sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Bullying

Pois estou aqui, num chalé com o pé literalmente na areia, em Natal, ouvindo o mar. Direto no Congresso Brasileiro de Psiquiatria. Pasmem, apesar do local descrito, estou indo para o Congresso, e vou ser um repórter nesse blog sobre os temas mais interessantes. O título desse post já é uma dica sobre o tema de hoje.
Estamos na cidade onde existe um dos mais avançados institutos do Cérebro nesse país, chefiados pelo médico com maiores chances de receber o primeiro prêmio Nobel para um brasileiro. Quantos colegas do Instituto do Cérebro foram convidados a palestrar no glorioso e trigésimo Congresso Brasileiro de Psiquiatria, organizado pela ABP (Associação Psiquiátrica Brasileira)? Se alguém chutou nenhum, ganhou o prêmio.
Apesar de estar pasmo com esse fato, que demonstra que sai diretoria, entra diretoria e as panelinhas não se desmancham, ainda há vida inteligente no Congresso.
Tatina Moya, jovem pesquisadora paulista, radicada no Rio de Janeiro, fez um relato sobre o atendimento de pessoas envolvidas em Bullying. Lembrei de um texto clássico de Freud sobre violência, chamado "Uma Criança Está Sendo Espancada". Nesse ensaio impressionante, Freud descreve que, numa cena de violência, temos três posições de identificação: alguns se identificam com o Agressor, outros com a Vítima, finalmente outros ficam numa posição neutra, a do Observador. Esse texto já tem quase um século e ainda descreve, com admirável simplicidade, o que acontece com as vítimas de abusos em sua vida: alguns repetem as agressões e passam a ser pessoas violentas e abusivas, outras permanecem na posição de vítimas e procuram inconscientemente por relacionamentos onde recebam maus tratos e a grande maioria acaba anestesiada diante da TV ou da violência, sem esboçar reação. Ou, pior, algumas pessoas na posição de autoridade repetem a apatia do Observador.
Não sei se Tatiana leu ou teve contato com o texto de Freud. Ele anda muito fora de moda nesses tempos de Psiquiatria Biológica. Mas a parte magistral de sua apresentação foi justamente ter abordado as três pontas desse triângulo. Todo processo de bullying tem esses participantes. O Perpetrador, normalmente o menino mais velho, mais popular ou naturalmente inclinado à violência; a Vítima, a criança mais tímida, gordinha ou com alguma diferença visível para os valentões; e, talvez, a pior parte do triângulo, que somos nós, observadores impassíveis. Tatiana colocou, com propriedade, que muitas escolas ou pais entendem que isso é uma fase natural, que vai passar quando os anjinhos crescerem. Estudos de suicídio mostram que muitas pessoas podem tentar contra a sua vida décadas depois de sofrer assédios e exposição ao ridículo entre seus pares. As marcas são profundas e duráveis. Outro dado de pesquisa impressionante é que o risco de depressão e suicídio é importante tanto entre as Vítimas quanto entre os Perpetradores. Há um risco maior para os garotos que ficam nas duas posições, passando de vítimas a agressores. Quanto maior e mais constante a experiência com a violência e o abuso, maior o risco psiquiátrico e maior o risco de suicídio no futuro.
Outra pesquisadora descreveu, com emoção, que foi votar nessa última eleição numa escola onde havia um cartaz que dizia: "Vamos expulsar o Bullying dessa escola". Ela conversou com o diretor, que descreveu uma política de elaboração e diálogo com todos os participantes do Bullying. Diante da violência, todos são vítimas. Mas nada é pior do que cruzar os braços.

Um comentário:

  1. Vocês escolhem bem os lugares onde vão fazer os congressos! Natal é super legal! Aproveite!
    Abços,
    Lúcia

    ResponderExcluir