domingo, 11 de setembro de 2011

O Segredo (Não é Segredo)

Eu nunca li "O Segredo", nem o novo blockbuster de Rondha Byrne (acho que é assim que se escreve) "O Poder". Assisti, sim, o DVD, cheio de pataquadas, sobre o tal Segredo. E não assisti só uma vez, não. Vejo vários filmes fazendo a minha bike ergométrica, esse é um deles. Pode parecer uma contradição para quem vive ironizando o "Faça assim, faça assado" dos livros de autoajuda, que estão substituindo nas prateleiras os livros de Psicologia. "O Segredo" tem vários daqueles gurús berrando que tudo na verdade é muito fácil e está debaixo do nosso nariz. Basta Pedir-Esperar-Receber com fé e alegria, eles dizem. No meio desses gurús e animadores de auditório tem gente séria e sincera que conseguiu realmente transformar a própria vida a partir de uma Reprogramação Profunda de seus velhos esquemas de sofrimento.
Estou lendo um dos dez livros que leio simultaneamente, sobre Alquimia Chinesa, o autor não fala isso claramente, mas é esse o assunto. Ele descreve os ciclos de eterno Retorno em nossa vida, esquemas que repetimos infinitamente em nossa vida que mantém o nosso neuroticismo e apego. Acho que esse modelo que ele descreve é melhor e mais completo para descrever o processo ensaiado pelo "Segredo". É o modelo Observar-Sentir-Pensar-Agir-Aprender. Vou tentar descrevê-lo.
Primeiro, a Observação. É muito fácil que isso nos fascine nos bebês, como eles são atentos e observam tudo com aqueles olhos vivos de novidades.É a primeira fase, observar o que queremos. Depois da Observação, vem o Sentimento. Sempre temos um sentimento evocado pelas imagens, sons, cheiros e gostos que passam ou não pela nossa consciência. Depois do Sentimento, vem o Pensamento, que organiza o que obervamos, junta com o que sentimos para processar toda a experiência e transformá-la em entendimento. O Pensamento produz a ação, ou, pelo menos, é bom que assim seja. Baseado na experiência e no sentimento, vamos para a Ação. O resultado final disso é o Aprendizado, que nos traz a Compreensão de todo o processo, para começarmos a examinar de novo nossas observações, sentimentos e assim por diante. O ciclo se repete indefinidamente, aumentando o nosso aprendizado, ou não.Para muita gente, muita mesmo, o processo pode ficar enroscado em uma de suas fases: O Observador que vira um vouyer; o Sentimental que passa a vida choramingando, ou explodindo antes da hora; O Pensador que tudo sabe a respeito de tudo mas não consegue tomar nenhuma iniciativa; O Fazedor que é pau para toda obra mas não consegue nunca ter uma visão ou um Pensamento claro sobre as coisas que acabou de fazer. Resumidamente, quem é bom em uma dessas fases mas não consegue integrar e principalmente Compreender os processos, acaba ficando preso em algumas fase ou em todas.
Esse modelo é mais completo do que o do "Segredo". Podemos observar a vida e o que desejamos. É perigoso ficar fixado na Forma. Falamos ontem sobre o Nó e a fixação no mesmo. Podemos passar muitos anos dando cabeçadas no Nó dizendo: "Ele não muda, ele não muda!". Pois bem, observando e conhecendo o Nó, ou o que não conseguimos resolver, é um começo. Os Sentimentos envolvidos são importantes. Temos uma tendência inata e profunda em tentar evitar as decepções. Quanto maior o quantum de decepção e dor que cerca uma questão, maior a dificuldade de enfrentá-la. Veja quantas mulheres interessantes cometem todos os erros possíveis quando um candidato a Príncipe aparece. É um trabalho muito grande enxugar esses sentimentos e essa carga de dor envolta do Nó. Os Pensamentos derivam dessas duas fases iniciais. Não dá para operar nos Pensamentos sem limpar os sentimentos. Uma das coisas legais de "O Segredo" é justamente ensinar a produzir "PenSentimentos" melhores (o termo é meu, viu gente. Ainda vou virar um gurú de autoajuda). Vibrar em imagens melhores, para ter Ações também mais corretas e objetivas. Aceitar convites, arriscar pedidos, chutar a bola que está pingando, mesmo que o chute vá para a Geral. Em suma, tolerar as decepções e os erros, senão é melhor nem sair de casa. Finalmente, compreender todo o processo e reiniciá-lo. É mais humano e prático do que Peça-Espere-Receba. Mais alquímico, como a Luciana colocou em seu comentário ao último post.
Um lugar bom para aplicar esses princípios é dentro do processo de psicoterapia. O terapeuta acompanha a sua aplicação e aprendizado. É mais fácil achar que algum workshop de fim de semana vai poder mudar tudo. E de fato, podem mudar algumas coisas, senão não teriam tanto sucesso. Mas para completar o processo, é preciso tempo e a colher pacienciosa do terapeuta mexendo o tacho. Em cada fase do processo.

