sábado, 18 de agosto de 2012

Édipo e Jonas


Ontem estava relendo o gibi “Entendendo Jung”, do qual gosto muito, mas não sei se recomendo. Esse gibi faz parte de uma série da Editora Leya, e parece que vai tentar facilitar o acesso de não iniciados a autores e conhecimento especializado. Tem um gibi sobre Freud, Física Quântica, Filosofia e agora um número sobre Jung. Apesar de ter a aparência de facilitar a vida do leitor, esses gibis não dão mole não. O saber é comprimido nas páginas e o leitor tem que se virar para acompanhar o ritmo. Eu fui lendo o material assim como quem vai degustar um gibi da Turma da Mônica, depois de um tempo estava com a sensação de ter comido uma feijoada teórica, de tão empanturrado de conceitos. O que dá para sentir é a enormidade da obra do psiquiatra suíço, que não dá para enfiar em um gibi. Mas para quem quer tomar contato, pode ser uma boa leitura.
Ontem acabei fazendo uma leitura junguiana de um Mito muito caro aos freudianos, que é o Édipo. Lógico que usei essa leitura para dar mais uma espetada em Juvenal Juvêncio, presidente do outrora glorioso São Paulo Futebol Clube. Lembrei de uma conversa alcoólica e canábica que tive na faculdade, com um japa dado a conversas briacas e filosóficas. Ele fez, depois da quinta cerveja, uma leitura sobre um filme dos anos 80, “Angel Heart”, ou “Coração Satânico”. Nesse filme, um detetive procura pelo autor de uma série de crimes bizarros na Nova Orleans dos anos 40. A trilha sonora é maravilhosa e o filme também. O japa observava, naquela conversa, que o filme é o próprio mito de Édipo, pois o detetive vai procurar pelo assassino para no final descobrir que é ele próprio o autor dos crimes. Juvenal, de tanto procurar por culpados pelos fracassos sucessivos do São Paulo, talvez encontre o causador da desgraça quando olhar o espelho. Mas o mito de Édipo não serve só para o tricolor.
Jung estranhava muito a literalidade de algumas leituras de Freud. Entender o Complexo de Édipo como um desejo inconsciente e incestuoso pela mãe, além de uma rivalidade assassina pelo pai, era um pouco excessivo para ele. Essa é uma velha querela entre as linhas e não vou me aprofundar na mesma. Vou antes falar do significado simbólico de matar o Pai e desposar a Mãe. O gibi que citei acima fala sobre isso de uma forma bacana, citando a história bíblica do profeta Jonas.
Jonas é convocado por Deus para levar a Sua Palavra para os seus inimigos. Ele não gosta nem um pouco da tarefa e faz uma viagem de navio em outra direção, diferente da apontada pela divindade. No meio do caminho, o navio naufraga e Jonas é engolido por uma baleia. Lá ele vai ter tempo para refletir profundamente sobre o significado de seu infortúnio. Ele havia traído o Desígnio que a vida tinha lhe imposto. Tinha matado o seu Deus interior e por isso estava preso dentro daquela situação terrível. Quando tomou consciência de seu erro e entendeu simbolicamente a sua prisão, Jonas foi entregue pela baleia, são e salvo, para cumprir a sua tarefa.
Esse Mito, ou Fábula, representa melhor o drama de Édipo e, mais ainda, o drama interno de nosso desenvolvimento. Em vários momento de nossa vida, perdemos o contato ou afrontamos o nosso Pai Simbólico. Édipo mata o seu pai, Laio, sem saber que era seu pai, apenas para não dar passagem a seus cavalos numa estrada. Ele desposa a própria mãe, Jocasta e tenta ser um Rei justo e adequado. Quando tudo começa a dar errado, Édipo vai ao Oráculo, os terapeutas da época, para conhecer o seu Orgulho, sua Arrogância e, mais ainda, a sua Ferida. Édipo arranca os próprios olhos para recuperar a sua Visão Interior, não para pagar os seus pecados.
Na vida, tomamos várias vezes os caminhos errados, fugimos do que nosso sentimento de missão e de sacrifício nos pede. O Casamento Incestuoso significa tomar o caminho mais fácil e trapacear a própria vida. É o que representam os mitos de Édipo e de Jonas. É por isso que, depois de muito penar, alguém vem bater em nossa porta e pergunta: por que tudo está dando errado? E como eu faço para sair de dentro dessa baleia?
O Casamento Incestuoso também significa o período da vida em que ficamos mergulhados na Noite Escura, onde nada vai para a frente enquanto não houver a reflexão e a correção do rumo, em um nível profundo. Em outro registro, o processo permite o desenvolvimento da Visão Interior, o que Jonas descobriu sem precisar arrancar os olhos. As pessoas não sabem, mas é isso que as traz à terapia.

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