domingo, 11 de dezembro de 2011

Especialistas do Perú

Outro dia estava na odisséia paulistana do trânsito de Natal. As aulas acabaram, o Trânsito piorou. Coisas da paulicéia. Recebi um desses jornais de semáforo, em breve o único jornal que vamos conseguir ler durante o dia, de capa a capa. Havia uma matéria de capa, paga, simulando o próprio jornal, com modelos sorridentes cortando um perú de Natal. Pelo menos não havia nenhum Papai Noel na matéria, mas o objetivo era parecer uma matéria normal. Uma das “manchetes” dava conta que os especialistas recomendavam o tal peru X ou Y para a ceia de Natal. Ai meu Deus. Agora vamos precisar consultar os especialistas para comprar e fazer o perú no Natal, essa tradição tão "brasileira".
Acabei de ler mais um livro de Malcom Gladwell, “O Ponto de Virada”. É um ensaio muito bacana sobre epidemias sociais, o que pode transformar um mocassim horrível, da marca Hush Puppies em moda e mesmo febre americana nos anos noventa. Eu vi uns exemplares do Hush Puppies em Manhattan, são feios mesmo. Um pequeno grupo de moleques descolados em New York começaram a usar esses sapatos do nada. Logo o boca a boca foi tornando esses sapatos em febre, a produção estourou, os sapatos estranhos estão até hoje nas vitrines. A moda deve ter passado, ou mudado de direção.Mas os Hush Puppies estão lá, firmões. Malcom Gladwell descreve a importância dos ditos especialistas na difusão desses conceitos: pessoas que servem de referência com seus conselhos para a galera, dizendo que determinada tendência é “cool”, descolada e deve virar moda. Por isso a propaganda disfarçada de matéria jornalística apelava para a opinião de “especialistas” que ditavam a tendência de fazer perú no Natal.
O problema dessa nossa tendência a depender dos especialistas é a morte do bom senso. A falta da capacidade de unificar conhecimentos. Precisamos de especialistas para praticamente tudo. Na indústria farmacêutica, esses especialistas são classificados como “Formadores de Opinião”. Alguns são de dar com cachorro morto na cabeça, e ainda assim são lambidos e levados para os eventos onde vão transmitir o ponto de vista sobre determinada medicação ou transtorno a ser tratado. Outro dia tive uma experiência interessante, em que o expert que dava aula começou a falar a verdade! (Como assim??). O remédio tinha limitações, já observadas na prática clínica e ele confirmou essas limitações! Foi um escândalo para mim. Fui agradecer ao final da apresentação, pelo respeito à minha inteligência.
Acho que deveríamos fazer um movimento para os marketeiros respeitarem a nossa inteligência. A grande questão é como podemos, nós mesmos, assimilar o hábito de respeitar a nossa inteligência. Não acreditar em especialistas de perú (nada contra os Urologistas) pode ser um bom começo.

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