sábado, 6 de abril de 2013

Cérebro, Mente, Psique

Acabei de abrir e-mail da colega e amiga Luciana Magalhães, que me passou comentários no Facebook sobre esse blog, que ela gentilmente divulgou. Fiquei particularmente mexido com os comentários do grupo de Ernani Fornari, que fazem um trabalho que me chegou ao conhecimento através da Lú, da Terapia do Realinhamento Energético. Ainda sei pouco sobre essa forma de terapia, mas já li e assisti um vídeo do Ernani e já percebi que ele compartilha dessa mania de síntese, que eu sei que é um caminho longo e tortuoso. Ernani é um buscador e mete o bedelho em toda forma de conhecimento que possa ajudar na Cura e nesse ponto, imagino que nossos trabalhos, embora bem diferentes, sejam muito próximos. Muito obrigado ao grupo pelos comentários e já os convido para comentar aqui mesmo, neste blog. Será uma honra.
Luciana também colocou o texto em um grupo junguiano. Li um comentário em inglês de um terapeuta junguiano americano desancando o meu texto, falando que eu me autodenomino “Terapeuta de Orientação Junguiana” mas sou mais um seduzido pela Ciência Materialista que acho que a Psique é um produto do Cérebro e que uso o termo Brain (Cérebro) muito mais do que Mind (Mente) ou Psique. Que delícia. O ataque é meio bobo e sectário, embora bastante compreensível, já que ele deve ter lido um post do departamento de Neurociência desse blog, coordenado pelo mesmo autor dos posts junguianos, no caso, eu. O bacana é criar debate e levantar questões. Vou contar uma pequena história pessoal para ilustrar esse assunto, e para esclarecer do que se fala neste blog.
Nos idos dos anos 90, eu fazia parte de um grupo do Instituto de Psiquiatria. Nossa verba era limitada e passamos a organizar cursos para pagar nossas contas, da secretária ao computador. Aproveitei a ocasião para falar do que realmente interessava: uma reflexão sobre o trabalho complementar da Psiquiatria e Psicologia na Clínica diária. O nome da série era: “Psiquiatria e Psicologia: Uma Ponte Possível”. Tudo bem que quase duas décadas depois está mais para “Uma Ponte Longe Demais” do que uma ponte possível. Lembro nitidamente de uma aula que eu preparei sobre Esquizofrenia, e da leitura tripla que tentei na época: os achados clínicos e como eles se agrupavam no que hoje entendemos como um espectro sindrômico; os achados biológicos e como funcionava o Cérebro de um paciente com esses sintomas; finalmente, descrevi como o então jovem psiquiatra suíço, Carl Jung, descobriu o Inconsciente Coletivo em uma frase de um paciente que hoje seria chamado de esquizofrênico. O paciente disse para Jung que o vento se formava a partir do movimento do pênis do Sol, que se movia para frente e para traz. Jung já era um estudioso de Religião e Mitologia comparadas. A ideia do Pênis do Sol existia na Mitra, uma das mais antigas mitologias do mundo. A Psique do paciente tinha reproduzido aquela ideia, e não havia a menor chance dele ser um estudioso da mitologia mitraica. A Esquizofrenia poderia ser, também, uma psique aberta para o Inconsciente Coletivo, como os xamãs eram e são. Ao final da aula, o chefe do grupo pediu a palavra e me desancou na frente de 200 pessoas, dizendo que aquela aula não representava o nosso grupo, era pessoal e não comprovada cientificamente. Não respondi, pois as pessoas não entenderam o ataque, mas na primeira reunião do grupo observei, com aquela moderação que temos aos vinte e poucos anos, que faltava cultura psiquiátrica, psicológica e científica para ele para entender aquela aula. E que a opinião dele não era a opinião do grupo, mesmo ele sendo nosso chefe. Não é uma coisa boa para se falar ao seu chefe, muito menos em público. Foi o último curso que eu organizei, e a Psiquiatria que ele defendia está no poder em todos esses anos. A Psicologia Profunda é vista como uma espécie de curiosidade e as Terapias consideradas são as de Orientação Comportamental e Cognitiva, passíveis de validação empírica.
Esse blog representa essa tentativa de síntese: me interessam, muito, os avanços da Neurociência; as intervenções a Nível de Ego, como as Terapias Comportamentais, ajudam milhares de pacientes, todo dia; a medicação bem empregada muda e transforma sofrimentos humanos atrozes; o trabalho na Psique Profunda chega nas verdadeiras origens do sofrimento e produz as verdadeiras transformações, as que vem de dentro, não de fora. Finalmente, não consigo acreditar numa clínica junguiana que não seja Multidimensional, onde Cérebro, Mente e Psique não se transformem entre si. Sei que isso gera incompreensão e ataques de todos que defendem o seu quadrado. Mas está na hora de se arrebentar com os quadrados para formarmos um mosaico.

5 comentários:

  1. Como seria a vida de cada um de nós sem a riqueza e criatividade pessoal? Somos construídos, feitos de momentos, experiências, lembranças, alegria, dor, doses de sofrimento, mas também de conquistas e esperança. Verdadeiro e autêntico quebra - cabeças que se modificam a cada encontro consigo mesmo e com o outro. Estrelas feitas do pó do Universo, facetadas pelo tempo que nos propõe a oportunidade de a cada dia de vida nos conhecermos, investigarmos nossos sonhos, desejos e por aí vai. Eu só tenho a lhe agradecer Marco Antonio pela amizade, sensibilidade, carinho,coleguimos de longos anos... Ajudar-me na lapidação em cada fragmento, pedaço desse mosáico, na junção das partes de mim mesma, e assim poder trocar, ajudar de alguma forma as pessoas que cruzaram, cruzam e cruzarão meu caminho. Gratidão.
    Beijo Lú ☆╮SOULÚ╰☆╮6 de abril de 2013 13:40

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  2. Inconsciente Coletivo ou Campo morfogenetico? A.M.

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    1. Oi, A.M. Não tenho certeza que Inconsciente Coletivo e Campo Morfogenético sejam exatamente a mesma coisa, mas são expressões de mesmos princípios. Isso pode dar um bom post, mas preciso estudar um pouco antes.

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  3. Depois que respondi este post dei uma pesquisada e descobri que campo morfogenetico ( teoria de Rupert Sheldrake) tem sua base fundamentada em experimentos da natureza e o Inconciente coletivo está mais relacionado com eventos humanos em massa. Mas daria um bom post.A.M.

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