quinta-feira, 1 de abril de 2010

A Motivação

Ano passado fui a um Congresso em Gramado, pulando de sala em sala a procura de visões novas e insights sobre o meu ofício, com resultados não muito bons, quando entrei numa sala onde se abordava as entrevistas motivacionais para pacientes dependentes químicos. O procedimento consistia em perguntar para o freguês se ele realmente estava afim de parar e o quanto se dispunha a colaborar com o tratamento. Um ovo de Colombo. O palestrante chamou a doença de vício e soltou uma ou duas frases dessas de programas de variedade sobre a dificuldade de "largar o vício" ("Vício", caro leitor ou leitora, é um termo há muito banido do trabalho com esses transtornos, por toda a carga pejorativa que o cerca). Pensei imediatamente no capuccino quentinho que me esperava nos stands (até a ANVISA descobrir e achar que o laboratório vai comprar a minha prescrição com um chocolate quente; aí vai ser pão amanhecido e água, mesmo)e comecei a salivar como um cão de Pavlov. Engraçado que a motivação seja tema das pranchetas de tanta gente mas o seu estudo sistemático seja ainda tão pobre em nosso meio. Veja nesse pequeno exemplo alinhado acima: lá estava eu, motivado, naquele frio de inverno gaúcho procurando por vida inteligente no Congresso.O simpático colega conseguiu murchar a minha motivação inicial com duas frases, onde o seu ponto de vista algo pueril sobre o assunto colocou-o próximo do que Ana Maria Braga diria sobre o tema. Imediatamente a minha barriga começou a roncar e a minha motivação passou a ser de saciar um instinto mais primitivo,o da fome. Eu poderia adiar a saciedade imediata desse instinto por um bem maior, o aprendizado, mas o palestrante não estava me motivando. Esta é a primeira grande questão sobre esse assunto: o Cérebro humano tem uma novidade evolutiva, o Cortex Frontal, que consegue planejar, adiar ou executar ações motivadas por uma determinada intenção. Podemos dizer que passamos a maior parte do tempo fazendo isso, atividades motivadas que visam um determinado resultado. A motivação é a faculdade de direcionar essa atenção e essa intencionalidade a um determinado objetivo. Nos próximos dias, vamos desenvolver melhor essa idéia, no sentido de entender em várias camadas o que regula e dirige a nossa Motivação. Nessa mesma bat-hora, nesse mesmo bat-canal.

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