domingo, 21 de abril de 2013

Aleluia, Hare Rhama

Na Quarta Feira os sãopaulinos tiveram o seu dia de Palmeiras. O tricolor venceu o Atlético Mineiro, façanha vital para continuar na Libertadores. Ganhou no peito, na raça e no tranco, de um time melhor, mais técnico, mais eficiente. Não foram poucos os tricolores à beira de um ataque de nervos naquele jogo tenso. Confesso que estou um pouco preocupado com o estado mental do Rogério Ceni. Liga lá no consultório, Rogério. Você anda papando uns frangos e suas declarações estão dramáticas e um tanto histéricas. Eu dou uma regulada nesse seu estado de luto pelo fim da sua gloriosa carreira. Mas esse não é o assunto desse post.
Confesso que não assisti um bom pedaço do jogo, que estava mais para Rugby do que Futebol. Fiquei zapeando um documentário que passou na TV a cabo, sobre a vida do guitarrista dos Beatles, George Harrisson. O filme tem quatro horas de duração, divididas em duas partes. A segunda parte, que eu assisti durante o jogo, é bem mais interessante. George foi muito mais interessante como ex Beatle, embora tenha feito algumas das mais belas canções da história do Pop como Beatle. Por exemplo, “Something” e “Here Comes the Sun”. Como os outros ex Beatles, depois do fim da banda, nunca mais encaixou uma música como no tempo dos quatros rapazes de Liverpool. Mas há um depoimento particularmente impressionante, de um amigo e músico que gravou com George. Uma infinidade de bons músicos o fizeram, sobretudo nos anos setenta. O cara relatou que estava muito bravo, muito magoado com algum assunto que nem se lembra. George estava ao seu lado. De repente, ele sentiu que sua alma estava sendo tocada pela alma de George, como se ele estivesse entrado dentro do amigo para descobrir o que estava magoando-o tão profundamente. Quase esqueci de vez do jogo.
George teve uma profunda e longa busca espiritual, desde o tempo dos Beatles. Não foi o iluminado que o documentário quis vender, mas sem dúvida encontrou uma paz interna bem incomum para uma celebridade e um pop star. A compaixão, a amizade, o campo psíquico favorável à criação, eram algumas das qualidades. Não tenho a menor dúvida que a sensação do amigo era real. George tentou “entrar dentro” dele e curar a sua ferida. No momento de maior quietude.
Nosso mundo é completamente voltado para o espaço exterior, a conquista desse espaço. A imagem, o consumo, o domínio da matéria. Fui a um simpósio ontem em que assisti a algumas aulas lamentáveis, que partem sempre da premissa do quantificável. Fiquei com vontade de pegar o microfone e falar que a boa cura tem que partir dessa capacidade de George, de entrar profundamente dentro do Outro para sentir, em profundidade, onde está a ferida. E onde está o vazamento. Era um simpósio sobre Psicogeriatria e falou-se muito mais sobre o medo do idoso de levar um tombo do que na presença inquebrantável da Morte, uma grande e omitida questão em toda consulta com um idoso. Na minha cabeça tocava uma música de George no período pós Beatle, “My Sweet Lord”, em que ele canta que queria conhecer de verdade essa presença divina doce. O coro nessa música de sua voz mistura Aleluia, com Hare Rhama, um cântico Hare Khrishna. Amen e Aleluia com Khishna Krishna. E o gaiato lá na frente fazendo discurso para medicar adequadamente a angústia das pessoas, sem entrar dentro delas. Eu pegaria no microfone e diria: não há cura sem Quietude. Não há diagnóstico sem entrar dentro do outro, guardem as suas entrevistas padronizadas. Seria divertido, embora levaria à minha internação.

Um comentário:

  1. Sim..não há cura sem Quietude...e Perdão por nós mesmos primeiramente e aos outros...estrada longa Marco....:)

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