domingo, 7 de outubro de 2012

Tiririca e a Memória

Nosso sistema eleitoral criou uma barreira representativa, tornando todo o processo eleitoral abstrato e impenetrável para a população pobre e com baixa aquisição cultural. Uma barreira importante é a barreira da Memória. O desfile enlouquecido de candidatos aleatórios transmite ao eleitor uma impressão de geléia geral e desorientação. Não há como diferenciar ou fixar quem é quem e o que realmente eles querem ou podem fazer. Aqui em Cotia temos candidatos que tentam seguir a trilha aberta por Tiririca, verdadeiro gênio do marketing político, que se diferenciou justamente por ter escrachado de vez essa hipocrisia. Temos aqui candidatos como o Nego Drama, que deve estar procurando pelo voto dos rappers, já que seu nome é título de música dos Racionais MC’ s. Tem um candidato autointitulado Lingüiça Sem Preguiça, o que sempre me fez perguntar se era um apelo para o voto feminino. “Abaixo as Linguiças Preguiçosas”, seria um slogan de alta densidade eleitoral. Através do humor e da palhaçada, tentam se fixar na memória do eleitor. Tiririca tinha razão.
A multiplicação das mídias criou esse espaço de diluição de memória. Para criarmos uma nova memória, precisamos de aumento de dendritos e ramificações de nossos neurônios, principalmente numa região do Cérebro chamada Hipocampo. A Memória nova a ser adquirida demanda repetição, rememoração e síntese proteica. Depois da conquista humana de tanto sedentarismos, temos hoje o sedentarismo da Memória. Não temos mais as Memórias, temos o Google. E uma grande geração de pessoas sedentárias cognitivamente, com a lassidão de tomar conhecimento do que realmente está acontecendo. Uma alienação que não produz boa síntese proteica e boa capacidade associativa, o que é fundamental para ampliar as capacidades de nossos neurônios. O mundo está ficando cada vez mais estratificado entre Cérebros hiperfuncionantes, como posso notar na quantidade imensa de jovens que trabalham doze horas por dia em ritmo acelerado de processamento de informação e os hipofuncionantes, com pessoas mais humildes que receberam diplomas sem ter a qualificação necessária para tê-los. Muito desses Cérebros pouco treinados procuram uma brechinha na política, sempre com a mentalidade vigente de se dar bem sem fazer força.
Os candidatos acenam com aumento do tempo de permanência da criança na escola. Na verdade a revolução seria fazer as pessoas aprenderem mais em menos tempo na escola. Isso se faz transformando o ambiente escolar em algo mais estimulante intelectual e afetivamente. Como um vídeo game. Mesmo nas candidaturas à Prefeitura de São Paulo, onde há candidatos que já foram ministro e secretário estadual de Educação, as propostas são xôxas, bobocas e populistas. Já está na hora da Neurociência ser matéria curricular de educadores. Votem em mim.

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