sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Personas Eleitorais

A palavra "Persona", assim como a sua derivada, personagem, derivam das máscaras usadas no teatro grego (o que deveria ser uma economia para os produtores, na hora de escalar o elenco). Como no filme "O Máscara", bastava vestir a nova máscara para incorporar um novo elemento cênico e personagem. Todos nós temos Personas. Elas nos garantem os papéis sociais e as funções que desempenhamos na vida. Lembro de um amigo, ótimo terapeuta mas que gostava de se vestir de um jeito assim meio bicho grilóide. Uma paciente que lhe foi encaminhada nunca mais voltou porque ele estava vestindo "um mocassim sem meias", ou seja, ela esperava uma Persona um pouco mais séria, um barbudinho com cavanhaque e terno. Acho que o encaminhamento não foi bem feito, ainda bem que não fui quem o fez. O fato é que compomos uma Persona que facilita nossas trocas com o mundo. Algumas vezes a identificação com a Persona é tão maciça que, ao vê-la removida,não resta nada em seu lugar. Por exemplo, um grande executivo que da noite para o dia perde o emprego e todo o seu aparato de poder e se entrega ao alcoolismo, como alguém que se desconectou da própria vida ao ver retirada a sua Persona.
A política, desde a Ágora dos gregos, é sem dúvida um jogo de Personas. Quando o Lula e Dona Marisa requebram no Arraiá da Granja do Torto, estão desempenhando seus papéis de casal "gente como a gente" que aproxima o Poder do cidadão comum.
Vou falar nessa postagem da Persona da Sra Dilma Roussef. Logo na Pré-Campanha, lembro de uma entrevista de um rapper, se não me engano Mano Brown dos Racionais MCs, que dizia que seu voto seria dela, mas que Dilma deveria "falar com a alma". Acho que ele mudou o seu voto. Dilma parecia aquelas alunas gordinhas declamando nervosamente um jogral no grupo escolar. Fala ensaiada e decorada, riso de plástico. As manchetes hoje dizem que ela saiu incólume do debate. Não saiu não. A sua estratégia de chamar Marina Silva para a conversa o tempo todo (já é uma aproximação pensada para um possível segundo turno?) colocou em evidência a diferença entre ambas de uma forma que meus filhos adolescentes puderam notar: uma com o discurso ensaiado, vazio, sem conteúdo emocional e a outra convicta, com a autoridade moral da sua pele lanhada no trabalho dos seringais. Eu voto na Marina? Não. Voto no Serra, mesmo com a sua Persona igualmente lamentável de mestre escola dando aula na primeira turma do Mobral: falinha doce, didática, infantilizadora do eleitorado.
Dilma deve melhorar com o tempo. Mas sempre que eu a vejo falando, ouço uma musiquinha da minha infância: sou a Mônica, sou a Mõnica, dentucinha e sabichona/ Sou a Mônica, sou a Mônica, tão teimosa e tão mandona...

2 comentários:

  1. Dr. Spinelli, absolutamente sensacional sua lembranca da musiquinha.
    E é contagiante.Agora todas as vezes que vejo a candidata, lembro-me da musiquinha.Combina perfeitamente e o exemplo é até didático, pois ajuda a entender bem a idéia da persona.
    HAhahahaa!!!!!
    Abraco,
    Sonia

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  2. Dr. Spinelli,
    Parabéns pelo blog, fantástico seu trabalho, muito interessante seus comentários, inclusive sobre a Dilma, EXCEPCIONAL!!!
    Liane

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