sábado, 10 de setembro de 2011

O Nó

Tem um livro adorável de uma velha sábia chamada Alice Howell. Ele se chama "O Simbolismo Junguiano na Astrologia". Uma amiga, astróloga amadora, me deu de presente há muito tempo. Vivem me puxando para a Astrologia e o Tarô, mas eu não vou, não por não gostar, mas juntar Jung, Psicanálise, Neurociência e Psiquiatria já é trampo suficiente. Não vou colocar mais coisa nessa saladeira. Mas o livro de Alice, mesmo que eu não entenda muito de Astrologia, é uma delícia.Os capítulos são em forma de cartas que a velha senhora escreve para uma amiga querida, terapeuta junguiana. Em uma dessas cartas, Alice descreve uma brincadeira de infância, dessas de Natal ou de Páscoa, onde as crianças recebiam um longo fio, cheio de nós, amarrados em árvores, pedras e arames. A tarefa de cada criança era a de ir desatando esses nós, um por um, até chegar ao fim da trilha desse fio de Ariadne (tema recorrente desse blog nesses últimos tempos). No final desse fio, havia um presente. A autora fez uma alusão à essa brincadeira como uma metáfora da própria vida: vamos seguindo o caminho, geralmente escrito em linhas tortas e nem sempre certo, temos que desatar milhares de nós em todo o percurso. Diz o Dalai Lama que a vida é uma sequência de ciclos de problemas, acabou um, lá vamos para o próximo e quem sou eu para discordar. Procuramos desatar nó por nó, alguns melhor, outros ficam pelo caminho. O presente final, qual será? A sabedoria, alguma paz de espírito, a morte? Na dúvida, vamos desatando, um nó após o outro. Mas tem sempre um que é o mais difícil, o mais duro, o mais teimoso dos nós. É o grande Nó. Todos temos um. Uma pedra no sapato, uma questão que não conseguimos resolver, um sonho que teima em não se realizar, uma dor que fica escondida em nossa alma que não dá para sanar. Por exemplo, um nó muito abordado nesse blog, que é o nó do encontro amoroso. Mulheres bonitas, inteligentes, cheirosas, que passam anos procurando um encontro verdadeiro, que desate o nó da solidão. É uma longa e muitas vezes infrutífera jornada, cheia de caixas de chocolate e lenços de papel usados em sua passagem. A busca do encontro, da sorte, dos nós que finalmente sejam desatados.
Não é incomum ter apenas o silêncio para oferecer quando, de tanto arrochar os nós, eles se tornam mais e mais apertados. Quanto maior o desespero, o esforço cego, a tristeza em torno do tema, mais forte e impenetrável fica o nó. Quanto maior a expectativa de um encontro de verdade, mais os candidatos a Mr Right batem em retirada, deixando a candidata aos papéis de Jennifer Aniston nas comédias românticas em frangalhos, com mais caixas de bombom e de lenços de papel consumidas e jogadas envolta da cama.
Não tenho uma fórmula que se aplique a todos os casos, mas algumas sugestões dá para fazer:
1 - O Nó é fascinante. Apegar-se a ele é muito fácil. Fixar-se em um amor impossível, ficar amarga e cuspindo ódio são atitudes que pioram o nó, muito. A vida e a energia precisam de movimento. A energia fixada precisa ser convertida em afeto. Coloque amor em tudo, até na espera. Fácil de fazer? Não. Nelson Rodrigues criou uma categoria humana, a dos Idiotas da Objetividade. Há as Idiotas Realistas, cheias de estatísticas para provarem que os homens legais estão casados e os avulsos não valem a pena. A chance ponderal de se encontrar uma pessoa legal é baixa e por aí vai. O Outro é fonte de sofrimento e desencanto, então o Nó é apertado pelo medo. Então lá vai uma observação infrutífera: não se fixe. Não passe o tempo todo falando nisso, não solte piadas de autocrueldade e autocomiseração em torno do tema. Mantenha em estado de abertura, estado de aprendizagem, respirando forte na fenda entre o desejo e o tempo que ele leva para se manifestar. Não lamente, não implore e sobretudo, não fique reclamando. Que todo dia seja um dia de abertura, de afrouxamento desses nós, atés eles se desatem por si mesmos. Parece impossível, dane-se o impossível (quase usei outro verbo).
Vou falar um pouco mais disso no próximo post. Não percam.

