sábado, 27 de abril de 2013

Bipolaridade e Base Egóica

Hoje temos a Doença Bipolar no poder. É um diagnóstico que, como o Universo, está em expansão. Lembro de um caso de uma paciente antiga, senhora muito elegante e contida, que sempre me segredou um certo desconforto com a vida de Revista Caras que vivia, com uma depressão bem controlada pelos medicamentos. Quando algo quebra essa camada de civilização, como um estressor a mais, um esquecimento do remédio no final de semana em algum resort da moda, ela se transformava numa louca descabelada, furiosa com as dívidas, vociferando contra aquela vida fútil, logo ganhou o diagnóstico de Bipolar e foi entupida de medicamentos sedativos que lhe custaram meses de apatia e dezenas de quilos na balança. Chegou no consultório enlouquecida com a médica e com histórico muito pobre de variações de humor para justificar o diagnóstico. Há algumas formas de Doença Bipolar que se manifestam tardiamente mas não parecia ser o caso. Começamos a retirada da medicação de forma gradativa e o que restou foi uma senhora deprimida e bastante infeliz com a vida que escolheu. Dedicou-se a desenvolver seus talentos artísticos, sob o olhar algo torto de maridão aristocrata. Não teve mais nenhum episódio de bancar a louca no meio de um jantar a rigor. A propósito, ela nunca foi Bipolar.
Descrita pelos franceses em meados do século XIX e chamada pelo alemão Emil Kraepelin no final do mesmo século de Psicose Maníaco Depressiva, o hoje chamado de Transtorno de Humor Bipolar de caracteriza por episódios de sintomas depressivos ou de quadros claros de Depressão que se intercalam com episódios de agitação e euforia que foram chamadas pelos clássicos de Mania. Há um dito popular que uma pessoa é muito “Oito ou oitenta”, o Transtorno Bipolar é a manifestação clínica do oito ou oitenta; há pacientes que no mesmo dia podem alternar períodos da mais aguda e dramática euforia com depressões terríveis, com risco suicida. É como se o termostato de nosso Cérebro Emocional nunca se ajustasse, tendendo para o calor e para o frio sem nunca encontrar seu ponto de equilíbrio.
A Doença Bipolar é crônica e seus episódios recorrentes mais ou menos de acordo com a carga genética e capacidade do paciente lidar com as suas variações de humor. Essa capacidade é estranhamente ignorada pela Psiquiatria, que está fascinada com populações de genes e seus sistemas de ativação e desativação. Comecei esse post falando que a doença Bipolar está no poder porque, como no caso de minha paciente antiga, o diagnóstico desse transtorno está sendo cada vez mais frequente

2 comentários:

  1. Fiquei pensando que talvez a mania seja uma defesa contra a depressão - uma defesa maníaca contra a depressão. É isso, não é, uma certa capacidade de pessoal de não deixar a depressão ir levando a vida toda de uma vez?
    Então, esse diagnóstico de doença bipolar é um pouco questionável.

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    1. Obrigado pela contribuição. Existe e vemos na clínica, a Defesa Maníaca, de fato, muitas vezes confundida com a Mania. Mas a Mania é uma doença e um achado clínico consistente, com a sua base genética cada vez mais estudada. A Doença Bipolar existe e é tratável, mas está sendo superdiagnosticada, na minha opinião.

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