quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Mudança II

Obrigado, Sônia, pelo retorno nos comentários. Foram valiosos. A leitora assídua dessas mal traçadas fez comentário sobre a necessidade de um mergulho profundo para mudarmos velhos esquemas cognitivos, que formam nossos sistemas de crenças. Não foi com essas palavras, mas foi isso.
O psiquiatra suiço Carl Jung dizia que não chegamos ao Paraíso sem passar pelo Inferno, antes. O que ele provavelmente quiz dizer é que a ampliação da Consciência, objetivo da maioria das psicoterapias, é possível depois que descemos às profundezas e fazemos uma limpeza em nossos porões. É lá que se escondem alguns monstros, mas é lá também que ficam guardados alguns tesouros. Uma coisa engraçada a respeito das psicologias, pois caso os leitores não saibam, há tantas psicologias quantos autores e grupos querendo criar a sua própria igrejinha, mas retomando, uma coisa engraçada das psicologias é que as primeiras a serem descobertas foram as profundas e as analíticas, como as escolas Freudianas e Junguianas, por exemplo. Depois foram descobertas as psicologias que abordam zonas mais superficiais da psique, como as Psicologias Behavoristas ou as Comportamentais. Se a psique fosse camadas de uma cebola, foi como descobrir o miolo para depois chegar até a casca. Mais recentemente, temos os fenômenos do Coaching e da literatura (?) de Autoajuda, que trabalham em esquemas mais simples de trabalho e abordagem. Todas as mais novas prometem sepultar as psicologias profundas como um erro do passado.
O fato é que a Autoajuda só se refere aos autores dos livros. Eles se autoajudam escrevendo coisas bonitas, adocicadas e esperançosas, cheias de lugares comuns que alimentam as esperanças das leitoras, mas com resultados que não ultrapassam os próximos títulos da moda. É claro que todo mundo gostaria de se amar, ter uma alimentação perfeita, um corpo maravilhoso e fazer parte de nossa sociedade de espetáculo. Seria bom que isso fosse atingido com algumas peças de autosugestão. Mas não é asim que funciona.
Agora há pouco conversei com uma pessoa, clinicamente deprimida depois de uma decepção amorosa virtual. Não foram poucas as revistas femininas que ela leu para encontrar um corpo mais magro, uma autoestima mais burilada e uma disposição para tentar encontrar alguém. Aliás, diga-se de passagem, não há nicho cultural mais contaminado com a ideologia da autoajuda do que as revistas femininas. Cuidado, meninas. A realidade está um pouco longe das fórmulas de "Programe-se e seja feliz". Essa moça tem em seus porões velhas e dolorosas cenas de um casamento infeliz de seus pais, cenas de violência incluídas. Essa imagem masculina danificada gera a expectativa de um Príncipe Encantado mais que perfeito, que virá com a força da paixão redimir todos os medos, as mágoas e as dúvidas sobre a possibilidade de ser feliz à dois. Não demora para o candidato a Príncipe fugir em seu cavalo de ferro, deixando um monte de sonhos despedaçados e a necessidade de alguns medicamentos para juntar os cacos. Ela vai precisar olhar melhor para as feridas, ter expectativas mais realistas, tentar outras vezes. Isso não está nas revistas.
Mudar é um assunto muito sério. Leva tempo e cansaço, demanda paciência. Não adianta comprar um bolo de microondas. As mudanças são gestadas longamente, como uma massa que a gente tem que bater com muita paciência. E profundidade.

Um comentário:

  1. Obrigada, dr.!!
    Tenho prazer em comentar suas bem traçadas linhas neste blog que nos oferece uma oportunidade a mais de reflexão, além de informação de forma inteligente, criativa, bem humorada!!
    Só tenho a agradecê-lo e parabeniza-lo.

    Profundidade...
    Sua palavra final neste post.
    AS vezes acho que estamos tão temerosos em viver em profundidade, em ver com profundidade, que começamos a buscar soluções superficiais e praticas para tudo.
    Sabemos que equilibrio é legal, mas que isso depende de mergulhos profundos e entregas a superfície também.
    Li uma vez uma artigo comentando que as revistas femininas causavam depressao em suas leitoras, logo após sua leitura.
    Bem, isso não me surpreendeu, pois a abordagem perfeccionista, superficial, materialista do perfil da mulher moderna é de deprimir até os homens!!
    Se a deprê causada pela leitura das revistas levasse as leitoras a seus porões para confrontar as cobras e lagartos e vislumbrar os tesouros, até que seria mais útil, mas creio estarmos treinados a fugirmos da profundidade, nos distraindo com mais superficialidades.
    Como já dissestes nas bem traçadas linhas...
    Precisamos de dedicação para mudar algo , "como uma massa que a gente tem que bater com muita paciência".

    Abraços,
    Sonia

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