sábado, 4 de agosto de 2012

O Viralata Olímpico

O grande Nelson Rodrigues escrevia em suas colunas nos anos 50 que um problema muito sério dos atletas brasileiros era o seu complexo de cachorro vira-lata (na época, vira-lata se escrevia assim, com hífen). Descrevia a nossa capacidade de afinar nas horas decisivas, embora contando com atletas excepcionais. O Brasil assombrou o mundo em 1958 com um time que tinha um moleque menor de idade com um nome esquisito, Pelé, e outro estranho jogador de pernas tortas e nome igualmente esquisito, Garrincha. A inocência de ambos permitiu ignorar o nosso complexa de viralata, ensacando todos os adversários, inclusive os donos da casa, a Suécia. O Brasil entrou no mapa do planeta e até hoje é conhecido mais por suas chuteiras do que feitos históricos. Passamos de amarelões para grande potência futebolística.
Deve demorar mais algumas décadas para deixarmos nosso complexo de viralata nas Olimpíadas. Ontem estava atendendo e soltei um sonoro PQP na recepção quando soube que mesmo César Cielo tinha sido infectado pela bactéria Affinococus e bebido água atrás de dois moleques que não são recordistas mundiais. Há quatro anos chorou de alegria, ontem chorou de decepção. Hoje, já refeito e orientado pela Assessoria de Imprensa e patrocinadores, destacou que tinha mais uma medalha olímpica em sua coleção, o que era um privilégio. É verdade, Césão. Não é qualquer um que tem duas medalhas olímpicas no cabideiro. Mas não deixe de esterilizar a sua medalha de bronze, ela está contaminada pela temida bactéria. Temos poucos candidatos ao ouro em nosso esporte olímpico, trazer um bronze não é consolo.
Nossos olhos se voltam para o inacreditável presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Artur Nuzman. O que ele está fazendo por lá? Até Ricardo Teixeira já caiu, quanto tempo teremos que aturar esse senhor? Milhões e milhões despejados em programas de fomento e nada de metas, nada de previsões, nada de resultados? Esse senhor nem vem a público se pronunciar, nem sequer estimar para onde foi a dinheirama. Continuamos atrás do Cazaquistão no quadro de medalhas. Eu ficaria mais tranquilo se soubesse onde fica o Cazaquistão.
Na Olimpíada de Sidney, se não me engano, o incrível Nuzman resolveu levar um gurú motivacional para trabalhar nossos atletas. Ele deu palestras eufóricas, fez o time de Vôlei andar em brasas e prometeu uma chuva de medalhas. O Vôlei foi eliminado nas quartas de final, para a Argentina (!), não ganhamos nenhuma medalha de ouro e nunca mais levaram nenhum gurú antes dos jogos.
O nosso único ouro até agora, conquistado pela menina do judô, Sarah Menezes, teve o agradecimento emocionado da atleta à sua psicóloga, que a ajudou a erradicar o Affinococus do final de suas lutas.
Nossos atletas deveriam ter completa assistência psicológica. Os técnicos também. Os atletas sabem que nas Olimpíadas é sua única chance de ter toda a atenção da mídia. Hoje eu vi Fabiana Murer carregando o país em seu salto com vara. Os atletas ficam pesados e os resultados reforçam as nossas decepções, todo dia. Fabiana vergou sob esse peso.
Nosso esporte precisa de profissionais que ajudem a tirar o peso dos ombros dos atletas. Só assim deixaremos nossos complexos na lixeira da Vila Olímpica.

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