domingo, 18 de dezembro de 2011

Futebol Total

Estou assistindo nesse momento o vareio de bola que o Santos está tomando do Barcelona, na final do Campeonato Mundial de Clubes. Não tenho nenhum prazer em ver o melhor time do Brasil assistindo o melhor time do mundo jogar, sem defesa. Todo mundo sabia que seria muito difícil o Santos ganhar. O que todos pensavam é que, pelo menos, daria jogo. Não deu.
Uma das minhas lembranças mais fortes no futebol foi de uma seleção que assombrou o mundo na década de setenta: a Laranja Mecânica, a seleção da Holanda da Copa do Mundo de 74. Eu era um moleque de dez anos e desci chorando para jogar bola no meu prédio, depois de ver o Brasil tomar um vareio de bola semelhante do time da Holanda, na semifinal da Copa da Alemanha. A comparação não é imotivada, nem por acaso.
A seleção da Holanda de 74 mudou o jogo que conhecemos como futebol. Um técnico do minúsculo país, um dos países baixos, Rinus Mitchels, foi o criador dessa revolução. A Laranja Mecânica jogava o futebol total: todos marcavam, todos atacavam, todos defendiam. Não havia posição fixa, só faixas do campo que o jogador ocupava. Não havia um centroavante enfiado na área, mas quatro, cinco, seis jogadores, chegando em conjunto em condições de concluir. O time evoluía em triangulações, tomando as beiradas do campo, fazendo ultrapassagens constantes. Não ganhou aquela Copa, o que deve ter contribuído ainda mais para eternizá-lo.
A cultura do futebol total encontrou o seu melhor solo para ser semeado em Barcelona. Rinus Mitchels, Cruiff e toda aquela geração acabaram em Barcelona. Quem já visitou essa cidade entende fácil como o estilo holandês caiu como uma luva na capital da Catalunha. A criatividade, a inversão da lógica na arquitetura, nas artes, na música, tudo combinava com a revolução holandesa. O Barcelona de Guardiola, que vai se sagrar campeão mundial daqui a alguns minutos,é a materialização de toda essa fusão da escola holandesa com a Catalunha (diga-se de passagem, é a única herdeira da escola holandesa, já que a seleção da Holanda é um bando de brucutús aplicando voadoras e pontapés. Na final da última Copa do Mundo, a seleção “holandesa” era a Espanha). No mesmo jogo, Guardiola pode mudar o jeito de jogar do Barça três ou quatro vezes. Em termos filosóficos, Muricy é um estruturalista, Guardiola é um desconstrutivista. Muricy acabou de trocar um centroavante por outro. Guardiola trocou um lateral que joga de ponta por um segundo atacante que volta para marcar no meio. Dá para entender a diferença?
A Copa do Mundo será em dois anos, no Brasil. Temos receio de muitas vergonhas que podemos passar: na infraestrutura, na segurança, na organização. Com esse jogo, podemos também temer por passar vergonha também dentro do campo. Mano Menezes também é um estruturalista. Será que vai conseguir fazer a seleção jogar como uma seleção brasileira?

Um comentário:

  1. Oi Marco!Não entendo nada de futebol.Mas desde qdo é mesmo que o Brasil esteve com uma super Seleção?
    A muito tempo não ouço nenhum comentário que não seja ,o Brasil não jogou como sempre joga.Eu acho que com toda minha ignorância futebolistica,nós temos alguns genios e alguns bons jogadores que sobressaem,e qdo vão pra fora jogam muito,por tudo isso que vc está falando.Outro técnico ou técnica sei lá,como já disse não entendo nada.Creio que nós Brasileiros estamos a muito anos vivendo de passado.Tenho uma grande amiga que com certeza seria uma candidata a paciente ao Dr.Marco Spinelli,com tantos desastre em sua vida. Como os filhos não suportaram ficar aqui convivendo com os problemas ,foram embora para Europa,escolheram Barcelona.Ela[minha amiga]aguentou um tempo mais ,e foi tbém embora para a companhia dos filhos[um casal] .Todos começando literalmente do zero.A filha conheceu um rapaz que hoje è seu marido,fotografo esportivo na Europa,mais do Barcelona.Ela minha amiga precisando trabalhar e sem saber o que fazer e sem falar espanhou,como cozinhava e cozinha super bem ,virou governanta e cozinheira na casa de um jogador do Barcelona,trabalho este que o genro arrumou.Cheguei aonde queria chegar.Creio que os dirigentes brasileiros deviam se espelhar neste time.O que ela conta da estrutura de base que eles tem ,é algo admiravel.Ta ai a diferença,e não precisa entender muito de futebol.É isso o que falta no nosso País ,estrutura de base.
    Bjs e bom restinho de domingo pra vc e sua família

    Cibele

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