quinta-feira, 7 de junho de 2012

Aprendizagem e Memória

Quando os meus filhos estavam em idade para início de sua Educação Infantil, começamos a procurar e testar os tipos de escola aqui da região, para vermos qual projeto pedagógico era mais legal, mais promissor. Encontramos uma escola que tinha um projeto encantador. O ensino seria feito por projetos: por exemplo, vamos projetar uma pequena horta atrás das salas de aula. O que é uma planta, como é o desenho de uma horta, o que fazer com as sementes, quais são os nutrientes que as plantas precisam para crescer, qual a posição que elas devem ter com relação ao sol e assim por diante. O conhecimento seria integrativo, multidisciplinar, baseado na experiência. Pagamos o valor de uma faculdade de Medicina, andamos em carros velhos por alguns anos, achando que o esforço valia a pena. Não valeu. Os professores não sabiam como se adaptar ao novo tipo de ensino, a diretora se perdeu com a necessidade de implantar o novo modelo, os conteúdos que as crianças precisavam reter não eram claros e depois de algum tempo as crianças diziam que “não tinham aprendido nada”. Depois de cinco anos, colocamos os caras num a escola tradicional, a 30 km de casa, o que em São Paulo é uma distância intransponível, eles demoraram quase dois anos para aprender a aprender, justamente o que a tal escola Construtivista dizia que faria. Organizar o conhecimento, reter novos conteúdos, usar o aprendizado em provas e aguentar professores azedos, frustrados e arbitrários. A boa e velha escola tradicional, que salvou a escolaridade deles, que estava indo para algum inferno de boas intenções, como eles costumam ser. O processo de aprendizagem precisa da obtenção e retenção de novos conteúdos. Isso depende associação, compreensão e repetição. Repetição. A vontade de alguns educadores de enfrentar o decoreba de seu passado escolar criou uma metodologia anti conteúdos, o resultado foi catastrófico para a nossa já limitada Educação. O ministro da Educação de FHC, Paulo Renato, falecido recentemente, merecia uma estátua em praça pública por ter colocado um fim no festival de burrice e veleidades. Instituindo o ENEM e o ENADE ele criou um método, cheio de limitações, é claro, mas um método de avaliar se o conhecimento está sendo transmitido e recuperado em testes. Houve um desvio no eixo das escolas desde então. Muita gente poderia balançar a cabeça e achar que tudo isso foi um grande retrocesso, que voltamos à Idade da Pedra dos testes e das crianças torturadas e focadas no desempenho, não na aprendizagem em si. O fato é que acabou-se o tempo do papo cabeça e estamos no tempo da boa e velha avaliação. Quem não gosta de ser avaliado nem de prestar contas sobre os resultados de seu trabalho e estudo, é melhor tentar o Congresso Nacional. No mundo real, temos que aprender e usar o conhecimento. E a aprendizagem não termina nunca.

4 comentários:

  1. Há coisas que devem ser mudadas sim, mas sem radicalismos.
    A educação é uma delas.Em casa e na escola.
    Mas não dá para perder algumas formas, alguns metodos funcionais enquanto outros não os substituam eficazmente.
    Aprendizagem , de certa forma exige disciplina.
    E disciplina é bom para qualquer um
    assim como o respeito...que está sendo confundido e... negligenciado.

    Abç
    Sonia

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  2. Concordo completamente, Dr. Spinelli. É preciso insistir de forma repetiva para que o repertório acadêmico seja significado e assimilado pelo aluno. Até mesmo para ser descartado mais tarde, após ter sido compreendido. A memória é um dos aspectos cognitivos mais fundamentais da aprendizagem. Entretanto, tem se dado ênfase em um certo aspecto afetivo, compreendido mais ou menos como: não frustrar o aluno, não apontar seu erro. O construtismo é uma forma de teorizar sobre a inteligência, não uma metodologia educacional. No sentido, de que aprendemos por tendência de nos adaptarmos ao meio ambiente, buscando resoluções para os problemas com as capacidade específicas de cada fase do desenvolvimento. O que foi erradamente interpretado como: não se deve interferir no processo de aprendizagem. O processo é relacional indivíduo-ambiente. O indivíduo aprende porque é capaz, cabendo ao ambiente da educação formal facilitar o processo, tornando-o desafiador.

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  3. Difícil comentar sobre isso.
    Acho que sempre fui meio CDF, então sou muito grato a eduacção tradicional que tive tanto no ensino medio/colegial e universidade.
    Sempre tive que ter ao menos media 7,0 em todos os níveis de minha formação e isso nunca foi um problema.
    Eu só fazia o que tinha que fazer. Estudar e aprender...rs

    PS: Obvio que eu tive condições para isso. Nao precisava trabalhar, etc... mas estou falando dos que tem as mesmas condições e não tem o mínimo de autodisciplina ou orientação para separar estudo/lazer/vida social, etc.

    Talvez eu seja muito antiquado para as tecnicas novas, modernas ou revolucionárias de ensino..rs

    Fabio

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  4. muuuito bom rsrs

    depois de passar pela escola construtivista hipersupermegaultra liberal em plena época de ditadura, coloquei minhas filhas num colégio mega-tradicional que se disfarça de "ensino moderno" e elas estão satisfeitíssimas, percebem o resultado dos estudos nas notas e assim ganham confiança. Estamos no ponto em que a reta faz a curva mesmo...

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