2 comentários:

  1. Marco Antonio,já deve saber que Se der corda eu agarro, prefiro isso aos "Nós",rsrs, postei no meu blog e compartilho aqui o que germinou das minhas confabulações ao ler suas últimas histórias aqui:

    Nós como a Lua temos as mudanças, o vai e vem, o caráter transitório. Algo se agita e que escapa a nosso controle.. Este caráter é iminantemente individual, pessoal, embora possa parecer similar, mas a diferença é como eu sinto. Estas idéias formam núcleos, coágulos dentro de nós, onde se agregam partículas por cada experiência que passamos, que estimulam estes núcleos... formam-se "nós", um local de fixação, de a vida como lugar de agregados; algo não flui, local "ponto morto".

    Na mitologia o Deus Hefesto representa exatamente esta questão, por ele representar o Deus das Soldas, algo nos prende. Nascemos eloquentes e nos tornamos retóricos. É preciso muita paciência para desatar cada um dos Nós, na psicologia os Nós passam a ser nomeados de "Complexo" : verbo latino Complector- abraçar, reunir, cercar, aglutinação. Um lugar de coagulação, uma condensação de represar os sentimentos. Estes nós parecem adquirir vida própria, muitas vezes fazendo uma força contrária contra aquilo que queremos, pois ele começou a adquirir vida própria. Remete-nos ao tema do duplo, que se opõe ao meu Eu consciente, a sensação é de que a nossa casa esta sendo ocupada, desta forma há uma ruptura com a unidade. O inconsciente vem antes do consciente, e uma tomada de consciência implica em uma separação, uma ruptura. Estes nós trazem obstáculos para que eu me separe, são sempre quase reconhecidos intelectualmente, mas não conseguimos que sua energia seja canalizada, dissolvida... é comum muitas vezes diante desta iniciativa de separarmos irmos em busca de ajuda, buscar a terapia por exemplo, mas Não basta reconhecer o problema intelectualmente é preciso reconhecer o problema afetivamente. A mudança começa quando eu mudar a maneira de sentir o complexo, o Nó, o coágulo, não havendo mudanças no sentir, o nó passa a crescer, adquirindo um corpo próprio, formando uma espécie de outro eu, um símbolo conhecido é o do dragão devorador. Esse outro eu toma conta de nós, podemos constatar isso no clássico literário de Kafka "Carta ao meu Pai".

    Jung coloca que o inconsciente existe à priori, um vasto oceano de onde emerge uma pequena ilha que é o nosso consciente; que com o passar do tempo tentamos dar uma ordem, isso traz a idéia da Cosmogonia ( a vida começa pela imersão das águas ), a imagem do Iceberg é perfeita pra entendermos o funcionamento. Para Jung a ameaça é constante, o inconsciente não é estático e rígido, é dinâmico, coagulando e dissolvendo-se, ele opera de maneira compensatória e complementar com o consciente..

    Tomar consciência é algo que se paga muito caro, é o que nos traz sentido, quem não faz esse processo pode-se se equivaler a uma coisa, quase uma rocha. A experiência humana esta encerrada em nossa consciência, somos algo a sempre, a se fazer, algo que exige o esforço perpétuo - Mito de Sísifo, caso contrário nossa vida torna-se injustificada.

    LúKhayyám

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  2. Olá Dr Marco. Descobri seu blog através dos seus artigos como mente grande mente pequena. Sou uma pessoa apaixonada pela psicologia de Yung e acho seus artigos muito interessantes. UM grande abraço.

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