3 comentários:

  1. Fiz a leitura desse livro anos atrás, quando iniciei a terapia, foi uma indicação sua. A Astrologia é a minha base, comecei a estudar ainda na minha adolescência e depois veio com o tempo a Mitologia, Alquimia e a Psicologia.
    Essa historia sobre o fio com vários nós me fez lembrar de uma imagem de um ser mitológico que vi durante uma aula de Alquimia : a imagem de um homem muito velho "um eremita", sua veste era toda feita de "nós", representação do Deus Ogmios (celta) representa a eloquência, e de sua boca saem correntes que se prendem aos ouvidos das pessoas, fazendo uma relação com o Coagulatio ( é estar num estado prisioneiro de uma forma), a matéria nada mais é que energia coagulada como a vida se apresenta, viver é isso, Alquimia : dissolver e coagular. Na psicologia a idéia de coagulação é o nó, só com crises e mortes é possível desfazer os nós. Na Astrologia a estrela Algol no mapa, encontrada na constelação de Perseu à 26 graus do signo de Touro (representa a causa de fixação, energia parada). Coagulação é como Nó, “nós” que paralisam a circulação sanguínea e nossas energias psíquicas, indo mais além, são nossos desejos que nos coagulam, emoções , e hábitos que se fixam. Desatar cada um destes “nós” é permitir que a energia flua.

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  2. Agora falando sobre o "nó amoroso", a busca do encontro, decididamente é um tema complicado de tentarmos dar saídas, porque nós inventamos a pessoa amada: na poesia, na música, tudo fica além das palavras, vai muito além do nosso mental. Decepções, pois o outro deixa de corresponder a imagem que você criou. As paixões geralmente terminam em morte, porque a pessoa não é o modelo criado. Odeio e Te Amo: tema da paixão, um se anulando no outro. O mito de Don Juan é isso, ele faz todo mal, vive a sua sombra em toda sua plenitude.
    Ah! Não lembro quem falou essa frase, mas eu aprecio como verdade: "O amor é uma eternidade que tem vida breve"...
    Você fala no sofrimento , no nó da busca do encontro amoroso, e eu pergunto agora, quantos casais já não vivem a experiencia do desalento amoroso, mas preferem não falar sobre a possibilidade de um fim porque é mais fácil ficar na acomodação, e aparente segurança"?
    ... Sim, Nós criamos internamente o ideal, mas não funciona perfeitamente.
    Deixo um tema subversivo para finalizar. Afrodite através da poesia de Horácio:
    Lema: Colhe o teu dia, você não tem olhos para nada. Aproveite teu dia, pensando o mínimo no futuro. O presente é eternamente real.


    * A aceitação mútua leva ao Carpediem.*
    ...

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  3. Falam muito em manter o foco, atualmente.Nos mais variados setores da vida.
    Como se precisassemos ficar sempre alertas, atentos com o mundo e conosco mesmos.
    Mantendo o foco até para encontrar "pessoas certas".
    Na verdade, se há pessoas certas, elas estão entre as pessoas erradas tb, misturadas, vivendo suas vidas, focadas em encontrar suas "pessoas certas", talvez.
    É irritante, estressante precisar ficar sempre alerta para qualquer coisa que seja.
    Gostei da sugestão de colocar amor em tudo.
    Ficar em paz, vivendo...
    e eu ainda acho que as"pessoas certas"podem se tornar" pessoas chatas" nas nossas vidas.
    Viver e deixar acontecer, caminhando, desatando alguns nós e permitindo que outros se desatem...
    a seu tempo ou sozinhos, ou com a ajuda de alguém, mas sem se desesperar...

    Muito bom!!
    Abraço,
    Sonia

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