domingo, 28 de agosto de 2011

Mudança

Estava escrevendo esse post, quase na metade dele, quando perdi a conexão e tive que reconectar esse netbook. Péssima notícia,tudo o que eu escrevi tinha se perdido e lá vamos começar de novo. Não dá para tentar reescrever o mesmo texto, aquele está perdido. Pode aparecer de novo em outros posts, mas tudo que tentar repetí-lo vai parecer um café requentado.
Estava falando da dificuldade de mudar. Qualquer coisa, mas principalmente, mudar nossos hábitos mentais. Podemos lutar todo dia para mudar o mundo, mas mudar nosso jeito de pensar ou agir, parece sempre um projeto fadado ao fracasso.
Temos hoje curso para quase tudo nessa vida. Os mais na moda começam com a palavra Gestão: "Gestão de Pessoas"; "Gestão de Projetos"; "Gestão da Indigestão"; Sempre procuramos pela Pedra Filosofal da capacidade de equilibrar e gerir processos para atingir objetivos. Há uma infinidade de MBAs que ensinam essas técnicas e cursos. Muitas palavras em inglês e muitas planilhas depois, as pessoas e as coisas continuam agarradas a seus velhos hábitos como à própria vida.
As psicoterapias sofrem também desse mal. Já ensinei em alguns cursos de formação o conceito spinelliano de Terapia Penico, uma modalidade muito comum em vários divãs. A terapia consiste em uma visita ao terapeuta (a sessão é presencial, ainda), o paciente se põe a vomitar toda a tensão de sua semana dentro do ouvido-penico do terapeuta, sem precisar ouvir nada. A sessão termina, o paciente sai aliviado de suas obstipações psíquicas e o terapeuta fica feliz com a qualidade de sua escuta, para tudo se repetir, ipsis literis, na outra semana. A terapia penico é uma embromação, como clamam vários cientistas? Não, não é. Muita gente vai cicatrizando velhíssimas feridas nessas sessões purgativas, depois de algum tempo passam a ter uma estrutura psíquica bem melhor. Mas mudar, ou mais do que isso, transformar essa ferida, deixar o Narcisismo primário por uma verdadeira capacidade de empatia pelo Outro, bem isso já são outros quinhentos.
Freud descobriu que as mudanças eram lentas e longamente trabalhadas. A Psique Humana e mesmo o Cérebro humano não gostam de mudanças rápidas. Mas isso não é desculpa.
Eu prometi que iria pelo menos passar um tempo sem falar no filme "A Origem". Isso está virando um Transtorno Obsessivo Cinematográfico desse autor. Mas vá lá, uma das coisas legais do filme é a noção, salvadora para as psicoterapias profundas, que uma mudança verdadeira de nossas programações neurais demanda um mergulho longo nas camadas mais profundas de um Inconsciente, onde uma nova programação vai ser inserida.
Dr Sócrates, grande ídolo do futebol de minha adolescência, foi internado nessa última semana na UTI por Hemorragia Digestiva, derivada de processo de Cirrose Hepática. O Dr jurou que já estava mudando a sua atitude e que agora superará de vez o abuso alcoólico. Isso vai depender da profundidade e do impacto psíquico que esse evento lhe trouxe. Se o impacto ficar na primeira ou segunda camada do Inconsciente, a chance de recaída será alta. Faço votos que o Dr tenha descido aos infernos para voltar renovado. Como dizia Cazuza: "Eu vi a cara da morte e ela estava viva". As mudanças, para poderem ocorrer, precisam vir de nossas camadas mais profundas, o que provoca um rearranjo em nossos softwares psíquicos. Podemos conseguir isso em nossas vidas e em nossos divãs, mas as técnicas de gestão de psicoterapia ou de mudanças pessoais, aqui, só servem para vender livros, apostilas e DVDs. As mudanças verdadeiras começam e terminam em nosso coração, e não vem pelo domínio de nenhuma técnica.
PS: não repeti o outro texto, mas esse também ficou legal. Vou postá-lo depressa.

Um comentário:

  1. Bem...não saberemos do outro texto, mas esse...
    está sensacional, dr.!!
    Há grande importância na informação que passou a respeito da profundidade que precisamos alcançar no inconsciente para conseguirmos realizar alguma mudança verdadeiramente.Ao sermos bombardeados com tantos estímulos de mudanças superficiais (que sabemos ,não darão resultados eficazes), temos uma situação pior, pois parece que somos incapazes de fazer a mudança, como ela nos é ensinada, passo a passo.
    Ah, o que pode então disparar mudanças?
    Viver, continuar caminhando, sentindo o caminho, como já foi comentado neste blog também. "Run, Forrest, run!!!"
    Se não tivermos medo disso, já é grande coisa.
    E deixar que as mudanças nos aconteçam conforme aparecem ,de acordo com nossas verdadeiras necessidades.
    Fantástico!!!
    Obrigada.
    ABraço,
    Sonia

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