quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Godspell 2

Hoje é a postagem de número 200 desse blog. Outro dia estava ouvindo uma moça dar entrevista sobre blogs, acho que ela tem um grupo ou uma empresa que hospeda e ajuda as pessoas com seus blogs. A entrevista era no rádio. Ela disse que a maioria dos blogs morrem depois de alguns meses, geralmente por desânimo de seus autores. Os posts ficam perdidos na blogosfera, nessa época de twitts e manifestações do tipo: " Acordei tarde, que sono!" que alguns twitteiros postam como se fosse o auge da experiência humana ou se houvesse uma horda de seguidores prontos a comentar os seus bocejos. O pior é que, em alguns casos, há uma horda de seguidores emocionados com esse twitt de conteúdo definitivo para nossa cultura pop.
Esse blog não pereceu, apesar dos pesares. Sofre com meus excessos de trabalho, com a falta de um tema específico, não criando portanto um público ou um perfil de interessados. Continua uma coisa caseira e algo despretensiosa (a despeito do autor), que gera alguns comentários mais calorosos e queridos, mas pouca paixão. Posso adiantar que não vou abandoná-lo, salvo causa de força maior. Provavelmente vou mudar algumas de suas características, mas esse é um projeto para 2012.
Teclei ontem sobre uma peça atualmente em cartaz em Nova Iorque, um musical belíssimo chamado Godspell. O texto cantado e encenado é o Novo Testamento, com um Jesus loiro e vestindo uma calça bege e uma camisa de um time de beisebol. Ontem eu mencionei a cena final, onde o Cristo crucificado é levado em triunfo sobre a cruz para fora do teatro. Uma porrada. A vitória sobre a morte e o sofrimento se dando através da morte e do sofrimento. Esse é o paradoxo crístico, nessa época de literalidades (as pessoas e as coisas estão demasiada e estonteantemente literais, meu Deus).
Outra cena da peça me tocou profundamente e acho que vale a pena dividí-la com os leitores nesse semana de Natal, onde o Papai Noel tem mais destaque do que o nascimento da Criança Divina. A mesa da ceia foi colocada num canto do palco. Os atores tomam copos de cafezinho de vinho e compartilham da mesa. Pouco a pouco, vão chamando as pessoas da platéia a descer ao palco e compartilhar o vinho. As pessoas, a princípio tímidas, depois mais confiantes, vão descendo ao palco e tomando daquele vinho, nem todas imaginando o que significa aquele vinho. Os atores saem de cena, a banda para de tocar, as pessoas continuam descendo para o palco (é um teatro de arena) para compartilhar da mesa. Se a peça terminasse ali, estava muito bom. Nessa época de individualismo e individualidades postadas em twitters e facebooks, o verdadeiro significado da Última Ceia estava todo manifesto nessa cena: compartilhar, se fartar do sangue derramado para que todos tenham acesso à essa consciência. Foi muito intenso esse momento. Quando os atores se retiram de cena e deixam a mesa, entram quase sem querer nessa matriz simbólica: dividir para multiplicar.
O significado do Natal e de outras festas sempre ronda essa questão: o compartilhar,o desarmar das mágoas e das mesquinharias de nosso dia a dia, para a construção de uma pequena e duradoura unidade. Os atores da peça tinham essas diferentes origens: brancos, negros, hispânicos, orientais, judeus, todos reunidos em torno da mesa e da dificílima reunião dos habitantes de Babel.
Esse talvez devesse ser o espírito de Natal.

Um comentário:

  1. Natal, o nascimento que traz a possibilidade de um novo começo. E de Comunhão!

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