segunda-feira, 9 de julho de 2012

As Seitas e as Igreginhas

Há poucos anos atrás as nossas livrarias receberam uma carga de livros de L. Ron Hubbard, criador e guru de uma religião americana chamada Cientologia. Eu que sou fuçador fui lá comprar uns livros para tentar entender porque gente inteligente e famosa se submetia a esse culto mal afamado entre os não praticantes. Um amigo meu, também psiquiatra, veio almoçar um dia desses aqui em casa e viu um livro da Scientology na minha bicicleta ergométrica e deve ter ficado apreensivo, mas é discreto demais para perguntar quem estava lendo aquela coisa e por que. Será que seu amigo, no caso, eu, havia abandonado o rigor científico e se convertido a uma seita bizarra? Eu notei a dúvida, mas não fiz questão de esclarecê-la. Vou falar sobre isso agora, vamos ver se ele frequenta esse blog.
Na semana passada, o bonitão Tom Cruise levou um pé na bunda de sua segunda esposa, Katie Holmes. Os tabloides e canais de fofocas disseram que a gota d´água deu-se quando a filha do casal, Suri, foi entrevistada por membros da Cientologia à sua revelia. Tom Cruise é um famoso adepto dessa religião. Katie Holmes, pelo jeito, nem quer ouvir falar nela.
Anteontem a Folha de São Paulo publicou um artigo de Hélio Schwartzman comentando a fofoca, e fazendo alguns comentários desairosos sobre a Cientologia, que segundo ele acredita que somos descendentes de uma divindade extraterrestre e por aí vai, com um tom meio debochado. Sorte dele que não está nos Estados Unidos. Uma parte da Teoria de L. Ron Hubbard deriva da Teoria dos Jogos, portanto esmagar o adversário pode ser um objetivo de seus seguidores. Isso garante aos detratores da seita perseguições e intimidações dignas da SS de Hitler. Te cuida, Hélio. Para os leitores desse blog, percebam que não vou colocar o termo Scientology nos links, para evitar perseguições e matérias pagas para me aniquilar.
Os poucos livros que eu li mostram que L. Ron Hubbard foi um grande compilador de estudos e correntes filosóficas e tecnologias nascentes de exploração da mente. O braço terapêutico do babado, a Dianética, procura recuperar arquivos e sistemas de crenças disfuncionais que interferem no processamento de informações do Tetan, que é o paciente. Tetan é uma unidade espiritual que vive dentro de nosso arcabouço de proteínas, gorduras e água que é o nosso corpo. A moderna psicoterapia não chama o paciente de Tetan, mas recupera essas memórias disfuncionais em diversas formas de ajuda. Ao processá-las, alivia o sofrimento do paciente.
É uma pena para Tom Cruise que a Cientologia tenha se tornado uma seita facistóide, muito em função do próprio Hubbard, que terminou seus dias exilado dentro de sua própria paranóia; ele escreveu em seus preceitos que seus membros são proibidos de criticar publicamente a sua religião. Como ele pode dar um nome que deriva da Ciência e proibir a Crítica? Se você proíbe a Crítica, proíbe também a Reflexão. As construções teóricas precisam ser testadas, replicadas, discutidas. Mas não são poucos os círculos herméticos, as sociedades secretas que repetem os mesmos cânones sem permitir a Crítica e a Reflexão.
A Scientology não é tão francamente delirante como foi colocado no artigo da Folha. É um método de entendimento das bases e das matrizes do jogo que chamamos vida. Eu joguei fora a maioria dos livros que eu comprei, mas guardo um até hoje sobre as dinâmicas desses jogos e as causas de alguns sofrimentos humanos. Aposto que as pessoas continuam sendo dessa religião porque se beneficiam desses preceitos e jogam melhor os jogos de nossa sobrevivência. Mas meu amigo pode ficar tranquilo, que eu não pretendo nem remotamente ser um adepto. Já tenho em meu ofício uma quantidade suficiente de seitas e igreginhas teóricas para lidar.

4 comentários:

  1. Cada religião faz seus "seguidores"acreditarem naquilo que lhe é mais "conveniente" e, o ser humano, em sua maioria pouco questionador acaba por deixar-se levar pelo pensamento em massa nao saindo de sua zona de conforto. O que me faz continuar seguindo este blog é justamente o fato do "autor" do mesmo ter a mente aberta, ser curioso e deixar suas certezas sempre em aberto. As certezas nos cegam e nos deixam "burros". É lógico q uma hora ou outra nos identificamos mais com um conjunto de crenças (precisamos delas) mas mesmo assim as dúvidas e os questionamentos devem sempre estar em evidencia. Se eu fosse seu amigo nao ficaria preocupado em vc se tornar um adepto da cientologia.... ficaria preocupada se vc fosse adepto de qq religião de maneira "cega" ou até mesmo se vc "vivesse" no rigor científico, sem conseguir "enxergar as nuances da vida com olhos mais sábios"! os extremos nunca são bons e nos fazem perder muito porque ficamos limitados há tao-somente um grupo de crenças... Os padroes e os paradigmas sao mais difíceis de serem quebrados qd existe um radicalismo!A.M.

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  2. Olá Spinelli,

    Também li o artigo na Folha de Hélio Schwartzman. Na verdade, até pensei em mandar uma carta na "palavra do leitor" sobre isso. Ele também disse não ver diferença entre uma religião que (segundo ele) acredita que somos descendentes de uma divindade extraterrestre e uma religião que acredita que viemos da costela de Adão. Coitado, não sabe interpretar!Não entende sentido figurado de textos.

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    1. Esqueci de me identificar...Lúcia Andrade

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  3. Acompanhei de perto muitas questões com você sobre ciência da religião. Discutimos muito o questionamento e a crítica. Porém muitas vezes não percebi o óbvio. Hoje aprendi que tudo isso não se discute com a fé. Muitas vezes ficamos tão vulneráveis que não conseguimos questionar nada. Somos levados simplesmente. Alguns lá na frente compreendem e se retiram desse ciclo. Outros jamais enxergarão. Um Abraço. ahhh adorei seu blog. Parabéns.

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