domingo, 13 de novembro de 2011

A Mesma Praça

Foi uma semana cheia, bem cheia, no consultório. Fico um pouco aflito de ficar tanto tempo sem escrever o blog, mas o mesmo demanda um bom estado de espírito, um relaxamento para que o texto se desenvolva. Não dá para fazer isso entre uma consulta e outra, ou na correria, ou em meio a muito cansaço.
Agora estou em Lambari, Minas Gerais. Sul de Minas. As pessoas me perguntam se eu tenho família por aqui, de tão pouco usual que é vir para cá. Lambari é uma pequena cidade do Circuito da Águas, que tem São Lourenço, mais famosa por sua água, o que se tornou uma marca visível em grandes supermercados; mas tem também Caxambú e Cambuquira. Aqui é um reduto de cariocas, procurando por montanhas e água mineral na fonte. Venho aqui desde a minha infância, seguindo uma tradição familiar iniciada por meu pai. Já fazia um bom tempo que eu não vinha e ontem foi uma emoção reencontrar essa pequena cidade, onde o tempo parece não passar. A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores e o mesmo jardim.
Para completar esse clima de filme italiano ontem fomos ver o show de Jerry Adriani nesse hotel. A maior parte dos leitores desse blog nem deve saber da existência de Jerry. Ontem ele passou pelas fases de sua carreira, cantor de músicas italianas, cover de Elvis Presley, de quem herdou a impostação característica, passando pela Jovem Guarda para terminar nos bailões da saudade e nas vovozinhas histéricas. Um Justin Bieber da terceira idade. Ontem no show eu fiquei sinceramente preocupado com uma pequena vovó (quem leu esse blog anteriormente sabe do meu apreço pelas vovós) que se esgoelava em todas as músicas do velho ídolo. Fiquei procurando pelo desfibrilador.
Músicas de tamanha ingenuidade. Pensei nos rappers americanos que podem dedicar uma discografia (?) ao próprio bilau, com letras em homenagens ao próprio umbigo, os roqueiros grisalhos tentando segurar a onda e lá estava Jerry Adriani entoando “Doce doce amor\Diga onde está\diga por favor\doce doce amor”. Pode parecer um tom assim meio melancólico, nostálgico, mas não é, não. É ternura, pura e simples. Eu, como Quentin Tarantino, tenho uma memória paradoxal para os anos 70, os cantores da “Buzina do Chacrinha”, as costeletas de Odair José e o rei Roberto Carlos. É uma brasa, mora. Diziam que a entonação de Renato Russo tinha sido decalcada da impostação de Jerry Adriani, que por sua vez derivara do vozeirão de Elvis Presley. Essa é a nossa cultura pósmoderna, nada se cria, tudo se transforma. O meu momento tiozinho não foi com as músicas da Jovem Guarda (estou muito mais para a Tropicália, se é para falar de anos sessenta), mas quando Jerry cantou “Monte Castelo”, da Legião Urbana . “Ainda, que eu falasse a língua dos homens\ E falasse a língua dos anjos\ Sem amor, eu nada seria”. Que banda hoje, faria uma música alternando uma Epístola de São Paulo com os versos de Camões?
Jerry Adriani gravou uma música nova, sobre o fim do mundo, em 2012. Deve estar acabando, mesmo, nosso mundo acelerado.

Um comentário:

  1. Eu pertenço a mesma época que você, então falar em Jerry Adriani me levou pra muitos anos atrás muito esquecidos. Nem eu sabia que ele ainda estava a fazer shows. Também fui uma fã da velha jovem guarda. Você também me fez lembrar dessa região das águas, fui algumas vezes pra Poços de Caldas, São Lourenço, Caxambú quando pequena com meu Pai, visitar meu bisavô que tinha uma casa pra passar os verões em São Lourenço (ele não gostava da época de verão no Rio de Janeiro, onde vivia). Depois só visitei esses lugares quando meus filhos estavam no início da adolescência para conhecerem, tudo se encontrava do mesmo jeito, mesma praça, igrejas como voce mesmo disse. Isso me faz sentir e pensar que precisamos nos esforçar muito pra termos acesas as lembranças gostosas de nosso passado diante do frenesi de vida que vivemos. É uma ginástica mental procurar essas lembranças, e por mais que possam parecer momentos "bobos", com coisas engraçadas e simples que aconteceram, assim mesmo a sensação é muito agradável.
    Aproveite o clima e as águas desse lugar.
    Bjs
    Luciana

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