quarta-feira, 9 de março de 2011

Avatar

Pode notar o seguidor desse blog que estou começando os posts com uma abordagem inicial do sujeito rabugento e hipercrítico que ainda dorme em meu mundo interno. Começo falando da primeira impressão, crítica e rabugenta, que o autor dessas mal tecladas tem, para depois a visão ir se modificando, espero, para melhor. Confesso que uso o blog para cuidar desse ser azedo, suavizá- lo. É uma forma de autoterapia, pode assim se dizer. Quando eu assisti Avatar pela primeira vez, achei-o uma bobajada New Age, um papo cabeça da bela e torturada alma americana, tentando purgar os seus pecados. Os habitantes de Pandora em tudo se parecem com os nativos americanos, esmagados e exterminados pelos conquistadores brancos, europeus, que dominavam várias tecnologias, inclusive a da morte. Achei que Avatar era uma forma de se idealizar e, alguns séculos depois, passar para o lado dos mais fracos e ensinar aos conquistadores a virtude do respeito a outra cultura e ao meio ambiente. Uma forma de voltar à cultura dos peles vermelhas, que respeitavam o seu meio e a natureza. No Avatar II, a missão, os americanos voltariam com um poderio redobrado para varrer aqueles selavagens do mapa. Essa é a visão algo rabugenta do filme de James Cameron.
Nesse feriado em que passei bem longe da folia, estudei e li bastante, inclusive um trabalho muito bacana que mostra o aumento progressivo de doenças como as coronarianas e o Câncer. Apesar dos bilhões de dólares investidos em pesquisas e tratamentos, as doenças estão matando mais e mais cedo do que há poucas décadas atrás. Posso dedicar vários posts a esse fenômeno, mas o que se observa do ponto de vista psiquiátrico é também uma escalada no uso de medicamentos, talvez o triplo de que se usava há duas décadas, sendo que as pessoas estão mais loucas, mais aceleradas e consequentemente, mais infelizes e doentes. Acho que estamos adoecendo de certa forma como os colonizadores que querem invadir e destruir Pandora, o planeta daqueles adoráveis seres azuis: somos tangidos à tríade Produzir/Consumir/Morrer que nos fazem apressar, passar por cima, seguir a ordem sem questioná-la. Visto um ano depois, Avatar pode estar falando, de um jeito algo adocicado, da necessidade imperativa de retomar contato. Contato com o que? Com o Outro. Os seres de Pandora conversam com as árvores, conectam-se com os seres alados para voarem e respeitam profundamente a ordem da vida, porque entendem que essa ordem é parte de mim e parte do mundo.
Avatar chega em um momento que uma das grandes fantasias da humanidade está chegando ao fim: a fantasia de que nosso planeta é um sistema aberto, que pode ser exlporado e devorado incessantemente que sempre vai se refazer, nunca vai se esgotar. Desde os colonizadores que dizimaram os índios nas Américas que essa fantasia é prevalente na cultura do conquistador: eu posso arrancar, matar, esfolar, que nunca vai acabar.
Hoje percebemos que o planeta e seus ecossistemas são um sistema fechado, portanto, esgotável e pior, está se esgotando década após década. Não vai adiantar nos escondermos na selva de Pandora para retomarmos contato com o príncipio intrínseco da vida, representado pela Mãe Terra, Gaia, ou a Grande Mãe. Talvez Avatar toque em um conceito budista que é ensinado há trinta séculos pelos monges, que é a Interdependência. Estamos numa cultura que exacerba e cultiva a sensação de separação entre pessoas, culturas, recursos. Tudo é uma coisa, um Isso que eu tenho que chupar e cuspir o bagaço. Essa cultura é errada e está começando a se modificar, cada vez mais na marra. Em nossas salas de terapia, podemos dar uma contribuição para esse processo. Assim como as salas de cinema.

Um comentário:

  1. Adoro Avatar!!
    Eu gostaria, se me permite solicitar, de ler outros posts sobre essa relacão entre doencas,progresso,etc,mencionado,sobretudo nessa abordagem de estarmos cada vez mais desintegrados de "nossa Pandora".
    Voltando ao cinema,você assistiu REVOLVER , de Guy Ritchie, dr.Spinelli?
    Bacana.

    Obrigada,
    Abraco,
    Sonia Salles

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