domingo, 24 de outubro de 2010

Somos todos Obsessivos?

Nas últimas décadas as pesquisas em Neurociência decifraram os circuitos que são ativados em nosso Cérebro Emocional quando estamos preocupados com alguma coisa e essa preocupação vai ganhando peso até virar um curto circuito obsessivo. Já falamos sobre isso nos Transtornos Dismórficos Corporais, quando uma idéia sai de nosso Córtex e passa por vias que vão fazer uma alça nas vias motoras e voltam por um sistema de relê para realimentarem a mesma idéia, geralmente no Córtex Frontal, onde tudo tinha começado. É quase como se pudéssemos observar a idéia, ou a preocupação, ou a obsessão indo e voltando do Cérebro Racional até o Cérebro Emocional sem nunca encontrar uma saída. Um labirinto neurofisiológico. Dessa forma, uma preocupação vira uma idéia fixa, uma idéia fixa vira um sistema obsessivo, um sistema obsessivo pode virar uma paranóia.
Hoje quase tudo nos cobra algum grau de obsessão. Vivemos na época do pensamento intencional, quase tudo o que fazemos tem um objetivo e um plano de ação. Pensamos, pensamos, normalmente no que nos falta, no que não temos, ou não realizamos, nossos objetivos não cumpridos. Hoje dei uma passada na região do Mercadão, região central da cidade de São Paulo, quando passamos pela rua e víamos deitados no meio fio os mendigos das ruas adjacentes a 25 de Março. O cheiro de urina, as frutas esmagadas no chão e os cachorros de rua deitados perto de seus donos, que cena. Pensamos e somos estimulados a pensar, no carro novo, nos projetos a realizar, nas dificuldades das relações e o cachorro de rua com o corpo encostado em seu dono, indiferente à miséria, confiante que a comida virá e o abrigo é lá mesmo.
Todos temos um nó na vida que não conseguimos desatar e nos ocupa muito tempo em preocupação, suor e lágrimas. Uma lacuna profunda na alma da mulher pós moderna é a ausência estudada do homem, que se subtrae dos relacionamentos como um pássaro que abandona o ninho para dominar a fêmea ou o jogo do encontro e desencontro amoroso. O homem sofre de seu medo e solidão, mas recua diante da expectativa feroz e da cobrança de uma mulher que quer a forra de séculos de opressão e desatenção.
Penso no cachorro do mendigo, na sua presença amorosa, na gratuidade da sua presença. Ele nunca vai padecer de uma obsessão amorosa ou profissional. Talvez porque ele não tenha objetivos que lhe tirem o sono sob as marquises.

3 comentários:

  1. Gostei deste artigo. Me identifiquei com ele. Sou exatamente assim, tenho compulsões e fixações, porém, uma vez atingido, esqueço, até aparecer outra. Mas vou curtindo, pois o importante é estarmos lutando por algo e conseguindo os resultados. Qual graça tem a vida sem lutar, suar a camisa para se conseguir algo? E a luta mesmo chamando-a de "Obsessão", é melhor do que a "inércia" o "conformismo". Sou obsessiva, quando vale a pena, e estou VIVENDO!!! Não cobro nada de ninguém, mas os meus direitos e os direitos daqueles que têm o direito. Afinal na nossa sociedade moderna, tudo tem um nome... os alimentos, os remédios, as atitudes, a globalização, é isso, é tudo, é por aí.
    Abraços a todos.

    ResponderExcluir
  2. Quando penso em coisas que não fazem o "menor sentido" lembro-me de Alice no País das Maravilhas "penso em 5 coisas impossíveis anttes mesmo do café da manhã".

    Esse é um baita exercício, sabia? Pra desintoxicar a mente viciada maluca e cheia de obsessões que temos. Ave Maria! Cansa pra burro!

    E sabe o que é melhor? Quanto mais coisa boa a gente pensa (e não necessariamente coisas com "objetivos"), menos espaçø sobra pras ruins. E quanto menos a gente pensa, mais espaço se abre.

    Então é bom fazer assim: antes de tomar o café da manhã de Alice, dê uma limpada na mente e pense em coisas bonitas e absurdas, tipo imaginar aquela pilha de louça suja na cozinha começando a se lavar sozinha ao som de qualquer coisa muito engraçada hahahahaha

    Vamos viver no país das maravilhas? Pelo menos um pouquinho antes do café da manhã, vai !

    ResponderExcluir
  3. Confesso que procurei de propósito um post escrito neste dia tão especial pra mim.
    E quando li o que havia escrito, novamente confesso que gostei.
    Não sei se gostei mais do tema "obsessão", ou de sua confissão de que "todos nós temos um nó na vida que não conseguimos desatar e nos ocupa muito tempo..."

    ResponderExcluir