quinta-feira, 5 de abril de 2012

Os Três Princípios e Você

Após a postagem do último texto, recebi algumas indicações fora do blog de que alguns leitores não entenderam p...nenhuma do que estava escrito. Brahma, Vishnu, Shiva, como assim? O que uma mitologia milenar como as velhas histórias hindus podem interferir na minha maneira de ver o mundo? Bom, vamos tentar explicar de novo.
Recapitulando: Brahma é o princípio da Criação absoluta; Vishnu transforma essa Criação Absoluta em Coisa, é o princípio da Consolidação; Shiva é o princípio da Transformação, removendo, destruindo o velho para dar origem ao novo. Esses princípios são manifestos em toda a Natureza e em nosso dia a dia. Por exemplo, no sangue que corre em nossas veias e artérias. A Medula Óssea tem a ver com o princípio da Criação/Brahma: ele produz as células multipotentes, que podem se transformar em todos os maravilhosos componentes celulares de nosso sangue, glóbulos vermelhos, brancos, plaquetas. É exatamente o princípio das Células-Tronco: são células de potencial absoluto, que podem se transformar em qualquer tipo de células, abrindo imensas possibilidades para a Medicina. A Medula Óssea, que é diferente da Medula Espinhal, produz as células de forma constante, despejando-as na circulação. Vishnu é o princípio da consolidação, que se manifesta no sangue, dentro dos vasos. É lá que as células vão se diferenciar e amadurecer, tornando-se uma pequena parte de uma gigantesca orquestra. Quando o seu tempo chega, as células antigas que perderam a sua função e seu uso são removidas da circulação através de Shiva, o Baço. Há uma seleção natural de todas as células que passam por ele, que retém e elimina as células fora de ordem.
Se alguma dessas funções é aumentada ou diminuída, graves problemas ocorrem. Em nosso organismo celular, ou em nosso organismo psíquico, ou no organismo social. Excesso ou falta de qualquer um dos princípios causam desequilíbrios e doenças.
Uma leitora desse blog, Sônia, fez uma paralelo respeitoso com a Trindade Cristã, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O Pai é o princípio da Criação Absoluta, o Filho torna manifesta a maravilhosa criação e a conexão com o Pai, mas o Espírito Santo não tem a função arrasa quarteirão de Shiva. O Espírito Santo faz a síntese, a manifestação invisível da união do Pai e do Filho. A função de Shiva é vista em nossa cultura como o Maligno, aquele que vem destruir tudo, sem nenhuma compaixão. Jung escreveu um livro impressionante sobre esse aspecto da divindade e da vida, o “Resposta a Jó”. Jó é um personagem bíblico que experimenta na pele o aspecto Shiva da vida: da noite para o dia, Jó perde os seus filhos, a sua fortuna e depois a sua saúde, e passa todo o livro de Jó lamentando o Absurdo e tentando entendê-lo. Fala-se muito da paciência de Jó, mas o fato é que ele passa a sua busca toda bastante emputecido. Mas não vou falar dele nesse post. Jung escreveu sobre a perplexidade de um homem justo que vê a sua vida devastada pela tragédia. Esse é um aspecto de nossa relação com a vida e com Shiva. O fato de não reconhecermos o aspecto Shiva da vida que provoca as profundas crises de fé em muita gente. Como Deus pôde permitir a morte de milhares de pessoas em um terremoto? O terremoto é um aspecto, uma faceta do Princípio representado por Shiva. Pensamos que podemos contê-lo, mas não podemos. Conta a história que quando um dos cientistas que trabalhou na confecção da bomba atômica, se não me engano Oppenheimer viu um teste nuclear, balbuciou aterrorizado que agora ele era Shiva, o deus da Destruição. Mas isso é uma injustiça com Shiva. Ele não vem para destruir, mas para Transformar.
Espero não ter aumentado a confusão.

2 comentários:

  1. Caríssimo.
    Muito obrigada!
    Feliz Páscoa!!!!

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    1. Olá Spinelli,

      Seja lá o nome que isso tenha (Shiva, etc), realmente o maior drama da vida é esta falta de controle do que pode acontecer, do futuro. Várias coisas acontecem sem nenhuma explicação, sem piedade, e muda totalmente a nossa vida. Apesar das pessoas procurarem um significado para as tragédias e sofrimentos na vida; parece muitas vezes, não existir significado.
      Nesta Sexta Feira santa, pré Pascoa, talvez seja o momento para esta reflexão.
      Boa Páscoa!
      Lúcia Andrade

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