sexta-feira, 19 de abril de 2013

Isolamento

Vou fazer algumas considerações sobre as informações desencontradas e manipuladas do atentado terrorista em Boston, ocorrido há poucos dias ao final da Maratona que celebrava uma data comemorativa da cidade. Vou me arriscar a interpretações apressadas e, tanto o psiquiatra quanto o psicoterapeuta que escrevem esse blog e no caso são a mesma pessoa, não costumam fazer: tecer juízos apressados sem ter o maior número possível de elementos para a interpretação.
Quando ocorreu o Onze de Setembro eu coloquei um texto na internet, usando a personagem da Vovó conversando com a netinha, chamado “Um Minuto de Silêncio”. No texto, a Vovó olhava estarrecida na TV o desmoronamento das Torres Gêmeas, a morte de inocentes no maior ato terrorista que o Ocidente conhecera até então. Ela pedia para a netinha fazer um pequeno silêncio em respeito às milhares de pessoas mortas e os milhões afetados por aquela tragédia. Esse texto provocou uma reação de um leitor, que respondeu-o com outro texto, chamado “Outro Minuto de Silêncio”, em que destacava as pessoas mortas e mutiladas pela ação imperialista dos americanos, que impõe sua vontade e sua subjetividade consumista a todo o resto do mundo, muitas vezes de forma bélica e destrutiva. Vazou depois um vídeo em que Osama Bin Laden comemorava as mortes dizendo aos seus colegas, num alegre convescote da Al Qaeda: “Agora eles vão sentir na pele o que passamos todo dia”. Eu consigo entender a raiva da pessoa que rebateu o meu texto e consigo entender quem acha que os americanos sofrem desse ódio e dos ataques terroristas porque provocam esse ódio e essa resistência desesperada à sua fome sem fim. Não respondi ao texto nem entrei na polêmica. A violência que se multiplica e se autoperpetua é uma forma tribal e primitiva da estupidez humana, seja de que lado partir.
O que tem me assustado no atentado de Boston foi exatamente a sua característica caseira e tosca: duas panelas de pressão, com pregos e metais explodindo no meio de uma festa local. Ninguém reclamou a sua autoria, morreram três pessoas que absolutamente nada tinham a ver com qualquer ato de vingança, muitas outras fivcaram mutiladas e todas com certeza ficarão marcadas por essa violência pelo resto de suas vidas. De ontem para hoje as imagens dos suspeitos foram divulgadas, um deles foi morto, ou se matou com explosivos após tiroteio. O outro é seu irmão, e está foragido até esse momento em que estou escrevendo esse post. Os dois tem descendência Chechena (espero que seja essa a grafia), um pequeno estado separatista ao sul da Rússia que tem grupos terroristas organizados e capazes de várias atrocidades como atentados contra escolas e teatros para pressionar por sua independência. O estarrecedor e que esses dois jovens não tinham aparentemente intenção política com esse atentado. O mais velho, morto nessa madrugada, postou em uma rede social que estava na América há alguns anos e não tinha feito nenhum amigo americano. Não conseguia entendê-los. Pode ser que esse atentado seja mais um daqueles de moleques isolados social e afetivamente de seu meio, que resolvem explodir a sua frustração e seu isolamento através de fuzis e bombas caseiras. Os fatos nas próximas horas podem desmentir essa interpretação, mas pode ser que os jovens estivessem explodindo a sua solidão e seu isolamento com essas bombas deixadas na multidão.

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