sábado, 9 de outubro de 2010

Transtorno Obsessivo Amoroso

O roteiro é o mesmo, repetido em diferentes personagens. Menina encontra menino, o menino gosta da menina, eles se apaixonam, trocam juras, fazem planos. A menina entende que a longa jornada em busca do Mr Right (também conhecido como Príncipe Encantado e Encantador) finalmente chegou ao fim. O clima de idílio dura um tempo, o rapaz continua fazendo planos: casamento, filhos, companheirismo. De repente, diria o poeta- de repente não mais que de repente - alguma pequena rachadura aparece na moldura: uma briga, um desencontro, um malentendido. Uma técnica muito simples que os meninos utilizam: sumiços sem nenhum contato. Dois, três dias sem ligar. A menina fica em dúvida: devo ligar? Isso vai parecer uma cobrança? Desculpas não faltam: estou estressado, meu chefe está me matando, minha décima segunda ex esposa está tentando me prender. Silêncio. O que está acontecendo? Respostas evasivas. A menina se cerca de justificativas. Sente cheiro de fumaça, mas pode ser o vizinho queimando o churrasco outra vez. Ele está perdendo o interesse? Quanto tempo eu devo esperar? Mas não dá para esperar. A menina vai atrás, quer saber, quer ouvir: mas você me prometeu tanta coisa, mas você disse que me amava. O menino usa uma arma de destruição em massa de meninas: a dúvida. Estou em crise, minha ex me procurou (a décima terceira), está indo muito depressa, preciso de um tempo. A menina é tomada de fúria. Liga quinze vezes, aparece na casa, arremessa o celular na parede, tenta recuperar o contato a qualquer custo, tenta transar no elevador, aparece no trabalho. O menino, constrangido, já a classifica: ela é surtada. O que aconteceu? Eu não prometi nada. Lágrimas. Luto. Vergonha. E o que é pior, a menina fica pensando que a culpa é dela. Eu que surtei. Pus tudo a perder.
Vamos dedicar algumas postagens a esse quadro clínico que vem tomando proporções epidêmicas: os Transtornos Obsessivos Amoros, doença que afeta principalmente as meninas que se envolvem com meninos com Deficiência Congênita de Testosterona. Não percam.

Um comentário:

  1. — E o que é poesia?
    — O que é poesia ? Haha. Bem, Nina... É quando a gente faz alguma coisa que a alma entende.
    — ...
    — Ou melhor, é quando a gente faz alguma coisa que nos deixa animados, ânima, alma, amor. E é só isso, minha pequena, e é assim.
    — E a alma gosta é?
    — É a alma que fala e é a gente que escuta. É a gente que escuta, Nina.
    — Eu não escuto nada, tem muito barulho será?
    — Haha! Pequena grande menina... Você ainda não precisa aprender a escutar.
    — Ué? Porque hein?
    — Porque você ainda sabe, ainda sonha, ainda é. Só.
    — Mas meu nome é Madeleine!
    — Puxa, você não entende como tem sorte. Sorte de não ter que aprender a escutar sua alma, Madeleine das fitas nos cabelos...
    — ...
    — Você ainda tem sorte de ser só uma Nina, menina, pequena menina minha.
    — Mas eu sou grande! Uma grande menina Madeleine!!!
    — Seria mais fácil se você nascesse Madeleine e, ao longo da vida fosse se tornando Nina. Ninguém a magoaria porque você estaria sempre animada. Você não conhece como são esses meninos por aí...
    — Meninos? Hein? Eu gosto das meninas, minhas amigas, não quero saber de meninos, viu? Não em venha mais com esse papo. Agora conta a história da bela adormecida e do príncipe do cavalo?
    — Vai Nina, vai olhar as bolinhas, bolhinhas das ondas da espuma do mar.
    — Vai, papai!
    — — É... Não tem jeito mesmo Madeleine... Era uma vez...

    ResponderExcluir