quarta-feira, 18 de abril de 2012

O Amor em Tempos de Facebook

Aquele ditado "Longe dos olhos, longe do coração", ficou completamente obsoleto em tempos de Facebook. Hoje você pode acompanhar em tempo real todas as peripécias amorosas de seu ex. Isso acrescenta alguns mililitros de lágrimas aos nossos divãs, pois as pessoas podem experimentar uma dupla ou uma tripla rejeição, tudo isso mediante um click. Sabe aquele cara que te fez sofrer, apareceu e desapareceu de sua vida umas trinta vezes e, ao ouvir um dá-ou-desce salta fora com aquelas frases clichê, tipo "Não é você, sou eu", ou "Não consigo me ligar a ninguém, não consigo me entregar"? Pois o cara fica embaçando a vida de uma mulher bonita, interessante e com questões de autoestima por meses e vai embora dizendo que não sabe amar. Duas semanas e várias caixas de lenço de papel e de chocolate depois, a moça resolve dar uma rápida e fatal espiada no Facebook do cara, só para tentar detectar algum sinal de tristeza pela quase relação encerrada. Lá está o Mister "Não consigo amar ninguém" com a sua nova namorada, cheio de posts repletos de arrulhos de amor. Nossa querida obsessiva amorosa vai entrar no Facebook da tal namorada, onde tem infinitos posts de amor e um "Relacionamento Sério" cravado na tela. Muitas vezes nosso candidato a Romeu estava já saindo com a atual pombinha enquanto enrolava a pombinha anterior. Isso é que é humilhação.
Estamos na era da genômica. Daqui a alguns anos, os pacientes vão preencher a ficha de admissão apenas colocando o dedo no scaner, onde vai aparecer todos os dados dele, inclusive o seu genoma. O médico já vai saber quais as doenças hereditárias que podem estar desenhadas e qual o perfil de medicamento mais adequado ao paciente. Pelo menos é isso que as pessoas fantasiam, um determinismo genético absoluto. Isso é, claro, uma bobagem. Um estudo que eu li mostra que o genoma pode prever muito pouco do que vai acontecer com o paciente, pois a interação entre genes e meio ambiente é que é a alma do negócio. Conversar com o paciente não vai sair de moda, felizmente, embora seja prática em desuso em alguns consultórios. Mas esse não é o assunto do post.
O que seria realmente legal seria a Genômica estudar a compatibilidade genética dos candidatos a namorados. Vivo pensando em formas de ficar rico no mole, então podemos captar investidores para esse projeto: vamos fazer um site de encontros em que as pessoas coloquem o rosto dos pais, ou das figuras parentais e dos últimos parceiros. Colhemos um gota de sangue para examinar a compatibilidade genética dos casais e marcamos encontro, baseados em características físicas e cheiros, gostos e genes comuns. No livro (que eu adoro) "O Analista de Bagé", Luís Fernando Veríssimo imagina um churrasco de final de ano dos pacientes do analista de Bagé. A pelada, por exemplo, não vai ser entre casados e solteiros, mas entre sádicos e masoquistas, que aí ninguém reclama. Podemos parear em nossos site de encontro essas "compatibilidades", então.
Tem um cliente meu, engenheiro, que soltou em uma sessão: "A vida é um mistério, não uma linha de montagem". Pois os casais se encontram, e desencontram, dentro desse campo de mistério. Mas quando alguém chora na sessão se perguntando por que o amado e a amada nunca deu certo com eles e se amarrou com a primeira ou o primeiro que apareceu, postando imediamente seu amor nas redes sociais, eu respondo, na maior cara de pau: "É uma questão de compatibilidade genética".

4 comentários:

  1. Acho que homens e mulheres continuam os mesmos de antes das redes sociais e dos sites do tipo 'par perfeito'. Apenas agora as características obsessivas encontraram uma forma de fácil manifestação. Talvez até o boom desse tipo de comunicação não presencial seja um sintoma social de nossa obsessão e compulsão. Sem vida real faz-se uma fixação na 'vida virtual'. Um esvaziamento de contatos pessoais e busca de alguém que não existe.

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  2. Dr. Marco Antonio ... As candidatas casamenteiras cada vez mais estão buscando explicações, soluções em seus processos de psicoterapia para amarrar um homem em suas vidas. Parece que é algo vital, uma necessidade de sobrevivência, auto afirmação, auto-aceitação. Uma epidemia que não tem cura para a grande maioria das mulheres.
    Os homens por sua vez são considerados pelo sexo oposto os eternos vilões da história,interessante pois são cuidados, gerados desde o início na grande maioria pelo universo feminino são o produto mais orifinal e final do universo feminino que parece não dar certo na concepção do feminino.... ou será que é o mundo, a sociedade, a genética responsável por essa falha no resultado final? É mais que notório que o mundo avança em todos os sentidos mas certos padrões, valores e crenças a respeito de relações, uniões,parceriase trocas entre o feminino e masculino continuam a ser alimentadas pelos velhos contos de fadas e que as mulheres insistem como uma obsessão viverem em suas vidas. Desculpe as minhas palavras agora , mas haja paciência e saco para ouvir essa lamúria como o ponto ou questão, sintoma, angustia etc. no set terapeutico, com tanta coisa importante para se buscar como o auto conhecimento, satisfação pessoal, mais investimento em nossa alma.
    Bjs

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  3. A verdade.
    Por mais dificil que seja a nossa relação com a verdade das situações,ainda vale a pena.
    Com todo respeito às necessidades afetivas, sociais,sexuais,relacionais enfim, que todos temos, em graus e fases diversas,em diferentes momentos de nossas vidas, se forem pautadas em verdades, teremos menos complicações.
    O Facebook é algo que nos traz parte de uma verdade sobre as pessoas.Encarar de frente esses fatos pode ser uma adaptação necessaria ao proprio bem estar,pois o que ficava oculto, agora esta claro.
    Cada um escolhe com seu bom senso como se comportar dentro ou fora das redes sociais, mas só se está vendo com clareza o que era escondido.
    Lidar com essa verdade...um amadurecimento.

    Abraços,
    Sonia

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