quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O Homem e sua alma

Na última postagem eu citei o rapper Mano Brown, que sugeriu à candidata Dilma, antes de iniciar a campanha, que ela "falasse com a alma". Os marqueteiros de campanha devem ter rido muito da sugestão. Tantos e tantos estudos de comunicação eficaz e persuasão e vem esses poetas com a tal "linguagem da alma". A alma cabe numa embalagem colorida de sabão em pó. Muita gente entretanto identificou na candidata Marina Silva uma fala proveniente da alma, daí a sua arrancada final, que se deu de forma quase inesperada. Agora estão os marqueteiros de Serra e Dilma num corre corre frenético, tentando mapear o eleitorado de Marina e como cativá-lo. Procurem pela alma, rapazes. Está bem aí, perto da embalagem de Omo. Procurem que vocês vão achar.
Quando eu era moleque, lia quase tudo o que me caía às mãos, de revistas femininas a livros do Sidney Sheldon que a minha mãe lia escondido. Trago essa mania de fuçador até hoje e fico fuçando em tudo, de Scientology até Terapia de Vidas Passadas. Leio até Psiquiatria de vez em quando, embora isso ainda me desperte umas sensações intestinais diante de alguns autores. Os livros de Auto Ajuda eu escondo na escrivaninha, que aí já é demais para um psiquiatra respeitável. Bom, estava eu lendo um livro sobre Terapia de Vidas Passadas, que usam técnicas de visualização que o psiquiatra suiço Carl Jung chamava de Imaginação Ativa (técnicas de relaxamento e a indução de imagens espontâneas da psique do paciente). O autor do livro descreveu uma Regressão onde o paciente transportou-se para vinte séculos atrás, no exato momento em que um rabino da Galiléia chamado Jesus estava sendo crucificado. O paciente notou horrorizado que naquela suposta vida passada ele era um dos centuriões romanos que disputavam nos dados quem iria ficar com as roupas e os poucos pertences daquele rabino metido a messias. Quando foi trazido de volta da vivência, o paciente, que era um bem sucedido médico, começou a chorar e a elaborar que estava realmente crucificando o Cristo em sua vida, na medida em que rendera a sua capacidade de curador a ter dinheiro e fama, apenas. Ele era o centurião comercializando a própria alma. Peço desculpas aos terapeutas de vidas passadas, sobretudo aos mais sérios que navegam no mundo interno das pessoas, mas essa vivência não foi de nenhuma vida anterior. A psique do paciente produziu uma imagem suficientemente forte para chamar a sua atenção. Ele sofria de insônias e dores inexplicáveis, já passara por vários profissionais e devia estar realmente muito desesperado para submeter-se a uma regressão. Ele buscava uma forma de se reconectar com o núcleo de seus sentimentos e de quebra com uma verdade essencial da Medicina, que são os pacientes. Parece estranho, mas o médico acaba coisificando a relação com o paciente para se proteger das cobranças e das expectativas supra humanas nele projetadas. Isso pode ir secando a sua alma e a sua prática até virar um processo lento e implacável de adoecimento.
É por isso que recomendo aos candidatos que tranquem os marqueteiros em alguma sala de reunião e busquem um discurso que venha mais de dentro da alma. Mesmo que alma seja uma palavra usada para vender iogurte, em nossos tempos apressados.

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