sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A Hora Mágica

Já está frequentando os divãs e a minha sala a nova série do GNT, dirigida por Selton Mello, "Sessão de Terapia". Para quem não conhece, a série é a adaptação de um trabalho originalmente feito em Israel, que já foi adaptada em mais de quarenta países, e é sobre um psicoterapeuta que vai atender um paciente por dia, todo dia. Téo, o terapeuta brasileiro, vai atender Maria Fernanda Cândido na Segunda Feira, um atirador de elite na Terça, um casal na Quinta e assim por diante. Vamos acompanhar, inclusive, o próprio terapeuta ser atendido por sua antiga mestra, nas Sextas Feiras.
Os pacientes já estão fazendo comparações entre o Téo e seu terapeuta, no caso, eu. Vem me perguntar se eu estou gostando da série brasileira. Eu dou uma de rabugento e digo que não estou gostando. Não estou gostando e vejo todo dia, se é que me entendem. Um problema para mim é que eu já havia assistido a série americana, com Gabriel Byrne fazendo Paul, o psicoterapeuta. A série americana é sem vaselina. A sessão reconstrói quase com perfeição o ambiente analítico. Nunca vi o cinema ou a TV conseguir isso. Os silêncios, os olhares, a inflexão da voz, tudo recria o campo psíquico que se forma quando analista e cliente se debruçam sobre uma vida e suas histórias. Não é uma conversa comum, não é bate papo. Há uma pessoa estabelecendo e disponibilizando a sua Escuta e sua atenção flutuante para entrar dentro de outra Subjetividade, todo o campo de experiências e códigos que definem e dão o contorno a uma vida. É um processo longo, meticuloso, que depende muito da confiança mútua e do pacto que se estabelece entre os participantes do campo analítico. Gabriel Byrne conseguiu recriar esse campo psíquico como ninguém, ele realmente entendeu esse campo de escuta, recheado de silêncios e de exploração delicada de lembranças. A versão americana, chamada de "In Treatment", é mais lenta e mais fiel a uma sessão de psicoterapia. Talvez por isso mal completou a terceira temporada e não chegou ao Brasil em nenhum desses boxes de megastore. Muita gente achou a série muito chata.
Selton Mello já deve ter recebido essa informação. Criou um ritmo mais rápido, dinâmico, que às vezes parece um bate boca entre os pacientes e Téo. Ele mal consegue estabelecer o campo de escuta e já vem a paciente falar que está apaixonada por ele, o outro manda calar a boca e o marido espreme uma resposta para a questão do casal. Téo vai sendo espremido, questionado e em alguns momentos francamente agredido pelos seus analisandos. Parece que a terapia é uma espécie de MMA analítico e que o terapeuta precisa ser treinado pelo Anderson Silva para poder sentar em sua cadeira. Uma vez eu estava orientando uma aspirante a terapeuta e ela contou que tinha levado um coice desses de sua primeira paciente. Eu falei para ela que "benvinda ao clube". Ela abriu uma Clínica de Estética. Que ficar levando coice de paciente, que nada.
Quem nunca fez psicoterapia e assistir à série pode ficar tranquilo ou tranquila que o dia a dia de um consultório tem muito mais afeto e muito menos bate boca do que na série de TV. Selton Mello e os atores querem prender a atenção do público, então as sessões serão mais "calientes" do que na vida real. Mas uma coisa é realmente bem legal de se assistir: é como o terapeuta se coloca com muita firmeza na posição de que não vai oferecer respostas aos pacientes, mas vai ensiná-los a entender as sua questões e procurar as suas respostas dentro de si, não na boca de um especialista. Nessa era de tantos palpiteiros dizendo para as pessoas o que elas devem pensar, como devem se vestir e o que devem dizer em todas as ocasiões, é um grande alívio ver alguém que não se acha o sócio majoritário da verdade do Outro tentando ouvir e ajudar, na sua hora mágica de cinquenta minutos, semanal.

3 comentários:

  1. Nunca assisti este programa e provavelmente não vou assistir.
    A vida é mais legal que a arte....
    Bjos,
    Lúcia

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  2. A arte imita a vida e às vezes dá uma melhorada no visual e facilita a compreensão.

    Assisti e vou ver mais alguns episódios...

    Edison

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  3. Ops, quero minha hora de 50 minutos tb !!!


    Edison

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