sábado, 21 de abril de 2012

Imagens do Incosciente

Foi nas últimas décadas do século XIX que o neurologista Sigmund Freud aprendeu com um neurologista francês, Dr Charcot, que usando uma nova técnica, chamada Hipnose, as mulheres diagnosticadas com uma Paralisia Histérica voltava a se movimentar espontaneamente , sem ter consciência do ato. Foi Freud que imaginou que aquele sintoma seria gerado por uma tensão, um conflito inconsciente não resolvido, gerando uma espécie de colapso e uma paralisia sem base neurológica. Foi esse achado que criou no senso comum a idéia que haveriam sintomas “físicos” e sintomas “psicológicos”, os últimos seriam uma espécie de fantasma na máquina que poderiam se manifestar, assim, do nada.
Muitos anos e muitas pesquisas vieram nesse século que nos separa das histéricas de Charcot e Freud vai sendo classificado como ultrapassado e suas teorias tratadas como um resíduo da época em que a Neurociência engatinhava. Pois ontem me lembrei do bom e velho tio Sigmund, quando usei o velho movimento ocular horizontal, o mesmo que Freud usava para induzir um estado hipnótico ou de transe em seus pacientes. Uma cliente não conseguia entender uma Fobia relativamente rara, um medo de minhocas, que se renovou quando mexia em um vaso. Pois fizemos uma visualização usando o movimento ocular, e fomos voltando em sua linha do tempo, até que surgiu uma imagem aterrorizante. Uma menina de pouco mais de cinco anos, ela, olhando para o seu irmão no banheiro. Para quem está pensando que vamos recuperar alguma cena de abuso sexual, felizmente, não é o caso. O menino estava vomitando e colocando solitárias pela boca e nariz. A paciente se contorcia de nojo e aflição, como se estivesse vendo a cena com o horror de uma criança de cinco anos.
Freud chamaria essa imagem de “Cena Primária”. Uma imagem que define um sistema, uma associação irracional entre a solitária, o banheiro e as minhocas. Esse medo acompanhou e tolheu a sua vida por décadas, sem nenhuma pista para poder identificar a sua fonte, nenhuma lógica interna em uma mulher adulta com medo de minhocas. Um freudiano mais recente identificaria uma repressão de sua sexualidade e as minhocas, uma imagem fálica. A minha paciente seria uma histérica moderna segundo esse ponto de vista, e seu medo representaria a repressão e o fascínio pelo Falo/Minhoca. Um neurocientista apontaria a hiperatividade das áreas límbicas responsáveis pelo processamento do medo gerando um medo irracional e incontrolável de uma criatura inofensiva, embora um pouco pegajosa. Algumas medicações com ação nessas áreas e tudo estaria resolvido.
Décadas e décadas de encrencas entre os dois tipos de profissionais, Décadas . Pois uma técnica muito simples, baseada no movimento dos olhos, e vamos cavocando cada vez mais fundo nas redes neurais, onde estão algumas cenas bobas para um adulto, mas perfeitamente aterrorizantes para uma criança, como um irmão querido expelindo lombrigas. Ao chegarmos nessas cenas, podemos entendê-las, transformar as imagens do medo. É ou não é uma diversão?

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