quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Mudança IV

Há poucos anos fomos ao sítio de um querido amigo, que é um médico excepcional, um desses poucos que não é apenas um simulacro de técnico, como hoje está na moda, mas um verdadeiro curador. Depois do churrasco e de alguns goles de cachaça de alambique da região, quando a conversa vai ficando cada vez mais estranha e, no nosso caso, cada vez mais metafísica, ele me vira e me pergunta se eu acreditava que as pessoas poderiam REALMENTE mudar (o grifo é meu). Apesar do adiantado estado etílico, eu me lembro da resposta, sim. Acho que as pessoas são formadas dentro de uma estrutura. Um hardware. Essa estrutura é formada desde a concepção, pela carga genética e é realmente modelada pela interação com o meio ambiente, inicialmente pela família e depois pelo meio social. Essa estrutura se mantém e é muito difícil e até perigoso mudá-la. Mas, como já teclei bastante nos outros posts, o nossos softwares, como Sistema de Cranças, Medos, Preconceitos podem e devem ser mudados, todo dia, mediante psicoterapia ou não.
Já mencionei em outro post um colega que também há um par de anos falou à Veja, nas páginas amarelas, que psicoterapia não tem efeito curativo, só de autoconhecimento. Podemos discutir se o autoconhecimento em si já não é uma forma de cura, mas deixa para lá. Certas crenças impossibilitam mesmo o início do debate. A psicoterapia permite a modificação profunda de coisas como Sistema de Crenças, Feridas e Traumas antigos e Defesas que asfixiam nosso desenvolvimento. Existem casos que respondem muito mal à psicoterapia? Sem dúvida, existem vários casos onde há mesmo uma contraindicação de psicoterapia. Mas tenho a experiência da eficácia, então não vai ser qualquer blábláblá que vai modificar essa convicção. Houve uma entrevista que Jung deu, se não me engano à BBC, em que o repórter perguntou se ele acreditava em Deus. Ele respondeu: "Eu não acredito, I Know". Esse "I Know" foi traduzido ao Português como "Eu sei". Não concordo com essa tradução. O "I Know" de Jung queria dizer "Eu experimentei. Eu vivi Deus". Não é uma crença, é uma experiência. As pessoas falam dentro da sala do consultório: "Preciso aumentar a minha fé". Como se a fé fosse uma aplicação. Deposite tanto em Renda Fixa e o resto você aplica na Fé. Fé é uma experiência. Você tem a experiência e passa a acreditar nela. Minha fé (e a de Jung) na psicoterapia é baseada na experiência. Quem quiser descrever a sua experiência nos comentários do blog, considere-se convidado, ou convidada. Pode falar sobre a experiência da psicoterapia ou da experiência da fé, já que ambas estão mencionadas aqui.
Para mudar, é preciso experimentar.

3 comentários:

  1. "Eu conheço Deus". A experiência é com alguém que cuida e cura a ferida. Sozinhos não podemos. Só dá pra ter experiência se for de con-tato com alguém que cuida, afaga, aquece, nutri. É o que faz a vida valer apena. Experimentar a bondade do cuidado e conhecer e crer no Deus de Bondade e Cuidado.

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  2. A experiência em Deus : Próprio da experiência místico-amorosa, caminho de busca do sufi: a embriaguez do amor que faz do místico um "louco de Deus" como eram São Francisco de Assis, Santa Tereza d'Avila, Santa Xênia da Rússia e também Rumi. Num poema do Rubai'yat diz: "hoje eu não estou ébrio, sou os milhares de ébrios da terra. Eu estou louco e amo todos os loucos, hoje".
    Para Rumi: amor é expressão da nostalgia da separação original... é um "estado de alma."
    ... Khalil Gibran "Quando um de vós ama, que não diga:“Deus está no meu coração”, mas que diga antes:"Eu estou no coração de Deus”.E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,Pois o amor, se vos achar dignos,Determinará ele próprio o vosso curso.O amor não tem outro desejo Senão o de atingir a sua plenitude.".
    Essa plenitude acredito ser a busca de completude que Jung propõe em nossa jornada de individuação, podendo ser descoberta e conquistada gradualmente num trabalho psicoterápico, e a partir do momento que você vivencia esse encontro com o Deus dentro de ti, você sabe o que é ter Fé daí em diante.

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  3. Estava fazendo uma caminhada ao ar livre e pensando o que poderia escrever sobre uma experiência de fé.
    Foi quando passou por mim voando, uma mamangava.
    Ela passou três vezes na minha frente, com todo "aquele peso" e forte zumbido para suas pequenas asinhas.
    Imediatamente abri um sorriso e quis relatar esse episódio aqui.
    Mamangavas são uma espécie de abelhas polinizadoras e bem grandes em tamanho.Parecem até meio desajeitadas ao voarem, pois tem asas pequenas e seu vôo não é nada elegante.Bem, parece que segundo as leis da aerodinâmica , elas não poderiam voar.Mas esqueceram de contar isso as mamangavas!!
    A sensação que eu tive ao vê-la me faz sentir a experiência de fé.
    Assim como quando vejo ou sinto uma série de coisas na natureza que me encantam imediatamente e "roubam" minha atenção,consciência de tal forma que sou arrebatada positivamente pela cena.É como se a cena entrasse em mim.E o saldo é um engrandecimento imediato, um estado de espirito expandido e glorificado.
    Isso é uma boa experiência de fé que tenho, dentre outras formas de senti-la.

    Abraços
    Sonia

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