segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O Lado Não Tão Bom, da Vida

Talvez eu devesse comentar a grande notícia do dia, que é a renúncia do papa Bento XVI ao seu pontificado, bem no início da Quaresma. Mas vou pular esse assunto. Ele alega a idade avançada e a saúde combalida. Um sujeito que assume o Pontificado aos 78 anos poderia imaginar que uma hora a idade iria pesar. Deixo então as teorias de conspiração aos teóricos do assunto. Imagino que as fofocas serão muitas. De resto, essa renúncia faz sentido como um mandato tampão, que visava impedir um papa mais moderno e mais investigativo, pode-se assim dizer. A poeira baixou e após um papado pífio, o cardeal Ratzinger pode pedir o boné. Mas não é sobre isso que vou falar.
Estava matando a minha curiosidade nesse Carnaval sobre os filmes que aparecem nos divãs e nos prêmios. Estava muito curioso sobre esse “O Lado Bom da Vida”(Silver Linnings Playbook), que rendeu prêmios de melhor atriz para a jovem Jennifer Laurence e indicação para o Oscar para o queridinho das comédias Bradley Cooper. Algumas críticas favoráveis e um tema psiquiátrico no meio da conversa e lá fui eu dispender algumas horas do feriado para ver o filme, que conta a história de um paciente bipolar não diagnosticado que está saindo de alta hospitalar após internação forçada e judicial de oi. O personagem de Bradley Cooper encontra a mulher no banho transando com um professor, ao som da música de seu casamento. Ele sai da internação com duas obsessões: a música, que não para de tocar na sua cabeça e a ideia prevalente de refazer o seu casamento, o que é improvável já que há um mandato de restrição contra ele, da parte da ex. No meio do caminho, ele encontra com uma moça, também bipolar, que apresenta comportamento sexual compulsivo. Veja que, para uma comédia romântica, é um tema espinhoso. O pai do sujeito é representado por Robert de Niro, que faz um pai obsessivo compulsivo, jogador patológico que acredita que o filho maluquete pode lhe dar sorte em suas apostas. Não é um retrato em molduras douradas da América, pode-se assim dizer.
Tentando tirar graça desses temas pesados, o filme é pouco ou nada engraçado. Pode ser classificado como mais um filme adoçado em que todos os malucos em questão são transformados e salvos pela força do amor. Jennifer Laurence faz a menina bipolar que vai curar o seu comportamento sexual compulsivo e restauras a autoestima perdida do herói através de sua esperteza e determinação, usando para isso todos os meios. Pelo andar do post, pode-se imaginar que eu não gostei do filme, o que não é verdade. Achei o filme sobrevalorizado, sim, mas também corajoso de criar uma comédia açucarada bem no meio da falência da família americana e da fantasia narcísica que funda essa família.
O filme me leva à reflexão dessa miséria gerada pelo “wishful thinking”, da cultura do “Pensamento Positivo”. Todos os personagens estão procurando, aos pedaços, alcançar os seus objetivos improváveis através dessa tal “positividade”. A menina quer ganhar um concurso de dança para o qual não tem formação ou preparo. O cara quer encontrar a linha prateada da transformação de toda a sua agressividade e desespero; o velho pai quer fazer fortunas em apostas em jogos de futebol americano ou em qualquer assunto que pode gerar aposta. O final quase feliz critica mas mantém a farsa do pensamento positivo, sobretudo a ideia que tudo podemos alcançar com os pensamento corretos. Um budista na direção diria que a cura começa quando paramos de alimentar, o tempo todo, nossas obsessões que queremos realizar e vivemos, em profundidade, cada momento de nossa vida. Deixamos de lado nossa obsessão com o passado que se perdeu e com o futuro ideal, que só vai se cumprir nas comédias românticas.

Um comentário:

  1. "...a cura começa quando paramos de alimentar, o tempo todo, nossas obsessões que queremos realizar e vivemos, em profundidade, cada momento de nossa vida."

    Como é difícil saber e atingir isso, Mestre !!!

    Mas vamos tentando e aprendendo...

    Edison

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