sábado, 3 de novembro de 2012

James Bond em Tebas

Ontem fui assistir o novo filme de 007, “Operação Skyfall”. Adoro essa fase Daniel Craig do personagem, depois de anos de canastrice e humor tipo chanchada de Pierce Brosnan. O fato é que vamos dar um tempo na Neurociência nesse post. Vamos voltar a Jung, que já estou cheio dos quatro Cérebros.
O James Bond de Craig é um herói ferido. Encontra o amor no primeiro filme dessa nova fase, “Casino Royale”, vê a amada traí-lo e morrer afogada na sua frente, sem poder salvá-la. No segundo filme, “Quantum of Solace”, Bond é um vingador enfurecido, insone, que não hesita em sacrificar amigos e Bond Girls para perpetrar a sua vingança contra os matadores da mulher amada. Nos dois filmes ele passa a maior parte do tempo levando pito de M, inesquecível na pele de Judi Dench. A relação do filho rebelde com a mãe supostamente rigorosa, mas que acoberta e deixa o traquinas fazer o que bem entende, fica bem clara nesses filmes da saga Bond. M está sempre ralhando com Bond enquanto o filhinho rebelde trucida suspeitos e usa as mulheres para atingir os seus objetivos.
Este novo filme brinca muito com essa característica chauvinista e old fashioned do Bond de Daniel Craig. Ele é chamado de tiozinho pelos superiores e o seu apoio nerd, G, que lembram a Bond que ele não é mais o mesmo. Um tiro no ombro no início deixa o seu braço trêmulo. Ele é reprovado em todos os testes e, mais uma vez, acobertado por M. Ele vai voltar à ação para protegê-la, pois dessa vez o Serviço Secreto está sob ataque para atingi-la. Ela está exposta e fragilizada, acusada de estar, também, superada.
O filme vai mostrar o embate arquetípico entre os dois filhos da Mãe poderosa: os dois foram feridos por ela. Um vai usar a sua ferida para se voltar contra a mãe Inglaterra na figura da chefe do MI 6. O outro, que foi igualmente rifado por M, 007, vai protegê-la e caçar o irmão monstruoso.
Esse é um tema já visto na tragédia grega. Na Trilogia Tebana, de Sófocles, é muito conhecida a história do Édipo Rei, já mencionada em posts antigos desse blog. Édipo cumpre o seu destino trágico, matando o seu pai e desposando a própria mãe de forma não intencional. Édipo arranca os próprios olhos e passa a vagar pelo mundo guiado por Antígona, filha de seu casamento incestuoso. Na última peça da trilogia, “Antígona”, Édipo já foi engolido pela terra. Tebas passou a ser governada por Creonte, tio de Antígona. Ela enfrenta publicamente Creonte, pois ele proibiu o sepultamento de seu irmão. E esse é o ponto de James Bond. Após a morte trágica de Édipo, os seus filhos se dividem. Um se junta aos inimigos de Tebas e tenta derrubar o rei Creonte. O outro toma a defesa da cidade mãe. Os irmãos se matam mutuamente na batalha, um golpeando o outro. Creonte quer sepultar o aliado como um Herói de Guerra e deixar o outro aos cuidados dos urubús. Esse é o embate que está no novo filme de James Bond. Para o Serviço Secreto, James Bond e Silva, os irmãos arquetípicos da Mãe Incestuosa, Jocasta, digo, M, estão mortos. Ambos vão voltar da morte para honrar e encontrar, profundamente, a sua própria identidade perdida. Faltou ao filme uma Antígona para dizer que Bond e Silva, o arquivilão, são faces da mesma moeda.

Um comentário:

  1. Por coincidência...ou diria Jung, Sincronicidade.. Estou na saída do cinema, e resolvo acessar seu Blog pelo celular...e ! ! Eis que encontro este exatamente com o Tema do filme que acabei de assistir !
    My God ! Que 007 mais Lindo ! Lindo em todos os sentidos ! Amoroso.musculoso.digno.Perfeito esteticamente. Amigo dos amigos. Sincero.honrado.Competente. Cativante.
    Gostoso !
    Amei o filme simplesmente ! Sem ou com Tebas ...

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