sábado, 21 de julho de 2012

O Dia do Coringa

Não assisti ao novo filme do Batman e acho que vou demorar a fazê-lo. Na sua estréia em uma cidade do Colorado, Aurora, houve um novo massacre de um atirador, em roupas militares semelhantes a videogames tipo “Call of Duty”, que jogou bombas de efeito moral e abriu fogo contra seres humanos anônimos, que ele não conhecia, matando, até agora, 12 pessoas.
Nas horas que se seguem a um evento como esse, vemos um desfile de especulações e informações imprecisas, sobretudo nessa hora em que fofocas e boatos se espalham de forma viral na web. Uma informação curiosa, que eu não sei precisar se foi uma dessas fofocas que são reproduzidas por sites e blogs, é que o atirador tinha o cabelo pintado de vermelho e se dizia “O Coringa”.O último filme da franquia Batman, “O Cavaleiro das Trevas”, eu, na verdade, detestei. Saí do cinema com dor de cabeça de tanta burrice, veleidades e bobagens moralistóides. Vou fazer um sumário para não parecer uma tia rabugenta: o mocinho incorruptível, que iria livrar Gothan City da corrupção, enlouquece quando a sua amada morre em atentado terrorista; de paladino da justiça, ele vira o Duas Caras e ameaça uma criança; Batman viola o sigilo de todos os celulares para localizar o Coringa, como o governo de Bush invadindo o sigilo e a privacidade em nome da "Guerra ao Terror" . O comissário Gordon concorda em transformar o Batman em vilão perante a Opinião Pública, por motivos inespecíficos. Vai daí para pior.Aquilo me pareceu uma analogia da perfeita esquizofrenia paranóide que acometeu os americanos após o Onze de Setembro; acabou a privacidade, a linha de nitidez entre Certo e Errado e todos parecem atirar a esmo, em inimigos reais e imaginários. De bom no filme, havia o Coringa, papel que deu o Oscar póstumo a Heath Ledger. Debochado, caótico, violentíssimo, o Coringa era o único personagem com alguma densidade naquela massaroca.
Ouvi no rádio uma comentarista da CBN questionando no que o atirador de Aurora estava mirando: na Sociedade? No Outro? No Batman? Se ele se identifica mesmo com o Coringa, estava mirando no Sistema?O rapaz que matou doze pessoas no cinema não tinha antecedentes criminais. Consta de sua ficha uma multa de trânsito. No Brasil, houve um antecessor desse rapaz, Mateus Meira, que abriu fogo contra uma platéia num shopping de São Paulo, matando três pessoas. O psiquiatra que atendia o rapaz, cara absolutamente sério e dedicado, até hoje é apontado nos cochichos como o “psiquiatra do atirador do shopping”. A defesa de Mateus tentou de toda forma vincular o atentado ao seu vício em jogos de tiro. Como esse rapaz do Colorado, Mateus vivia uma vida solitária, enfiado na internet, com um isolamento social progressivo que pode multiplicar os demônios em nossa psique. Incomunicável e paranóico, um rapaz sem antecedentes criminais pode transformar a vida real em videogames violentos, achando que os mortos podem levantar e um reset pode consertar todo o estrago.
A minha resposta para a pergunta emocionada da comentarista é: esse rapaz estava atirando no Silêncio. Um Silêncio insuportável.

Um comentário:

  1. Spinelli e cadê o cara que arranca a arma do Mateus e salva muitas vida . Afinal ele é o herói !!!!

    ResponderExcluir