terça-feira, 30 de novembro de 2010

Harry Potter e a Jornada Arquetípica

Há alguns anos atrás eu mandei um comentário para um site, o Sorria.com.br, na época muito assistido, sobre o primeiro filme da saga Harry Potter, a Pedra Filosofal. Choveram e-mails furibundos na minha Caixa de Entrada, sobretudo da população fundamentalista cristã amaldiçoando as minhas próximas gerações pelo que julgaram que fosse uma apologia à bruxaria, ao demoníaco, à tentativa de uma horrível autora inglesa de colonizar a cabeça de nossas crianças com mensagens maliciosas, etc, etc, etc. Na época eu não quis entrar em nenhuma polêmica de cunho religioso-fundamentalista, então li alguns e-mails, respondi alguns com uma ironia pouco acessível e toquei a vida, que tinha assuntos mais importantes no dia seguinte.
Estamos assistindo, após uma década, a saga finalmente se encerrando. Eu li apenas três livros da mesma, mas não perdi nenhum dos filmes. Os meus filhos cresceram assistindo a essa saga e não me consta que a mesma tenha despertado interesse por antigas bruxarias ou artes das trevas, como temiam alguns. Deve ser por isso que os não-bruxos são carinhosamente alcunhados de trouxas pela comunidade bruxa.
Harry Potter representa uma jornada de formação e transformação de um ser humano, da adolescência psíquica até a maturidade. Como muitas sagas de herói, esta começa com um Harry orfão e sofrendo abandonos e abusos de seus tios que detestam a sua origem e não cansam de tentar reprimí-la. Uma versão masculina da Gata Borralheira ou do Rei Arthur, criado como filho adotivo sem conhecer a sua linhagem nobre. Quando as suas capacidades de jovem bruxo começam a se manifestar, Harry é levado para Hogwarts, numa guinada completa de sua trajetória. Lá, ele descobre que seus pais não morreram em um acidente automobilístico, que ele é um bruxo famoso por razões completamente alheias à sua vontade e, o que é pior, traz a marca de ser ou não, o Escolhido, aquele que vai enfrentar o arquivilão Voldemort, que vai literalmente encarnando depois de um período dissolvido como um espírito mal.
A saga mostra o caminho de linhas tortas que uma psique deve tomar para entender a sua verdadeira natureza. Harry é modesto, incrivelmente corajoso e, vamos saber depois, é um joguete no embate de dois grandes e imbatíveis bruxos, Dumbledore e Lord Voldemort.
Harry vai descobrir ao final da saga que a sua busca, muito cara à psique masculina, de encontrar o seu Pai Simbólico e finalmente serví-lo, que ele projeta inteiramente em Dumbledore, vai terminar em um confronto final, um confronto em que ele estará só. Em nossa vida, esperamos que os pais, os mestres, as figuras de autoridade estejam lá para nos ajudar e dizer o que fazer na hora H. Como Harry, descobrimos que na hora do vamos ver, só contamos com a nossa voz interior e a nossa fé para prosseguir, mesmo na hora mais escura.
Vou voltar a esse tema em outros posts.

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