sexta-feira, 21 de junho de 2013

Um Filho Teu Não Foge À Luta

Há muitas décadas que eu sou leitor de jornais, aquela coisa que suja as nossas mãos de tinta e que tende a desaparecer, inexoravelmente, como as máquinas de escrever e os discos de vinil. Os sociólogos sempre anunciavam um país, o Brasil, às portas de uma convulsão social. Com as suas diferenças sociais, as hordas de excluídos tomariam as ruas e decapitariam as Marias Antonietas do Congresso e Palácio do Planalto. O país cresceu e continuou injusto, as hordas de miseráveis foram compradas e condenadas à miséria perene pelo Bolsa Família. Nos dez anos de PT no poder, os ricos ficaram mais ricos, os pobres passaram a comprar iogurte e bolachas recheadas, em vez das de maizena. A classe média pode se fartar de compras em Miami, em tempos de Real valorizado. Parecia a fórmula perfeita: altos ganhos para especuladores, duzentos mil “companheiros” e pelegos em geral aboletados na máquina no Estado, economia aquecida à custa de setores produtivos e ainda competitivos em tempos de dólar barato, a classe C e D visitando os aeroportos para viajar, não para ver aviões subindo e descendo. Não haveria a tal convulsão social. O paraíso do consumo nos libertaria de todas as angústias e pruridos de cidadania.
O preço da festança logo começou a se delinear: mensaleiros, dólares na cueca, sucateamento da indústria, paralisia das obras de infraestrutura, tudo era estampado nos jornais e nas mídias, diante do riso sardônico dos “companheiros”, que já haviam comprado a todos, então, como disse um deputado, estou cagando para a Opinião Pública. Os votos estão comprados, as eleições e as reeleições estão garantidas, quem se preocupa com o grupo da população que ainda lê jornais e ainda exercita alguma indignação? Dilma ainda ensaiou uma pretensa “faxina” no começo de seu governo tentando acenar para a Classe Média (tão obsoleta como nossas velhas Olivettis e vitrolas) que haveria algum controle da gigantesca putaria que desfilava diante de nossos olhos cansados. Que nada. Algumas figuras burlescas demitidas e a gigantesca avacalhação continua sólida, implacável, fazendo estádios com preços exorbitantes e materiais de segunda.
O movimento que agora toma as ruas de todo país não é da horda de miseráveis e famintos, como um dia pregaram os sociólogos. Os petistas foram expulsos da passeata de ontem, numa mais do que doce ironia. Os políticos continuam perplexos, balbuciando coisas como “as pessoas precisam ir trabalhar”; “Vou abrir as planilhas para explicar o aumento de 20 centavos”; “O que vocês querem, afinal, meu Deus?”. Quem está na rua está dizendo que sabemos, sim, o que está acontecendo. As ruas não estão sendo ocupadas para reduzir as tarifas, criar um novo partido político ou fazer uma pauta grevista. As pessoas estão nas ruas para dizerem que estão vendo o que está acontecendo e que podem desestabilizar o conluio perfeito de Direita e Pseudoesquerda que negam às pessoas o direito ainda mais importante do que a Liberdade, que é um respeito mínimo pela nossa inteligência. Não há uma pauta definida, não há um método de enunciação ou reivindicação. As pessoas só sabem de uma coisa: estão todas de saco cheio dos descalabros e das manipulações obscenas. Elas aprenderam a gritar. Pode ser que a maioria silenciosa e faminta continue votando nos currais do Bolsa Família. Mas a Classe Média passa a ser definida não pelo saldo bancário, mas pela capacidade de pensar e criticar. Existe um pouco de vida inteligente no país gritando, chega, meu Deus, chega. Um grupo ainda pensante. Pensante e gritante.

3 comentários:

  1. Excelente análise!
    Faço minha as suas palavras!
    Um grande beijo,
    Lúcia Anddrade

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  2. E ainda por cima de gente classe media jovem com todos os hormonios e neuronios para pensar, gritar ,falar , e influenciar !!!

    Madalena

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