domingo, 21 de outubro de 2012

Atenção, Memória e Pão na Chapa

Ontem fiz um pequeno ensaio sobre o a Amnésia dos Garçons, um quadro particularmente dramático quando a minha Média e meu Pão na Chapa estão em jogo. Um comentário anônimo brincou com meu mau humor paulistano e me mandou tomar café da manhã em casa. Lembro de uma entrevista de Chico Buarque em que ele dizia que colocar uma música no disco é como ver um filho cair na vida: ela pode virar tema de comercial de sabão em pó, pode ser mal interpretada, pode virar objeto de culto; não há como saber. Mal comparando, também não pretendo querer dizer como o post deve, ou não, ser lido. Respeito a leitura de cada visitante, pois a postagem é de domínio público na hora que se dá um click para publicá-la. Mas o texto de ontem é humorístico. O uso do palavrão é um recurso humorístico e mostra o cidadão comum perdido na selva das desatenções que vão desde o garçon à mocinha que ligou na veia de uma paciente uma carga de café com leite, levando a vovozinha de oitenta anos à uma morte estúpida e dolorosa. Estamos perdidos numa selva de Atenção difusa e de Amnésias seletivas.
A padoca que eu frequento e tomo café quando vou para o consultório do Itaim tem um fabuloso Pão na Chapa: crocante, cheio de manteiga fresca e não rançosa, dá água na boca só de pensar. A atendente de minha mesa é a Ilza, que tem o mesmo nome de minha mãe. Espero não procurá-la por alguma tensão edípica. Ela já sabe que eu gosto de meu pão na chapa sem prensar. Quando ela falta é que preciso ensinar a sua substituta, que me olha como se eu fosse o mais obsessivo dos fregueses. Dessa cena que eu tirei a cena humorística e pseudo irritada de ontem.
Evolutivamente, precisamos de uma Atenção Multifocal, uma espécie de radar para antenar o ambiente o tempo todo. Ataques de predadores, répteis ou acidentes demandam esse tipo de Atenção desde que descemos das árvores e viramos bípedes. A maturação de nosso Córtex Pré Frontal e sobretudo o milagre evolutivo da Linguagem e da Fala possibilitaram aos hominídeos uma capacidade progressiva de Atenção e Concentração, com grandes vantagens para a aquisição de novas Memórias. Para criar novas memórias, precisamos estar com a atenção focada e de repetição, para fortalecimento das redes neurais que vão formar conceitos, memórias e estratégias adaptativas.
Quando uma auxiliar de enfermagem coloca café com leite ou sopa dentro de um equipo de soro, deve estar com a cabeça no post do Facebook ou na briga que teve com o namorado. Vivemos na barbárie da civilização autoestima, todos estão tão focados nas suas próprias necessidades e demandas, o Outro é apenas um ser que deve suprir as carências e necessidades do ser narcísico que a pósmodernidade nos legou. A Atenção desatenta faz parte desse contexto. Fica engraçado com a garçonete amnésica e trágico com a menina mal treinada e cabeça de vento, que ceifou uma vida.
O que o texto de ontem tenta vincular é a relação íntima e importante entre a capacidade de Atenção/Concentração e a formação de novas memórias. Todas as disciplinas meditativas trabalham na intensificação dessas capacidades e por tabela, na ampliação da Consciência.
Estou aberto para financiadores que queiram pagar um projeto de pesquisa e implantação de programas de Atenção Plena em todos os setores da sociedade. Começando não pelos garçons, mas pelas pessoas que tem a vida do Outro em suas mãos e não estão atentas a isso.

6 comentários:

  1. Não Marco !

    Vc nāo entendeu !

    Eu quis que vc entendesse que este estado de Atençāo plena nā se estabelece exatamente pelo Stress que os paulistanos se encontram ...

    Hello !

    Meu comentário nada teve à ver com seu tom mau humorado e claro, como admiradora que sou sua , penso sim que deveria tomar seu café da manhã em casa.

    Beijo repleto de memórias boas

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    1. Olha, não fiquei tão bravo assim, só aproveitei o gancho para estender o assunto. Mas se vc tem boas memórias, que tal se identificar? Abç

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    2. Marco...Marco...
      Depois de tanto tempo...
      Passaram-se tantos meses...
      Depois de tantos anos, 2 vezes por semana juntos...
      O Doutor Marco bem sabe quem sou...
      E após tamanha ausência de TUDO,
      aqui estamos nós,com os caminhos cruzados

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  2. Caramba, deixa o cara comer o pão na chapa dele na padaria, pô !!!

    Edison

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  3. rsrsrsrsrsrsrs..................

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