terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Os Deuses e o Invisível

Os deuses nas Mitologias, inclusive a cristã, se dividem em três, representando fases, princípios complementares, formas de manifestação do que não se manifesta, do reino do Invisível. Uma tríade fundadora e importante para mim é a da Teogonia, que funda uma das mais ricas e criativas das Mitologias, que é a Grega. O mito começa como o Genesis, pela separação entre o Céu e a Terra, depois de um início onde tudo era o Caos e o Vácuo. Em nossa atual mitologia, que é a Ciência, esse Vácuo é o estado de potencial absoluto que precede o Big Bang. O Big Bang é a formação da primeira polaridade, entre vácuo e matéria/energia, ou, na visão dos gregos, entre o Céu e a Terra, entre Urano e Gaia. Urano fecunda a Terra e dela saem seus filhotes, que ele não deixa sair à luz. Urano para mim sempre representou a dinâmica dos casos mais graves de psicose: uma psique que não consegue se diferenciar do inconsciente e todos os seus pequenos brotos de desenvolvimento são engolidos pela força irresistível da Mãe Devoradora. Urano representa essa indiferenciação. Mas, como toda opressão, um dia vai chegar ao fim. Gaia esconde de Urano um de seus filhos, Cronos, que cresce e espera a hora exata para destronar seu Pai, castrando-o e jogando seus testículos no mar. Da espuma dessa união entre o deus castrado e o mar, nasce Afrodite, princípio do Amor e de União. Será que os gregos intuíram exatamente o momento na evolução em que a reprodução passa a ser sexuada, marca do organismos mais complexos e das variações genéticas infinitas que vieram culminar em nós, humanos? Afrodite representa o fim dessa fase evolutiva e o início das forças de atração e repulsão que regem a formação da vida?
Cronos não foi um pai muito melhor do que Urano. Em vez de empurrar os seus filhos para o ventre materno, o que já não tinha funcionado com Urano, pegava os filhos de sua esposa, Réia, e devorava-os, um por um. Cronos sempre me lembrou as famílias e as estruturas perversas, que negam aos seus membros a individualidade. Na hora de se diferenciar e criar vida própria, o filho tem a sua cabeça devorada pela estrutura. Vejo isso todo dia, em estruturas familiares em que toda a independência, econômica, ideológica, existencial, é atacada como errada, pecaminosa, herege. Como o Capitalismo, por exemplo, grande representante de Cronos em nosso tempo. Todo mundo está preso em sua rede e quem sair é um maldito, ou um terrorista.
Réia também ocultou do esposo devorador um de seus filhos, Zeus, que depois de crescido também derrubou seu pai do poder, com métodos mais suaves. Cronos é enviado para uma ilha, onde vai ser reeducado e virar um Pai Senex, um Pai de Sabedoria. Zeus passa a me lembrar as estruturas neuróticas: é o mais poderoso dos deuses, mas não põe a cara com seus irmãos, Poseidon e Hades. Precisa mesmo é lutar contra os Titãs libertados das entranhas da Terra, mas essa é outra história. Zeus quer espalhar a sua semente, representa um psincípio criativo e fecundante. No Genesis, Zeus está no “Crescei e multiplicai-vos” que Elohim permite aos seus filhos, Adão e Eva. Zeus também não é lá grande figura paterna, mas espalha os seus filhos pelo mundo, inclusive com as mortais. Zeus permite a diversidade e o crescimento de todas formas de vida, e permite aos deuses um lugar no Monte Olimpo. Zeus sabe que os deuses precisam do homem e de suas fraquezas para existirem. No seu reinado há a percepção entre a interpenetração entre o mundo dos homens, dentro do tempo e do espaço e o mundo dos deuses, que é invisível e existe fora do tempo. Não sabia ele que isso inauguraria uma das maiores divisões da alma humana: aqueles que acreditam que só existe esse mundo, de Cronos, onde nós ainda vivemos, onde a Realidade e o Tempo são lineares, onde disputamos os frutos da Terra e descuidamos dela, porque acreditamos que temos pouco tempo, o tempo de nossa permanência aqui, como seres biológicos. Não acreditamos que existe um não tempo, que muitas vezes irrompe em nosso mundo e nossa vida como manifestações do Imanifesto.
Essa é a briga entre os que acreditam e não acreditam numa ordem de coisas fora do tempo. Os leitores desse blog já sabem qual o time que eu pertenço nessa questão.

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