Quando Carl Jung rompeu com Freud, sua vida toda virou de ponta cabeça. Ele já havia se desligado da Psiquiatria Suiça, na medida em que optou por acreditar e aplicar o método psicanalítico que se estabelecia na época. Havia, dentro do Inconsciente dos doentes mentais, tensões psíquicas intoleráveis que acabavam se manifestando como sintomas e sofrimento. A Psiquiatria estava, e ainda está, procurando organizar um corpo de saber sobre as doenças mentais e entendê-las, saber como se comportam e qual a melhor forma de tratá-las. A Psicanálise e as posteriores Psicologias do Inconsciente foram rejeitadas para o entendimento das doenças mentais. Jung tomou o partido de Freud. Depois de alguns anos, as diferenças entre os dois também foram se tornando insuportáveis, até o rompimento doloroso e definitivo. Como eu falava no início desse post, esse rompimento foi devastador para Jung. Da noite para o dia ele passou a ser um proscrito pelos seus colegas médicos E por seus colegas psicoterapeutas. Passou a viver numa espécie de limbo, onde, a partir dali, teria que prosseguir inteiramente só. Não é à toa que nessa época Jung tenha ficado tão impressionado e amedrontado, com a trajetória de Nietzche, que também tentou mudar o rumo da Mente Ocidental, também sofreu tensões e dores psíquicas insuportáveis e acabou sucumbindo, após anos de solidão, terminando os seus dias num asilo para doentes mentais.
Jung foi reconstruindo a sua saúde mental e a sua carreira nesse período entre as Guerras Mundiais, mas ainda não tinha encontrado um jeito de entender mais profundamente a própria alma e a Psique Humana. Encontrou nos escritos medievais dos alquimistas os insights que lhe faltavam e, mais do que tudo, a sensação de estar remando na direção certa. Mesmo os seus colaboradores mais íntimos acharam que aquele estudo da Alquimia iria jogar no lixo a pouca credibilidade que lhe restava. Felizmente, Jung ignorou esses conselhos e seguiu a própria intuição, legando ao mundo uma obra gigantesca e ainda mal assimilada.
Outro dia eu estava praticando meu esporte favorito na TV, que é ficar zapeando, quando dei com o filme “O Perfume: A História de um Assassino”. Não é uma delícia quando o título em Português entrega todo o filme, tipo “Apolo XIII: do Desastre ao Triunfo”. Obrigado por entregar o final, pessoal. O “Perfume” é a história de uma Obra Alquímica, ou do desenvolvimento do Quarto Cérebro, se preferirem. Descreve a história de um bebê que passa por abandonos e violências impensáveis e sobrevive graças a um prodigioso sentido de olfato. Trabalhando como quase um escravo, é descoberto e “comprado” por um fabricante de perfumes, onde vai aprender a extrair os óleos e as fragâncias que compõe um perfume. Logo ele se torna o maior dos mestres da Perfumaria, mas não é essa a sua ambição. Ele que extrair a essência máxima do feminino. Eros em estado definitivo. Para isso, ele mata e extrai a essência das jovens que cruzam o seu caminho. Um serial killer do século XVIII. Como um louco atormentado, ele extrai a essência do odor de cada mulher que mata, procurando a essência do Feminino sem sabê-lo.
O filme é ótimo e demonstra, de forma dramática, a busca de um homem tangido por sua Falta e por sua Ferida e o refinamento infinito de seu conhecimento sobre cheiros e processo de retirada de elixires para encontrar o seu Elixir do Amor.
O que Jung descobriu a respeito dos velhos alquimistas tem estranhamente a ver com esse filme. O processo alquímico procurava pelo Elixir da Longa Vida, uma substância tão concentrada, filtrada e infinitamente purificada que ela pudesse, por si só, curar todos os males, reparar doenças e genomas defeituosos. Esse é o Opus Alquímico, que transportamos para dentro de nossos consultórios: o refinamento e a purificação de uma Psique para que ela supere os seus demônios e se torne cada vez mais límpida, cada vez mais indestrutível. Os Budistas tem um tratado, o “Sutra do Diamante” que também tem essa proximidade com a Obra Alquímica, pois busca dar à Psique o estado de pureza e resistência absolutas, como a do diamante. Esse é o trabalho que fazemos, ou tentamos fazer, todo dia, em nossos trabalhos e em nossas vidas. Fazemos isso conscientemente ou não.
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Este é o desejo de todos: a pureza e a resistência absoluta!
ResponderExcluirA religião também ajuda neste processo, além da terapia, é claro...
bjos,
Lúcia
seria nossa vida nesse planeta um enorme pronto socorro????
ResponderExcluird.