segunda-feira, 21 de março de 2011

Obesidade, Doença Inflamatória?

A Medicina, como qualquer ciência, é cheia de enigmas. A Tecnologia nos trouxe muito em termos de compreensão dos processos e formas de intervir nas doenças. A Medicina tradicional Alopática, da qual faço parte e trabalho, coleciona sucessos em todos os campos. Fracassamos redondamente com uma série de outras, como a epidemia de Obesidade.
Assistimos desde a metade do século passado a explosão de doenças inflamatórias. Uma inflamação dentro da cavidade de uma artéria é um exemplo. Se essa artéria for uma Coronária, levando sangue para o Coração, ou uma Carótida, levando sangue para o Sistema Nervoso, essa inflamação pode causar muita confusão um dia desses.
A atividade inflamatória é uma defesa de nosso organismo contra todo tipo de ataque, desde uma pancada a uma pneumonia. Nas últimas décadas a nossa alimentação foi ficando cada vez mais dependente de processos industriais, subtraindo nutrientes essenciais perdidos no processamento de alimentos e refinamento. Esses processos aumentam a nossa resposta inflamatória. Os reatores nucleares de Fukushima me lembram tristemente a nossa civilização inflamatória. Muita pressa, muito calor gerado, falhas no processo de resfriamento. Nossa atividade inflamatória pode estar assim, e nem imaginamos.
Já está muito claro há décadas que o açúcar refinado, a farinha branca existente em pães e bolachas em muito contribuem para levar uma mensagem falsa ao Cérebro, que é: "Está faltando comida". Lembro de minhas aulas de Nutrição, no segundo ano de faculdade, das fotos de bebês severamente desnutridos e obesos, em regiões onde as mães dispunham de muita farinha e poucos vegetais e carnes para alimentá-los. A atual epidemia de Sobrepeso e Obesidade pode ter muito a ver com isso. Muita comida processada e reprocessada, muita farinha, açúcar e poucos vegetais.
Aqui em nossa clínica estamos contando já há algum tempo com uma Nutricionista na equipe. Sempre que eu encaminho alguém para ela, vejo a expressão de desalento no rosto da pessoa que já tentou vários e exaustivos regimes, sempre terminando cpm a recuperação do peso perdido, muitas vezes com lucro. O pior é que normalmente a pessoa incorpora o senso comum que transforma a pessoa portadora dessa doença em criminosa. "Eu não tenho força de vontade". "Eu sei o que preciso fazer, a hora em que eu estiver pronta, vou fazer", ou, como um gordinho famoso falou: "O problema é a minha Tireóide".
Há algumas semanas temos feito reuniões para conjugar o trabalho da Nutrição, da Psicologia e da Psiquiatria para decifrar esse enigma: como ensinar as pessoas a aumentar a sua consciência alimentar, como modificar gradativamente os padrões alimentares e transformar o emagrecimento em uma paixão, em vez de uma tortura. Será que conseguiremos? Os resultados iniciais são bons. Mas não é essa a minha pergunta. A minha pergunta é como alguém pode montar um serviço de atenção ao Sobrepeso e Obesidade que não tenha sempre uma equipe dessas atuando.

2 comentários:

  1. Eu também tenho uma pergunta:
    _ Como, com um tema desse, ainda não há nenhum comentário?Rs...rs.
    O que as pessoas mais gostam são das pílulas.Remedinhos, feijões-mágicos que as fazem sentir lépidas, magras, inapetentes.
    Obviamente, quando há pertinência, são necessárias, adequadas, importantes,são ótimas.
    Mas modificar todo processo alimentar...dá trabalho e leva tempo, e dedicacão e isso nos remete a idéia de pressa, correria, resultados imediatos, sucesso em tudo na vida.
    Tema para muuuuuuuita reflexão...

    Abraco,
    Sonia

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  2. Interessante este tópico. Como abrir mão dos chamados "prazeres"??!!Na verdade comida pelo que observo é sinal de fuga... vc foge comendo demais ou comendo alimentos que te trarão aquela falsa sensação de "felicidade"(doces,chocolates, pães etc.)Desde pequeno aprendemos: se vc está triste coma um chocolate... ou sua mãe falava :come mais.... vc ouve isso desde a infância. Então acabamos relacionando comida como algo que vai camuflar o problema.Sou exemplo de alguém que mudou estes conceitos.Nunca fui gorda mas amava doces.Prefiria os doces do que comer comida. Mas quando coloquei um objetivo relacionado a outros fatores em minha vida consegui mudar.Posso falar que comer é hábito e educação.Vc aprende a comer direito e aprende a controlar seu emocional não utilizando comida como fuga ( que tal usar um método de autoconhecimento!!)Na minha opinião remédios não funcionam..a pessoa só desfoca o problema. O que funciona é força de vontade e querer realmente enxergar onde mora o problema. A maneira como vivemos tb é desculpa. Vc pode correr o dia todo e conseguir se alimentar direito desde que se proponha a isso.O ser humano gosta de pular de galho em galho para não dar de cara com os problemas interiores. Daí tudo passaa ser desculpa para continuar comendo ou vivendo de determinada maneira.Talvez vc não precise realmente de equipes... vc só precise para de olhar para fora e começar a olhar para dentro de vc...mas ainda assim é mais fáil pagar alguém para que esta pessoa olhe por vc ou te faça olhar......eita preguiça da vida!A.M.

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