sexta-feira, 23 de abril de 2010

Diablogs 4

Pegou-a chorando na cama, virada para a parede. Sentou suavemente ao seu lado, para não irritá-la.
Ficou por lá durante um tempo, entrando em sintonia com ela e sua dor. Finalmente, foi notada.
- Vai embora.
Respondeu de chofre:
- Vou não.
- Chata.
- Sou mesmo.
Esboçou um sorriso. O sorriso foi retribuído de pronto.
- Qual a má notícia?
- Qual má notícia?
- Não se faça de besta. O que aquele pau de enrolar linguiça falou?
Sorriu mais abertamente, lembrando da magreza do médico e desse apelido engraçado.
- Falou que eu fiz febre e não vou poder sair para o pátio hoje.
Abaixou a cabeça, procurando por palavras. A outra se antecipou.
- Sabe o que mais me irrita?
- Não?
- Como ele pode falar que eu "fiz" uma febre. Eu tenho mais o que fazer! Vou fazer uma febre?!
- É mesmo. Os médicos tem umas expressões estranhas... É verdade...
- Eu quero me fazer ficar boa.
- Eu também quero.
- Me ajuda, então?
- Ajudo... Vou te contar uma história. Você gosta?
- Gosto.
- Então vou te contar uma história todo dia, até você ficar boa.
Sorriu um sorriso ensolarado.
- Você ajuda as pessoas contando histórias?
- Claro. Eu sou uma colecionadora de histórias. Toda noite eu saio com um saco de Papai Noel e vou catando as histórias do dia. Aí eu trago para cá e dou para vocês.
- Quem falou que as histórias curam?
- Eu falei.
- Quer só ver.
- Quem viver, verá.
Apertou os lábios, numa espera.

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