar. Alguns aproveitaram para depredação, manifestos políticos a apolíticos e antipolíticos com um discreto mas consistente ranço autoritário. Desqualificar todo o processo político é uma forma consistente de introduzir o Autoritarismo e o Totalitarismo, sempre com a premissa perigosa que “nós somos melhores do que eles”. Essa pressuposição é o estopim de guerras e perseguições de todos os tipos.
O que um junguiano não pode ignorar é a sensação clara da decadência, ou mutação profunda das imagens e funções paternas em nosso Ocidente e nossa Cultura. Esses agrupamentos e desagrupamentos instantâneos que são produzidos nas Redes Sociais permitem a essa legião de jovens que não acreditam em mais nada, se agruparem e saírem pelas ruas depredando placas e lixeiras, gritando contra autoridades e ordens de poder que eles pouco ou nada compreendem, mas que desqualificam pela ausência de uma força organizadora, aglutinadora que surgem nas lideranças. O Puer aeternus, a eterna juventude se manifesta nesse Flash Mob da Terra do Nunca, onde todos são adolescentes que não tem pressa nem vocação para crescer. Antes dizíamos da decadência do arquétipo do Pai. Hoje podemos falar na decadência do arquétipo do Herói, aquele que pega o cajado e conduz a massa faminta. O grupo dos Peter Pans pósmodernos não acreditam em ninguém com mais de vinte anos, não acreditam em nenhuma boa intenção e, pior, não fazem a mínima ideia do que fazer com esse gigantesco megafone que são as passeatas e as Redes Sociais. Como diria frei Beto, eles carecem de Utopia. Ou estão lambuzados de tantas Utopias que não sabem como agrupá-las e o que priorizar antes.
Pois é. Meninos, votem no tiozão aqui. Vamos colocar um pouco de Método nesse berreiro. Precisamos das linhas orientadoras do Pai para encontrarmos o caminho. Gritar é bom, ser ouvido é melhor ainda.

2 comentários:

  1. Vc deveria atuar mais no Facebook, expor idéias, longe da sua página de psiquiatria...

    Voto em vc !


    Edison

    ResponderExcluir
  2. Que tal fazer real a possibilidade que comentou semanas atrás: de que nos encontramos em momentos e posições diferentes. Concordo com isso. Gosto de ambas as coisas, e dá pra administrar o tempo nesta gangorra do sozinho e em conjunto. Acho, apesar dos possíveis atritos que podem fazer parte que é interessante continuar a experimentar um maior contato com pessoas fora do setting terapêutico. Ainda corroboro com o que intuitivamente conhecemos como "Chamado", seja como participação pessoal ou mesmo em redes sociais.
    Bj

    ResponderExcluir