domingo, 28 de outubro de 2012

A Fratura

Estou aqui bestando no final do final de semana, vendo a “Sessão de Terapia” no GNT, com as melhores cenas geralmente de Maria Fernanda Cândido, no papel de Júlia e ZéCarlos Machado, no papel do analista Théo. As cenas são carregadas da tensão de uma paciente transferida e tentando achar uma brecha na expressão facial de Théo. Ela quer ficar com ele, quer ser a mulher de sua vida e o terapeuta ali, fazendo cara de terapeuta. Zé Carlos Machado não consegue traduzir com clareza a tensão de um homem de mais de cinquenta anos seduzido por uma mulher mais jovem e bela, querendo se entregar para ele. A luta entre o homem e o curador não fica clara nos olhos de Théo. Ele parece e bobo e suas respostas, ainda mais bobas. Júlia o convida a examinar e expor com clareza os seus sentimentos, para poderem lidar com eles. Estranhamente, nesse ponto, a paciente é que está sendo terapêutica e acolhedora, enquanto o terapeuta está todo duro, soltando alguns lugares comuns.
Particularmente bonita é uma cena em que Júlia descreve o que ela vê no homem que está na sua frente. Ela não acha que Théo é o herói, o analista todopoderoso. Ela percebe que algo dentro dele está quebrado, e o que está quebrado tem uma infinita tristeza. Se os dois pudessem juntar as suas tristezas, alguma coisa nova poderia surgir no meio do gigantesco vazio que há entre duas pessoas e suas faltas. É uma fala tão bonita que descreve um ponto nuclear do encontro de duas pessoas numa sessão de terapia. Ele desatou a perguntar e mesmo censurar o que Júlia dissera, por que ela não conseguia se gostar, por que dizia que se detestava há trinta e cinco anos. Ai, meu Deus.
Júlia enxergou a fratura. O homem fraturado entre o seu desejo e sua dor, sempre transido entre uma coisa e outra. O homem da Terapia Comportamental é muito chato, cheio de fobias e obsessões que devem ser eliminadas às pauladas pelas orientações e direções do terapeuta marceneiro psíquico. Júlia cutuca num lugar onde a medicação e a psicoeducação nem imaginam que exista: o lugar do paradoxo, onde a ferida e a grandeza de um homem estão no mesmo lugar. Júlia descreve que algo está quebrado dentro do homem que tenta tratá-la. O que ela não sabe é que essa fratura é a nossa natureza humana.

2 comentários:

  1. Muitas vezes no doloroso processo terapêutico, a paciente exerce um papel de recptora e acolhedora .... Talvez aí, a natureza humana se mostre por meio de sua fragilidade ... Deixando-se seguir o curso da vida, e nāo, dos manuais que os homens insistem em praticar.
    É incrível como na relaçāo médico-paciente existem detalhes inesperados e próprios sómente daquele processo construído ali na sala de terapia! E nāo adianta rotular, muito menos, procurar em livros ... É como cada ser vivo, que apesar de tantas semelhanças, cada um possui seu código genético.
    O Terapeuta e seu sacerdócio ... E sua capacidade de lidar com suas fraturas.

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  2. Oi Marco, vc está se inspirando bem para escrever o blog hein?! Parabéns pela súper motivação!!!
    Vc acha que o Théo é de linha comportamental???

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