sábado, 20 de outubro de 2012

Média, Pão na Chapa e Memória

Perto de meu consultório tem uma padoca que faz a melhor Média com Pão na Chapa da região. Há outra que a média é melhor, o café é mais forte, mais encorpado e o gosto do café com leite, muito melhor. Mas o Pão na Chapa dessa padaria é um lixo. O chapeiro chega a deixar o pão sem manteiga em vários pontos. Portanto, se considerarmos o conjunto da obra, a padoca A tem uma Média pior, mas um Pão na Chapa incomparavelmente melhor do que a padoca B. Se os visitantes desse blog imaginam que essa será uma coluna de gastronomia de padarias, se enganam. Falaremos sobre a Neurociência dos garçons. Especificamente dos problemas neuropsicológicos que parecem afetar os garçons de padarias e de outros estabelecimentos, sobretudo os mais cheios. Onde eu estava mesmo? Ah, sim, na padoca A. Peço religiosamente a minha Média com Pão na Chapa. Só há uma ressalva. O pão na chapa não pode vir prensado. As padarias adotaram a moda lamentável de colocar o pão com manteiga, verdadeiro ícone de nosso imaginário brasileiro (basta lembrar da música de Noel Rosa, em que pede “Uma boa Média que não seja requentada/ Um pão com manteiga à beça...”). O que diria Noel Rosa, com seu proverbial mau humor, desses pães descaracterizados na prensa, onde o pão e a manteiga perdem o seu gosto, completamente? Triste é o país que abandona sua identidade cultural. Mas é óbvio que eu não falo nada disso para a garçonete que me olha com aquele olho de sono de quem já está lá há muito tempo e não quer ouvir sobre a importância de não amassar o Pão na Chapa. O fato é que, mais de uma vez, faço o meu pedido de forma didática: “Por favor, uma Média e um Pão na Chapa sem prensar”. Observe que eu não aumento a complexidade do pedido, solicitando uma Média mais forte, com mais café, por exemplo. Isso poderia congestionar as redes neurais da moça. Peço, apenas e tão somente, para ela não prensar o puto do pão com manteiga. A minha mente científica consegue catalogar uma incidência de quase 100 por cento de erro na primeira tentativa. Quando a moça aparece com aquele pão que o diabo amassou eu observo que pedira sem prensar. Elas me olham com aquela cara de que vai cuspir em todo o meu pão não prensado e me punem com alguns minutos de atraso, o que esfria a minha Média. Nas outras vezes (porque eu volto a essa padoca, na semana seguinte), quando eu falo para fazer um Pão na Chapa Sem Prensar, Porra, a moça já lembra do estimulo aversivo da devolução e, dessa vez, acerta. O problema é que na outra semana terei que repeti o processo de aprendizagem com outra garçonete, pois a anterior já deve ter tido um ataque de nervos e deixou o emprego. Não por minha culpa, eu espero.
Qual a origem da Amnésia dos Garçons? Observem que eu não vou nem abordar o Transtorno de Déficit de Atenção dos Garçons. Você pode acenar, gritar, convulsionar na mesa que o cara continua olhando para um ponto perdido no infinito, apenas para não fazer contato visual com o freguês. Mas não. Vou falar do problema específico de Memória dessa valorosa categoria profissional. Quando queremos guardar uma nova memória, temos mecanismos de Memória Rápida e Ultrarrápida. Quando precisamos discar um número novo de telefone, guardamos esse número em nossas redes neurais por alguns segundos, esquecendo do mesmo logo depois de discá-lo. É a Memória de Trabalho, ou Working Memory. Para transformá-la em Memória Declarativa, ou Memória mais permanente, é preciso uma Atenção mais detida. Um revólver apontado à cabeça do garçon pode ser um mecanismo motivacional que aumente a sua capacidade de retenção. Pensando bem, o excesso de tensão ansiosa pode prejudicar a formação de Memória. Plantar bananeira na mesa ou pegá-lo pelo colarinho pode melhorar o seu quociente atencional, melhorando a formação de novas memórias.
O fato é que a Memória de Trabalho, se não for bem treinada, vai se desmanchar rapidamente entre a mesa e o balcão do chapeiro. E notem que a padoca B já forneceu tablets para o garçon digitar o pedido, criando uma memória digital para ele. Mas o Pão na Chapa da padoca A vale o risco neuropsicológico.

3 comentários:

  1. Eu sempre quis entender porque os nossos garçons são assim. Precisamos chamar quatro mil vezes para poder sermos atendidos; eles estãos sempre olhando para outro lugar. Entretanto isto é um fenomeno bem brasileiro, em outros paises (EUA, por exemplo), isto não acontece.
    Bjos,
    Lúcia

    ResponderExcluir
  2. ... meu !!!
    chamou o pobre coitado do Pão de PUTO !!
    depois fez um pedido pra garçonete falando PORRA !!
    ... eu em !!
    Voçê infelizmente está com PAULISTANÊS ( Síndrome do stress do paulistano !!!)
    Que tal tomar um café com leita e um pãozinho calmamente em sua casa ?
    rsrsrs...

    ResponderExcluir