domingo, 14 de agosto de 2011

Inserção ou Incepção

Aqui estou eu, escrevendo em primeira pessoa de novo. Escrever através de personagens e de diálogos é divertido e menos teórico, mas as pessoas estão acostumadas a um discurso mais linear para entrar dentro de uma idéia. Um tema importante dos últimos posts é a diferença entre Inserção e Incepção. O filme "A Origem", que nos serviu de base para várias discussões, não fa essa distinção. Vamos tentar clarificá-la.
Não há nenhum momento do dia que não recebamos alguma tentativa de Inserção. A Publicidade tem um prêmio, "Top of Mind" justamente para premiar as marcas que conseguiram se enfiar dentro da sua cabeça. Tente lembrar nesse momento as músicas, as imagens, os slogans que ficam na sua cabeça associadas a alguma marca. De cara já penso no comercial da Netshoes, com aquelas imagens radicais e "Born to be Wild" bombando por tráz das cenas. Os meus filhos cantam a música junto com o comercial. Sempre que cruzarmos na internet com um anúncio da Netshoes, as imagens e a música pode surgir. Essa é a Inserção: é uma disputa feroz pelos campos verdes de nossa Memória.
Há séculos que a Hipnose tenta fazer Inserções: baixar as defesas de nossa Consciência, induzir uma espécie de transe em que o Cérebro fica sugestionável e colocar lá dentro, uma idéia pronta. Os livros de Autoajuda também tentam novas Inserções. Uma senhora, amiga da família, fica alguns minutos por dia repetindo para si mesma que é uma gostosa e está pronta a ser amada. Ela está bem fora de forma e o seu penteado reforça o rosto muito redondo e, lamento dizer, feio. As Economia mundial está prestes a desmoronar, pelo mesmo princípio: se eu puser uma idéia de prosperidade na minha cabeça, ela vai se tornar realidade. Se eu colocar metas exorbitantes de vendas e produção, elas vão virar realidade. O que se consegue com esse "wishfull thinking" é empresas quebrando, produções mal feitas necessitando de recall e a senhora se entupindo de cremes e de sites e grupos de encontro. Se não operamos na realidade, a partir da realidade os resultados são muito ruins, às vezes catastróficos.
A Incepção, pelo contrário, não tenta enfiar nada goela abaixo de nossa memória. É um processo mais sutil e elegante. Um bom vendedor não é aquele que tenta enfiar uma idéia na cabeça de seu cliente. Um bom vendedor vai sugerindo o caminho, de uma forma que o comprador vai adotando a idéia como sua. O comprador compra a idéia e a emoção vinculada à idéia, depois pega a sua carteira.
No filme, a equipe penetra nos sonhos de um milionário,Robert Fischer. Sugerem que em algum lugar, muito profundo, há uma mensagem de seu pai, que acabou de morrer. Sucessivamente, eles vão penetrando em sonhos dentro de sonhos até chegar ao labirinto mais profundo. Lá, ele encontra o seu pai, no leito de morte, com a mensagem: "Beba Coca Cola". Estou brincando. A mensagem é "Você é meu filho amado, faça as coisas de seu jeito". Ele chora e se despede se seu pai. O Inconsciente produz a cura, normalmente através da Compreensão e do Perdão. Isso não é nem Inserção nem Incepção. Isso é a nossa capacidade de compreender a própria ferida e limpá-la, todo dia, até a cicatrização. É a boa e velha Psicologia Analítica, que vai nas profundezas de nossos labirintos. Como Ariadne.

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