sábado, 17 de setembro de 2011

Tempo, tempo, tempo, tempo

"És um senhor tão bonito, quanto a cara do meu filho/ Tempo, tempo, tempo, tempo/ Ouça bem o que te digo/Tempo, tempo, tempo, tempo/ Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos/ Tempo, tempo, tempo, tempo..." (Caetano Veloso, "Oração ao Tempo")


Outro dia, finalmente, recebi uma vaia de uma leitora desse blog, que preferiu fazê-lo pessoalmente, não nos comentários. O post sobre Penélope não a ajudou em nada. Pelo contrário, deixou-a mais irritada. Para quem não leu, o post é de Agosto desse ano e nele eu falo sobre a esposa de Ulisses, ou Odisseu, que vaga pelos mares por muitos anos para encontrar o seu caminho de volta à sua terra natal e à sua amada esposa, Penélope, que o espera por vinte anos. Enquanto espera a volta de Ulisses é constantemente pressionada pelos pretendentes para escolher um novo marido. Ela promete fazer a escolha quando acabar de tecer uma imensa tapeçaria. Só que ela tece durante o dia e desmancha o que teceu durante a noite. Penélope não faz por menos: custe o que custar, dure o que durar, vai esperar pelo seu amado. Mesmo que isso lhe custe toda a vida. Tudo isso foi relatado na "Odisséia", clássico grego de Homero.
Entendo o porque da vaia ao meu post. Ela já está cansada de esperar, tecendo a espera em seu dia a dia e vendo as frustrações com os homens se sobrepondo, uma depois da outra. Muitos pretendentes se parecem com o homem desejado, mas não aguentam dez minutos no sereno. Em que mares que andam perdidos os homens e as relações amorosas? Como encurtar a sua longa e sofrida espera, assim como de tanta gente que eu conheço?
Para essa leitora, a idéia de ter que esperar tanto tempo é insuportável. E ela não é uma exceção. Não há fonte maior de angústia do que a espera. A passagem infrutífera do tempo, nas situações em que nada resta senão sentar e esperar. Em nossa época, onde todos são tangidos a serem próativos, vendedores pitbull ou buscadores vorazes, a idéia de tecer o seu dia a dia, um dia de cada vez, parece insuportável. Onde estão os caras, que não aparecem?
Entendo que o Tear de Penélope é uma metáfora para a passagem do tempo. É também uma metáfora dos micropontos que tecemos o nosso destino, um dia depois do outro. Somos criados dentro de uma mente profundamente intencional, não damos ponto sem nó. Penélope tece a tapeçaria durante o dia e o desfaz à noite, esperando por algo que não consegue acreditar que virá. É quase incompreensível para nós, pós modernos. Como passar anos sem tomar nehuma atitude que não esperar?
Eu acho que ela, Penélope, é uma metáfora do Desejo Inquebrantável. Eu quero e acabou, se a realidade me contraria, pior para a realidade. O que garante a ela que seu amado não morreu em sua viagem que foi uma verdadeira Odisséia? Nada. Ela só conta com a intuição de que aquela é a coisa certa de se fazer.
No tempo que leva para alcançar nossos sonhos, ou não alcançá-los, passamos um longo tempo tecendo nosso caminho. Algumas vezes nem lembramos mais o que estávamos procurando, mas continuamos esperando encontrar com a certeza e o realizado. Entendo que a espera é longa e muitas vezes cruel, mas continuo aconselhando a minha leitora a não desistir de sua busca nem se desesperar com a espera. Mire-se no exemplo daquela mulher de Ítaca. Não desista enquanto não receber o que está esperando.

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