domingo, 3 de junho de 2012
Sobre Aulas e Supositórios
Bem sei que não deve ser fácil ser seguidor desse blog. Não há um tema que o caracterize, mas a superposição de vários temas que se me aparecem no dia a dia de estudos e consultório. Assuntos como futebol, relacionamentos, busca do amor, Neurociência, Psicologia Junguiana, Mitologias e por aí vai. De vez em quando, falo até de Psiquiatria. Não há como criar um público específico, mas dá para observar, agora que eu aprendi, quantas pessoas entraram em cada texto. Ontem, que eu falei de Memória Celular e Cognição do Sistema Imune, devo ter uma meia dúzia de page views. Hoje vamos fazer outra mudança de assunto, embora dentro do mesmo tema, que vou explicar.
Os dois posts tem a ver com uma aula de vinte minutos que eu dei para o meu filho, sobre Método de Estudo. É bem difícil dar essa aula para o seu filho, que pode achar que é uma aula com críticas embutidas ou a tentativa do pai psiquiatra de fazer uma lavagem cerebral ou impor as suas verdades. Diante de todos esses perigos, acho que me saí bem, falei por cerca de 25 minutos, rabiscando o que falava num caderno, para alinhavar e frisar o núcleo da comunicação. Foi bem legal, pelo menos para mim. Difícil foi ouvir que as aulas que ele tem na escola não repetem de forma nenhuma a forma de transmissão de conhecimento que foi usada.
Eu tenho um amigo que é professor universitário e durante algum tempo foi coordenador de curso. Ele tem um humor com aquela acidez gaúcha deliciosa, e cunhou um termo tão grosso quanto realista: a “Aula–Supositório”, que como o nome sugere, é uma aula em que o professor comprime uma grande quantidade de saber em seus slides e enfia esse conhecimento goela (para sermos delicados) abaixo dos alunos. Como coordenador de curso, ele fez o que pôde e o que não pôde para combater, sem sucesso, a Aula-Supositório. Pois meu filho, com aquela capacidade adolescente de transferir responsabilidades para o professor, descreveu exatamente a Aula-Supositório; uma aula em que o professor soca uma quantidade X de matéria de forma rápida e sem destaques dos pontos principais, comprimidos em uma série de slides e bola pra frente (ou supositório para frente, quer dizer, para trás).
As aulas devem ter exposições claras e que vão construindo o saber. Os pontos principais devem ser sublinhados e repetidos. O aluno deve ser mapeado o tempo todo qual é o campo de saber que está sendo abordado e onde o professor quer chegar com aquela exposição. No final, o professor deve seguir a regra dos três, ou seja, resumir os três pontos principais que devam ser base para o estudo e possível aprofundamento dos temas. Sobretudo, há um quantum de conteúdo que o aluno deve levar para casa. Ele não deve nem sair empanturrado, nem oco de conceitos, mas deve acompanhar o encadeamento de idéias como uma história com começo, meio e fim.
O relativo anonimato desse blog me garante imunidade. Se esse texto cair nas mãos de alguns professores, diriam que estou ensinando o padre a rezar a missa e que não faço idéia de como é impossível prender a atenção desses "aborrecentes" em tempos de Redes Sociais e Internet em todos os lugares. Ninguém consegue captar mais conteúdo do que um tweet de 140 letras. Posso imaginar. Mas a droga mais utilizada no planeta é a autopiedade. As aulas tem que captar o interesse, depois a Atenção, para depois chegar aos arquivos de Memória. Essa é a tarefa. Está na hora de dedicarmos mais tempo tentando cumprí-la e menos tempo analisando por que não conseguimos fazê-lo.
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Marco Antonio : Minha nota é 10 por sua BlogAula,sem a necessidade de vir acompanhada de um (supositório para frente, quer dizer, para trás), eu bem sei como é ainda estar em sala de aula e ter que ver professor fazer malabarismo para chamar atenção dos alunos em sala de aula. Talvez fosse importante eles se colocarem mais vezes em sua imaginação sentados junto dos alunos e ouvindo sua própria fala, com certeza alguns após essa experiência teriam a chance de terem maior criatividade.
ResponderExcluirEspero que o post não seja entendido como um ataque a professores, mas uma tentativa de chamar a atenção para um método de transmissão, apesar dos pesares. Bj
ResponderExcluirOlá Spinelli,
ExcluirNão é sobre este assunto, mas li um artigo do filósofo Luiz Felipe Pondé (Segunda, 04/06 na Folha de São Paulo) que achei muito interessante e gostaria de ouvir sua análise sobre o artigo(se tiver tempo, é claro).
Bjos,
Lúcia
Lúcia, vc pode me passar o link? Não estou encontrando a matéria. Abç
ExcluirOi Spinelli,
ResponderExcluirPassei por e-mail!
Bjos,
Lucia