domingo, 29 de setembro de 2013

O Elixir do Amor

Quando Carl Jung rompeu com Freud, sua vida toda virou de ponta cabeça. Ele já havia se desligado da Psiquiatria Suiça, na medida em que optou por acreditar e aplicar o método psicanalítico que se estabelecia na época. Havia, dentro do Inconsciente dos doentes mentais, tensões psíquicas intoleráveis que acabavam se manifestando como sintomas e sofrimento. A Psiquiatria estava, e ainda está, procurando organizar um corpo de saber sobre as doenças mentais e entendê-las, saber como se comportam e qual a melhor forma de tratá-las. A Psicanálise e as posteriores Psicologias do Inconsciente foram rejeitadas para o entendimento das doenças mentais. Jung tomou o partido de Freud. Depois de alguns anos, as diferenças entre os dois também foram se tornando insuportáveis, até o rompimento doloroso e definitivo. Como eu falava no início desse post, esse rompimento foi devastador para Jung. Da noite para o dia ele passou a ser um proscrito pelos seus colegas médicos E por seus colegas psicoterapeutas. Passou a viver numa espécie de limbo, onde, a partir dali, teria que prosseguir inteiramente só. Não é à toa que nessa época Jung tenha ficado tão impressionado e amedrontado, com a trajetória de Nietzche, que também tentou mudar o rumo da Mente Ocidental, também sofreu tensões e dores psíquicas insuportáveis e acabou sucumbindo, após anos de solidão, terminando os seus dias num asilo para doentes mentais.
Jung foi reconstruindo a sua saúde mental e a sua carreira nesse período entre as Guerras Mundiais, mas ainda não tinha encontrado um jeito de entender mais profundamente a própria alma e a Psique Humana. Encontrou nos escritos medievais dos alquimistas os insights que lhe faltavam e, mais do que tudo, a sensação de estar remando na direção certa. Mesmo os seus colaboradores mais íntimos acharam que aquele estudo da Alquimia iria jogar no lixo a pouca credibilidade que lhe restava. Felizmente, Jung ignorou esses conselhos e seguiu a própria intuição, legando ao mundo uma obra gigantesca e ainda mal assimilada.
Outro dia eu estava praticando meu esporte favorito na TV, que é ficar zapeando, quando dei com o filme “O Perfume: A História de um Assassino”. Não é uma delícia quando o título em Português entrega todo o filme, tipo “Apolo XIII: do Desastre ao Triunfo”. Obrigado por entregar o final, pessoal. O “Perfume” é a história de uma Obra Alquímica, ou do desenvolvimento do Quarto Cérebro, se preferirem. Descreve a história de um bebê que passa por abandonos e violências impensáveis e sobrevive graças a um prodigioso sentido de olfato. Trabalhando como quase um escravo, é descoberto e “comprado” por um fabricante de perfumes, onde vai aprender a extrair os óleos e as fragâncias que compõe um perfume. Logo ele se torna o maior dos mestres da Perfumaria, mas não é essa a sua ambição. Ele que extrair a essência máxima do feminino. Eros em estado definitivo. Para isso, ele mata e extrai a essência das jovens que cruzam o seu caminho. Um serial killer do século XVIII. Como um louco atormentado, ele extrai a essência do odor de cada mulher que mata, procurando a essência do Feminino sem sabê-lo.
O filme é ótimo e demonstra, de forma dramática, a busca de um homem tangido por sua Falta e por sua Ferida e o refinamento infinito de seu conhecimento sobre cheiros e processo de retirada de elixires para encontrar o seu Elixir do Amor.
O que Jung descobriu a respeito dos velhos alquimistas tem estranhamente a ver com esse filme. O processo alquímico procurava pelo Elixir da Longa Vida, uma substância tão concentrada, filtrada e infinitamente purificada que ela pudesse, por si só, curar todos os males, reparar doenças e genomas defeituosos. Esse é o Opus Alquímico, que transportamos para dentro de nossos consultórios: o refinamento e a purificação de uma Psique para que ela supere os seus demônios e se torne cada vez mais límpida, cada vez mais indestrutível. Os Budistas tem um tratado, o “Sutra do Diamante” que também tem essa proximidade com a Obra Alquímica, pois busca dar à Psique o estado de pureza e resistência absolutas, como a do diamante. Esse é o trabalho que fazemos, ou tentamos fazer, todo dia, em nossos trabalhos e em nossas vidas. Fazemos isso conscientemente ou não.

2 comentários:

  1. Este é o desejo de todos: a pureza e a resistência absoluta!
    A religião também ajuda neste processo, além da terapia, é claro...
    bjos,
    Lúcia

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  2. seria nossa vida nesse planeta um enorme pronto socorro????

    d.

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