sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Vídeogames e o Quarto Cérebro

Os vídeogames e sua metástase temível, os jogos online, colonizaram os corações e mentes das crianças, adolescentes e adultos que passaram por eles. Já não é possível ficar perto deles sem notar algum tipo de conexão, com tablets, smartphones, i-pods e quejandos. Como que essas drogas altamente indutoras de abuso e dependência capturam mais e mais adeptos?
Estava falando no último post do Cérebro de Réptil, o Primeiro Cérebro, que mantém as nossas funções vegetativas, fundamentais para o desenvolvimento e manutenção da vida. Falei também do Segundo Cérebro, também chamado para fins de compreensão de Cérebro Emocional. É um Cérebro visto em Mamíferos ou Paleo Primatas, que coordena as nossas reações de Medo, de Desejo, de busca pela adaptação ao meio ambiente e sobrevivência.
O Terceiro Cérebro, ou, didaticamente, o Cérebro Racional, é bem mais jovem evolutivamente mas permitiu aos hominídeos o domínio desse planeta como raça dominante. As capacidades básicas desse Cérebro, que é o Planejamento das Ações, a Execução, a capacidade de Avaliação dos Resultados e Correção dos Erros não é inédita entre os Primatas, mas estendeu-se ao infinito com a aquisição da Linguagem Falada e Escrita. Não é à toa que os quadros de transtornos de desenvolvimento tem uma evolução dramaticamente melhor ou pior se o paciente desenvolve a capacidade de Linguagem.
Falei no último post sobre Michael Jordan, que de jogador de basquete mediano na escola tornou-se o maior jogador de todos os tempos assim que encasquetou que queria sê-lo. O treino, a repetição e as curvas de aprendizagem progressivas, com uma capacidade de Concentração inacreditável, levaram Michael a um entendimento complexo e uma leitura ampla e instantânea do jogo e da ação do adversário, levando a uma perfomance difícil de repetir. Ele estava usando sem saber o Quarto Cérebro, que talvez faça a integração simultânea de várias camadas e estruturas cerebrais. Passar do Terceiro para o Quarto Cérebro é como passar desse meu notebook para um computador quântico. Estranhamente há pouca gente estudando essa passagem. Ainda pensamos nos gênios como seres estranhos que nascem do nada, como saltos da Natureza que são aleatórios e inexplicáveis, não fruto do trabalho e do suor de pessoas que se apaixonaram pela sua área de atuação e atingiram a completa excelência.
Os videogames e os jogos online estão escravizando nossos jovens com essa paixão em dominar esquemas motores e perceptuais complexos, na tentativa de atingir a excelência e a maior pontuação. Para isso, integram um sistema de recompensa/punição/aprendizagem que tem esse efeito em quem joga. Dominar o repertório de manobras, conhecer os atalhos e os bugs do jogo é a via de comunicação e pertencimento dessa comunidade virtual. Ouço meus filhos gritando nos headsets com colegas australianos, japoneses e europeus em mais um jogo online. A derrota não vai gerar depressão nem luto, mas vai antes, levar a mais excitação e novas tentativas de atingir a excelência no jogo. Está na hora de aprendermos com esses caras.

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