segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Chico Xavier

Bert Hellinger, criador da terapia das Constelações Familiares escreveu em tom de quase brincadeira que o Budismo nasceu do complexo materno de Sidarta Gautama, já que a sua mãe morreu após o parto. O Cristianismo teria nascido do complexo paterno de Jesus, rejeitado e quase abandonado pelo seu pai terreno, começando aí a sua busca pelo Pai verdadeiro.
Ontem assisti mais uma vez o filme "Chico Xavier" cuja vida também foi profundamente marcada pelas figuras femininas e sua ausência, também em tragédias prematuras. A família numerosa de Chico Xavier foi pulverizada pela morte de sua mãe. Algumas das cenas mais belas do filme saem justamente dos encontros entre o menino Chico e a sua mãe que aparecia em espírito para ele. As suas capacidades de medium eram prontamente punidas pela sua tia espancadora, uma carola aterrorizada pelo próprio medo e maldade.
Sem entrar no mérito dos fenômenos mediúnicos, embora seja de se notar que a vida e a trajetória de medium de Chico Xavier tenha se iniciado quando outro homem de capacidade impressionante brotava na mesma Minas Gerais, Eurípedes Barsanulfo. O que será que acontece naquela região do Brasil? Será que a energia cósmica tem grandes portais naquelas paisagens?
Chico, como muitos iluminados, teve a experiência da perda da mãe e da referência familiar. É claro que é muito mais comum que esse tipo de perda conduza ao esfacelamento de uma vida, não de iluminação. Chico começa a viver, desde o início de sua vida, o que os budistas chamam de bodhichitta, a experiência do amor absoluto pelo outro e a percepção do profundo sofrimento inerente à própria condição humana. Essa é a parte mais importante de sua vida, a epifania que ajudou-o a encontrar sua identidade espiritual. Não é incomum sabermos das trajetórias de pessoas que passaram por profundas e dolorosas perdas para encontrar o seu caminho. É como se essa perda criasse dois efeitos profundos: primeiro, a desconfiança saudável da própria vida. Não há nada que tenho que não possa perder, portanto não há sentido em buscar a perfeita defesa ou proteção. A nossa única defesa é saber que não temos defesa, então precisamos da graça. Mas isso é assunto para outros textos. O segundo efeito é o de procurar refúgio em outros estados de consciência ou de Ser. A neurociência vem demonstrando a ativação de áreas do Cérebro onde se percebem o Estado Unitivo, onde o que chamamos de Ego se encontra com um campo amplo de Consciência. Deus, Atman, estado de Buda, todas as religiões descrevem essa experiência de união, onde se apagam as diferenças entre Eu e Outro.
Uma coisa que muito me conforta vendo o filme mais uma vez é a percepção da conduta de Chico Xavier diante da infinita estupidez humana, a capacidade de entender e tolerar a capacidade impressionante de tolerar a incompreensão e o lixo que as pessoas são capazes de pensar e verbalizar, inclusive pessoas da sua própria família. O meu filho fez um paralelo com Gandhi ao ver o filme, com o que concordei. Chico desposou a pobreza e o não-revide como via de ação. Isso requer muuiita prática.

2 comentários:

  1. Também assisti novamente o filme este final de semana, inclusive me espanto com o ator que representou Emmanuel, seu mentor. Ele nem parecia humano! :) Realmente é interessante quantos médiuns surgiram em Minas Gerais, entre eles José Arrigó e José Tadeu que através da Casa do Caminho tem desenvolvido diversos trabalhos na área de saúde.
    Para quem assistiu o filme Nosso Lar, baseado na obra de André Luis, psicografado pelo Chico, consegue se localizar no período histórico em que Chico iniciou seus trabalhos mediúnicos. O mundo entrava em colapso, primeira guerra e em seguida, a segunda guerra mundial. Vendo pela perspectiva espiritual, foi impressionante o movimento entre os dois planos. Momento de muita emoção... algumas pessoas soluçavam no cinema. Em certo momento, Emmanuel, comenta que “um médium estava sendo preparado para o trabalho..” Chico estava em plena atividade de psicografia, incluindo os livros de André Luis sobre a Vida no Mundo Espiritual. Fico me lembrando daquelas imagens ali na tela do cinema, as barbaridades das guerras, os prejuízos que causamos a nós mesmos ao longo de nossa existência. Aquelas pessoas no vale dos suicidas, a mesma imagem do filme “Amor além da Vida” com Robin Williams... somos responsáveis pelos nossos sofrimentos. Relutamos em nos melhorarmos, de reconhecer nossos erros e procurar corrigi-los. Achamos sempre que somos vítimas quando na maioria das vezes somos aqueles que julgam aos outros e egoístas. A tolerância, puxa, que dificuldade neste aprendizado. Eu acredito que no momento que deixamos este mundo, nossa vida é como a tela do cinema, vários momentos ali passam como um filme para nós. Espero que no meu momento eu possa levar somente imagens boas e felizes, que eu possa resolver todos os meus conflitos e dúvidas enquanto tenho este tempo por aqui.
    Sem dúvida, as figuras de Chico Xavier, Dr. Bezerra de Menezes (o médico dos pobres), Antonio Batuira, foram exemplos de dedicação ao bem e a caridade. Foram caluniados, ofendidos, muitas vezes desprezados, porém com entendimento e tolerância, não se deixaram levar pelas fraquezas do mundo. Como alguns dizem: “Venceram o mundo e não no mundo”

    Marcia

    ResponderExcluir
  2. Resistir, sempre, até concluir sua missão terrena

    ResponderExcluir