segunda-feira, 7 de março de 2011

O Discurso do Rei

Ontem finalmente fui assistir o oscarizado "O Discurso do Rei", um filme bem feitinho para o Oscar pela história de superação pessoal e esperança bem ao gosto da Academia. Confesso que fui com uma certa má vontade por ter gostado muito do "A Origem", que me gerou um post há alguns meses. "A Origem" é um filme complexo, que exige muita atenção e participação do espectador. Merecia o Oscar.
Para quem ainda não viu, "O Discurso do Rei" narra uma saga do Príncipe Albert, pai da atual Rainha da Inglaterra, Elizabeth, às voltas com uma gagueira desde a sua primeira infância. A primeira cena é particularmente angustiante, quando o Príncipe recebe a incumbência de seu pai, o Rei George V, de fazer um discurso ao vivo no estádio de Wembley para todo o reino, na época um Império. Ele gagueja dolorosamente, para constrangimento de todos (se fosse hoje em dia, seria vaiado).
O filme narra a sua busca pela cura, com a intervenção amorosa de sua esposa (aliás, meninas que se queixam dos homens e de sua ausência, nos Transtornos Obsessivos Amorosos: onde estão as mulheres que ficam ao lado de um homem em sua fragilidade como aquela esposa, heim, heim?). Por intervenção de sua esposa ele procura um Terapeuta que usa métodos pouco convencionais para recuperar os transtornos da fala. É bem difícil um terapeuta não se identificar com o personagem de Geoffrey Rush, Lionel. Ele faz tudo que um bom terapeuta deve fazer: humaniza o paciente (aqui você não é o Duque de York: aqui você é Bertie), faz o enquadre correto (recusa-se a atendê-lo no palácio, delimita as regras do processo e faz o futuro rei cumprí-los), faz apostas com ele para mostrar que consegue desempenhar as tarefas, vai trazendo um homem traumatizado e ferido para o centro do processo terapêutico. É tarefa do terapeuta, entre outras coisas, mostrar para o paciente que a sua capacidade está ali, intacta, pronta para ser usada se o medo for apenas enfrentado.
Há uma cena particularmente bonita, em que Bertie, minutos antes de seu coroamento, confronta Lionel, que não tem nenhuma formação acadêmica para tratar transtornos da fala. O futuro rei sente-se traído, mas Lionel não se dá por achado. Ele começara em seu ofício após a Primeira Grande Guerra, recuperando soldados que não conseguiam mais falar depois da experiência do horror da guerra. Ele foi aprendendo do jeito que aprendemos, na raça, errando, revendo, reconstruindo uma trajetória e várias feridas. Lionel sabe que a gagueira de Bertie tem uma origem mais profunda do que uma dificuldade funcional ou neurológica.
"O Discurso de Rei" vem em boa hora para os terapeutas, nesses tempos em que a tecnologia, a indústria farmacêutica e a manipulação genética tentam substituir a relação entre humanos. A cura se dá por um ato de encontro, o encontro será possível após muitos e muitos desencontros, como o filme mostra de forma magistral. É fácil perceber o trabalho de Colin Firth predestinado ao Oscar. O que não dá para entender é que Geoffrey Rush não tenha levado mais uma estatueta para casa.

Um comentário:

  1. Eu tb acredito que "A origem" merecia um Oscar....depois de matrix foi um dos únicos filmes que posso dizer que me impressionou!!! A.M.

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