domingo, 4 de dezembro de 2011

Nova Iorque e o Mito

Para quem deu pela falta, estou escrevendo o primeiro post de Dezembro depois de um tempo desconectado. Estou em Nova Iorque para uma viagem curta, de pouco mais de um final de semana. A última vez que eu passei por aqui era um adolescente e a imagem que mais gravei foi o edifício Dakota, onde John Lennon foi assassinado. Hoje corremos de atração em atração para tentarmos uma visão rápida da Big Apple, com museus, show da Broadway e, claro, compras.
Engraçada é a distância entre a N. Iorque mítica e a de verdade. Ontem passamos pelo Central Park numa ponte onde vários cineastas gravaram cenas de amor. Lembro de um filme do Woody Allen, "Another Woman" em que a atriz principal, como uma boa personagem do Woody Allen, entediada e atormentada pelo casamento infeliz e amornado, dá um beijo cinematográfico (desculpe o pleonasmo) em Michael Caine (que não é o seu marido no filme) debaixo daquela ponte. Pois a ponte é um cantinho descascado e pichado, digno do parque Trianon, em São Paulo. As carruagens que dão a volta no parque, também presentes em várias comédias românticas e cenas do Sex and the City, de perto, tem uns cavalos meio Poços de Caldas e condutores sem cartolas. Tudo isso por cinquenta dólares a voltinhas. Por cinquenta dólares eu puxo a carroça, em vez de ficar encima.
Por falar em Poços de Caldas, fomos comer, na saída do Metropolitan, o também mítico Hot Dog das barraquinhas de New York. Lembro dos machões do Law and Order, sem tempo para almoçar na busca dos bandidos, comendo esses quitutes.O Hot Dog que eu faço lá me casa é bem melhor, do pão quentinho à salsicha de melhor qualidade. Eu alertei a minha mulher: colocar ketchup no cachorro quente é ofensa grave. Ela pediu o dela com mostarda, o meu com chili. Será que Clint Eastwood aprovaria um Hot Dog com chili? Pois o chapeiro saiu perguntando em Português quais molhos a gente queria. Brasileiro de Poços de Caldas, é mais um mineiro em busca do American Dream que termina com o esfregão ou a chapa quente na mão. Mas como disse outro mineiro, o Wálter, nosso guia em outro passeio, um trabalhador americano ganha em um dia o suficiente para comprar um forno de micro ondas, enquanto que o brasileiro que ganha salário mínimo rala um mês para comprar o mesmo forninho. Tudo bem que aqui custa um quinto do eletrodoméstico do Brasil. Mas Wartão (que começou o dia se apresentando com a pronúncia em Inglês, Ualter, e terminou Wartão) deu uma grande e definitiva vantagem de Manhattan: quase não se vê argentinos. A bronca que eles tem dos ingleses se estende aos americanos.
Para quem lê essas mal tecladas, pode parecer que há alguma decepção nesse encontro com a Big Apple. Nada mais falso. Mas se a minha Sampa natal fosse tão retratada por nossos cineastas e séries de TV (parece que nossos cineastas paulistas só conhecem as locações do Minhocão e os cariocas, nas favelas e nos morros) também teríamos turistas chineses fotografando o MASP ou o Ibirapuera, mostrando as locações dos filmes. Haveria também uma São Paulo mítica, do Bexiga ao Itaquerão.

Um comentário:

  1. Para nós brasileiros e paulistanos que moramos nos EUA, existe um conflito grande em tudo isto... imagine um pobre turista chinês, na frente do MASP sacando sua Nikon com super lentes? acho que em 10 minutos seria assaltado (em NY é bem menos provável que alguém roube sua camera na frente do Metropolitam Museum).... tudo bem eu conheço bem NY, a ponte do Central Park poderia sim ser a do parque Trianon... mas eles souberam bem criar um glamour mundial ( americanos sabem bem criar mitos) , principalmente através do cinema. Eu realmente não compreendo porque nossos cineastas brasileiros só mostram o lado feio, pobre e sujo de nossa cidade e de nosso país, levando a cultura da violência, dos bandidos, das drogas, e não mostrando nenhuma beleza.
    Bem até que ninguém faça algum coisa, NY continua sendo o centro do mundo, o Empire State, a cidade das locações cinematográficas onde todos se sentem num filme (mesmo comendo o pobre Hot dog das barraquinhas), sonham, assistem musicais super profissionais, com artistas competentes e sérios ( e com um marketing de excelência)... e vamos aguardar um dia nossa amada cidade de SP mostrar sua cara ao mundo..... aí dependemos da poderosa mídia..... CM

    ResponderExcluir